Oito.

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Diana era, claro, uma perfeita vadia. Não há muito mais que eu possa dizer a seu respeito. Vadia (caso você não saiba) é uma garota que pode ser descrita como meio dada ou animada demais, mas sem ser uma prostituta completa nem nada assim. Masca muito chiclete. Talvez beba demais e fume para se exibir. Chama você de bicha, veado ou punheteiro, com um adorável sorrisinho falso no rosto. Usa jeans muito apertados e decotes generosos, e não se importa muito se está com o farol ligado. Joias: moderadas a pesadas, talvez com um piercing no nariz ou na sobrancelha, para demonstrar uma originalidade rebelde. E há também a maquiagem. Às vezes, é emplastrada feito reboco, especialmente quando há acne envolvida, embora em geral as vadias não sejam nada feias. Têm apenas uma tendência a se enfear, em função do que dizem e do que fazem.

E a Diana?

O que posso dizer?

Ela era linda. Era loura.

E para lá de vadia.

— Então, essa é a Camila — disse, ao me ver pela primeira vez.

Estava mascando aquele chiclete sem açúcar que é altamente recomendado pelos dentistas.

— Oi — respondi, e Vero me deu uma piscadela. Eu sabia o que ela queria dizer. Algo assim como Nada mau, hein? Ou Você não ia dispensar, ia? Ou até, simplesmente, Belos peitinhos, não é?

Cretina.

Como você pode imaginar, saí de lá mais que depressa, porque a garota me deu no saco em uma velocidade incrível. Minha única esperança era que Vero não a levasse para me ver observando a casa da tal da Lucy. Com a Lauren eu podia lidar, porque nela ao menos havia certa classe. Certa gentileza. Mas nessa, não. O mais provável era que também dissesse que sou um pouco solitária. Ou talvez dissesse alguma coisa do tipo "vá fazer algo de útil na vida", ou repetisse uma frase já dita pela Vero, na esperança de que o carisma dela se transferisse para ela. De jeito nenhum. Eu não lhe daria essa chance. Não a essa (muito embora eu houvesse pensado, a certa altura, Nossa! Dê só uma olhada nela! A moça tinha um corpo estilo Inside Sport, sem dúvida alguma).

Mas não.

Eu já estava decidida.

Em vez de circular em volta delas como um cheiro ruim, resolvi ir ao cinema e circular por lá como um cheiro ruim.

Em um sábado frio e de muito vento em que papai não precisou de mim, vi três filmes em um dia só, antes de ficar um tempinho em Glebe e então voltar para casa. À noite, desci ao nosso porão e passei algumas horas escrevendo, sentindo tudo o que eu era se remexer e se revirar dentro de mim.

Fazia um bom tempo que estava deitada quando a Vero chegou e desabou na outra cama do outro lado do quarto. Riu um pouco, e fui obrigada a apagar a luz quando me perguntou:

— E aí, Cam?

— E aí o quê?

— O que você achou?

— Do quê?

— Da Diana.

— Bem — comecei, mas não queria lhe dar os parabéns pela garota e também não queria interferir. A escuridão ferida do quarto oscilou e tropeçou, e eu declarei: — Ela é legal, acho.

— Legal?! — Vero levantou a voz, empolgada. — Ela é para lá de fantástica, se você quer saber.

— Mas eu não perguntei nada, perguntei? Você fez uma pergunta a mim e eu respondi.

— Espertinha.

Eu ri.

— Está querendo puxar briga? — perguntou ela.

A garota que eu quero (Camren | Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora