Capítulo Cinco

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Após eu receber e não atender inúmeras ligações do Renato ele me mandou a seguinte mensagem, depois de dez dias do parque:

Não sei se você não quer atender, ou se seu telefone está com algum problema. Mas gostaria de pedir desculpas pelo que minha amiga disse. Não foi intenção minha levá-lo para magoá-lo. Pode ser fácil eu apenas pedir desculpas, sem saber o que rolou ou o que rola dentro da sua cabeça. Mas uma coisa é certa, eu gosto do Edu de antes. Aquele que ria, que brincava com tudo e era falante. Aconteceu o que aconteceu simplesmente por que tinha de acontecer, não se culpe por isso... logo entro em contato novamente para tentar me redimir. Tu vai gostar.

"Aconteceu o que aconteceu simplesmente por que tinha de acontecer, não se culpe por isso..." Essa foi outra frase que me marcou. Realmente ninguém sabia o que se passava comigo. Não é de nossa escolha sentir o que sentimos, a culpa é uma das coisas mais destrutivas que existe para o ser humano, principalmente quando um pedido de desculpa não irá adiantar. O Renato se desculpou pelo que a amiga dele disse, mas era algo que ele dizia também pelo olhar.

Isso poderia ter me abatido, poderia até ter estragado o fato de eu ter feito um café melhor do que o último... O café estava bom. Aquele era dia de consulta com a doutora Juliana, nos víamos duas vezes por mês, contei a ela do café.

– Você sabe que isso, do café, não é comprovado cientificamente né? – Disse ela como uma boa descrente que era. – O café é vilão, tira o sono e aumenta a ansiedade.

– Para a infelicidade dos cientistas, a ciência não consegue explicar e nem comprovar muitas coisas, cara doutora. – meu humor não estava dos piores aquele dia – Hoje por incrível que pareça eu vou variar... Usarei a poltrona e não o divã.

A doutra riu com a minha brincadeira.

– Um dia eu vou jogar essa poltrona fora, Eduardo. – Respondeu ela ainda rindo.

– E nesse dia ficarei contente em sentar no chão, doutora. – Rebati também rindo.

– Quais são as novidades? – Perguntou ela por fim. Contei como foi o passeio ao parque, do atropelamento

por um skate e pelo que ouvi sem querer.

– Você foi atropelado por um skatista? – Perguntou ela rindo um pouco.

– Na verdade foi uma skatista, era mulher. Eu estava atravessando e ela surgiu do nada. Quando vi estava no chão...

Lembro-me que a doutora riu muito disso.

– E o que achou da Fernanda?

– Legal – Eu não estava muito a fim de falar dela.

– Só legal? Nem bonita e nem feia?

– Ela é uma pessoa bonita, inteligente... Eu acho que o Renato a levou na intenção de eu ter algo com ela...

– E você não queria? Poderia ter sido bom pra você.

– Não me acho estruturado pra isso doutora. Ainda penso muito na Rebeca e em tudo o que aconteceu. – Eu pensava muito e aquilo me causava muita dor.

– Não conheço a Fernanda, mas em uma coisa eu concordo com ela. Você se culpa demais por certas coisas. Passa isso pelo olhar.

– Você fala isso, mas... Eu simplesmente me sinto culpado, fui culpado pelo o que aconteceu...

– Não, não foi. Se houvesse um "culpado" o fato não se chamaria "acidente". Pense nisso.

De certo modo o que ela disse me pareceu coerente.

Os Motivos para ViverOnde histórias criam vida. Descubra agora