Capítulo Vinte e Sete

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Nós conseguimos adotar os gêmeos. Não foi muito fácil, mas conseguimos. Um se chama Tomás e o outro Renato. O primeiro tem esse nome em homenagem ao senhor que era quase como um pai pra Mônica no orfanato. O segundo tem esse nome em homenagem ao meu amigo de infância.

O quarto que era somente de Paulinha, hoje é dela e dos gêmeos que dormem em uma beliche na metade azul bebê do quarto.

Passaram-se quatorze anos desde que conheci a Mônica. Hoje estamos nós firmes e fortes ainda, com nossos filhos dando muito trabalho. Paulinha, agora é apenas Paula. Com vinte anos de idade ela decidiu ser atriz, viaja todo o país com uma companhia de teatro. É raro tê-la em casa, como no dia de hoje. Tomás, o mais estudioso dos gêmeos, com quatorze anos já sabe que quer ser médico quando crescer. Já o irmão, Renato, colocou na cabeça que quer ser cantor igual a um certo cantor de Brasília que tinha o mesmo nome que ele, e fez sucesso com uma banda. Eu a frente do Jornaleco, o maior portal de notícias da internet. Estamos pensando muito em fazer o movimento inverso ao mercado e investir no jornal impresso. Pode ser maluquice, mas muito tempo passado ao lado da Mônica fez isso comigo. Sou um maluco incurável e apaixonado pelas maluquices da vida. Por falar nela, Mônica ainda é fotógrafa mas só por hobbie. O trabalho mesmo, é voluntário. Ela não ganha nada, mas juntamente comigo comanda uma das maiores companhias de palhaços voluntários do Brasil. A alegria agora não vai apenas para o orfanato e para as crianças com câncer, chega também ao lar de idosos, às praças de esportes, circos, escolas e muitos outros lugares. Inclusive eu, ela, Paulinha e os gêmeos estamos indo analisar uma nova palhaça que pode entrar para o grupo que é enorme. Essa palhacinha eu conheci quando pequena, hoje ela tem vinte e quatro anos e se chama "Emburradinha" artisticamente. Confesso que estou indo mais pela vontade de descobrir o nome verdadeiro dela do que para ver seus talentos como palhaça. Pra falar a verdade me sinto honrado em ter participado para a decisão de alguém em se tornar um palhaço. Quando dei o nome de Emburradinha a ela, eu não podia imaginar que um dia ela levaria pra vida.

O câncer há muito que deixamos para trás, Mônica está totalmente curada e com o cabelo na cor e tamanho originais.

Olhando pra mim hoje eu não consigo ver a semelhança entre o meu 'eu' atual e o meu 'eu' que se consultava com a Dra. Juliana. Essa que está quase com oitenta anos de idade e não perdeu a piada. A Doutora se aposentou há três anos e me enviou de presente o bendito divã que eu sempre recusei em me deitar. Ainda damos boas risadas. Todo ano eu mando cartões pra ela e também recebo cartões.

Os motivos para viver são muitos. Todos os dias não param de chegar. O que coloquei aqui neste caderninho de capa negra e desenhos, são apenas alguns dos motivos que consegui lembrar. Mas queria relatar aqui um último. Mônica e eu não nos casamos, mas moramos juntos há muito tempo. Tempo o suficiente para surgirem conflitos também. A Menina maluquinha é uma gata quando quer e uma leoa quando precisa. Muitos copos já voaram sobre a minha cabeça (segundo ela por falta de mira, mas eu sei que ela erra por querer). Brigar não é um dos motivos para viver, mas fazer as pazes, sim, é! Um dos melhores motivos.

Em quatorze anos descobri que olhar pra frente é bem melhor do que olhar pra baixo. Descobri que torcer por algo ou alguém também é essencial, é incrível. Descobri que o simples ato de pintar o nariz de vermelho faz com que a alegria se espalhe como uma chama. Descobri que o amor sara muitas feridas. Descobri que certos momentos de nossas vidas têm trilha sonora. Descobri que não há um por que para dançar, existem vários. Descobri que as doenças que o mundo impõe são fracas à nossa vontade própria. Descobri que a morte pode ser facilmente vencida, podemos ser imortais, é sério. Descobri que defender alguém e apanhar por esse alguém nos torna heróis. Descobri que dizer 'Mais tequila?' é bem mais divertido que dizer um simples 'Alô'. Descobri que a chuva não molha, ela toca! Descobri que ter uma família é uma das melhores coisas que existem no mundo.

Descobri também que a curiosidade move o ser humano já que ela me moveu a escrever nesse caderninho e publicá-lo como livro. Mônica disse que se eu fizesse isso também publicaria Os Motivos Para Viver dela. Veremos.

Descobri muitas coisas e muitas outras coisas existem para serem descobertas. Descobri que tudo tem um motivo para acontecer ou não acontecer. Por último, redescobri a vida.

A tal depressão eu não vejo nem pelo retrovisor. E sabe qual é a melhor prova disso? Eu respondo!

O café nunca mais saiu amargo.





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Os Motivos para ViverWhere stories live. Discover now