38. Sacrifícios

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Em contraste com a tranquilidade do interior, Fortaleza parece nunca parar. Eu até havia sentido falta de todo aquele barulho urbano. Meu coração se instalou naquela cidade assim como o da Anna também o fez. Gostávamos da liberdade, do ritmo rápido, e até da correria. Isso, no começo quando viemos morar aqui, nos mantinha focados e ocupados sem pensar em desistir ou voltar atrás. Era um meio de esquecer nossos pais também. Acabamos gostando.

— Lar doce lar — diz Anna se jogando no sofá.

O apartamento nem parecia que havia ficado uma semana e alguns dias fechado. Evan levou as malas para o quarto e eu fui pra cozinha ver o que tinha na geladeira.

Voltar a rotina normal não seria tarefa fácil, mas quanto mais rápido eu o fizesse, melhor seria.

Meu celular vibrou. Era um e-mail de meu patrão. Eu havia enviado um pedido de resposta em relação a minha situação na empresa para ele na hora que eu fui para a rodoviária e agora eu tinha a resposta. Era quase certeza que eu estava demitido. Mesmo Anna ter deixado meu patrão a par de tudo. Mas vamos ser sinceros, eu mais estava ausente do que de fato trabalhando. No fundo, eu precisava mesmo mudar de emprego. Estava na hora.

Abri o e-mail. A resposta eu notei na hora que foi escrita por outra pessoa.

Sr. Kennedy

A empresa Louis sente muito sua perda. E não se preocupe, pode recomeçar o dia que quiser, respeitando seu luto o tempo que achar necessário.

Assessoria Louis

Não sei o que pensar, então tento enumerar.

Número um: estranho.

Número dois: muito, muito estranho.

Não esperava que ele me xingasse ou algo assim — ou talvez, esperava sim — mas esse tipo de e-mail, se tratando do meu patrão, é no mínimo suspeita. Mesmo escrita por outra pessoa, passaria pela supervisão dele. Sempre passava. Tudo tinha que estar a seu gosto. E definitivamente, isso não é o tipo de coisa que meu patrão apoiaria.

Respondo depois de alguns minutos.

Sr. Louis
Voltarei amanhã.

Sr. Kennedy

— Tem certeza que quer começar logo amanhã? Digo, porque não te dá um pouco mais folga? — Anna tenta disfarçar, mas eu sei que ela está preocupada.

— Não se preocupe. Eu estou bem.

Então me lembro de Júnior pela primeira vez desde que ele foi atrás de mim. Ainda me pergunto como ele pôde ser tão cruel por ter feito aquilo.

A lembrança ainda me causa náuseas no estômago, mas apenas isso. Estou disposto a não mais sofrer por ele.

Júnior Louis não é digno de meu sofrimento. Foi por isso que o expulsei naquela noite de minha casa. Ele queria mais de meu sofrimento. Esse era o seu jeito psicopata de ser. Afinal, por que mais ele atravessaria o país?

Na manhã seguinte sinto ainda mais vontade de continuar, ir em frente. Parece, que de um jeito sobre-humano consegui forças pra seguir com meu cotidiano. Então aproveito esse momento e tento voltar minha vida ao normal.

Só que normal não se aplica ao meu local de trabalho. Acho que nunca se aplicou. O escritório está pior que eu imaginava. Os dias que fiquei ausente não acompanhei as notícias. Um erro meu não ter lido antes de chegar naquele pequeno inferno.

Eu não sei como tive coragem em enfrentar a multidão de jornalistas em frente ao prédio. Só que coragem não é o termo correto e só percebi isso depois notei a teia de pessoas na qual fiquei preso. Consegui entrar, mas não conseguia sair do outro lado. Dezenas de pessoas falando ao mesmo tempo, pedindo, mandando, implorando alguma notícia de meu patrão. Eu não conseguiria dizer nada mesmo se quisesse. Literalmente eles me sufocaram. Então comecei a empurrar inutilmente as pessoas para que abrissem caminho.

O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)Where stories live. Discover now