Capítulo 1: Natanel

159 14 138
                                    

PONTO DE CHEGADA



Era uma vez um mundo em caos.

Hm, acho que comecei mal. Vou tentar de novo.

Era uma vez um país chamado Brasil, em um mundo chamado Terra, e que foi parcialmente vendido aos Estados Unidos há muitos anos para pagar uma dívida de décadas. Como se não fosse suficiente, o país também foi transformado em um grande laboratório para a "fabricação" de pessoas especiais, utilizando-se da comunidade LGBT, para um plano de dominação global mais conhecido como Terceira Guerra Mundial contra a Rússia e aliados. O Novo Governo do Brasil, instalado pelos governadores norte-americanos, tinha como estratégia alienar ainda mais a população de massa, montando um espetáculo às custas da minoria. Assim, pessoas como eu, eram caçadas e fortemente repreendidas, torturadas e feitas de ratinhos de laboratório. Entretanto, a Resistência foi criada para nos trazer de volta à liberdade, lutamos, fizemos sacrifícios e cá estamos hoje, a maioria ainda vivos.

É, pensando melhor, acho que nem assim consegui começar bem.

Suspiro resignado. Deitado, viro-me de lado e fito o ruivo que dorme profundamente na outra metade da cama. Carlo Morris está tão sereno, que eu poderia admirá-lo pelo resto da minha vida. Nem parece que finalmente conseguimos alguma paz após anos de conflito.

Bem, paz não é exatamente o termo que eu deveria usar, mas é algo aproximado.

Ergo-me, por fim, deixando meu noivo na cama, e vou até a sacada entreaberta. Uma leve brisa adentra o recinto, fazendo as cortinas ondularem. Passo por elas e respiro o ar matinal que me cumprimenta. Estufo o peito e tento ao máximo esquecer as imagens que me invadem todos os dias, nos últimos dois anos. Percebo que não será tão fácil, por isso fecho os olhos e tento induzir minha própria mente a deixar o passado para trás. As imagens de Marco, com um buraco no peito feito por mim; de Roberto, filho do capitão Nero, jogado de uma cachoeira por Lya, influenciada por mim; e de meus amigos sendo mortos naquela reunião com a presidenta Eliane Guimarães são lentamente reenviadas a algum lugar inóspito do meu cérebro. As lembranças já não são mais tão fortes como antes, porém, ainda assim ressurgem para me assombrar todos os dias pela manhã e quando pouso a cabeça no travesseiro para dormir.

Explicado agora porque não há cem por cento de paz — pelo menos, não para mim.

— Levantou cedo — assusto-me com a sutil presença de Carlo ao se aproximar de mim. Enlaça minha cintura com seus braços, cobrindo minhas costas desnudas com seu corpo atlético, e deposita um beijo úmido em meu pescoço, que arrepia. — Algum problema? — pergunta.

Chacoalho a cabeça de um lado a outro.

— Nada não, só não estava mais com sono — omito parte da verdade.

— Pesadelos?

Não respondo de imediato e isso lhe confirma o que gostaria de manter escondido.

— O mesmo de antes?

Engulo em seco e afirmo. Quando comecei a relembrar cada coisa ruim que aconteceu antes, contei a Carlo o que estava acontecendo e ele me ajudou a passar por isso, despejando em mim todo seu carinho e dedicação. O que mais me ajudou a manter minha sanidade foi seu pedido de casamento, há seis meses. Isso me trouxe uma paz que eu não achei que seria possível, afinal, vamos nos casar! Mas o fato é que algo me diz que, por mais eu tendo errado muito, alguém ainda quer passar incontáveis dias comigo. E não pode ser melhor que este homem espetacular.

— Você sabe que me tem ao seu lado, em todas as situações — diz ele, apertando-me em seu abraço quente —, não precisa passar por isso sozinho. Eu estou aqui e vou te ajudar como puder.

Futuro Conquistado #2 (Ficção LGBT)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin