Capítulo 36: Ranna

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VOCÊ NÃO É VOCÊ


Assim que concluo o relatório de mais uma visão, saio da sala branca, como na ilha dos refugiados, e me encontro com Henrique no laboratório. Ele está analisando uma das tabelas de cinco elementos que consegui descobrir nas memórias de Antônio Nanquim, assegurando-lhe serem reais, mesmo que, aparentemente, não sejam encontradas na tabela periódica.

— Algum avanço? — pergunto, aproximando-me.

— Ahn, oi, Ranna. Não, nada além do composto que tornou a introdução das drogas no organismo sem reações alérgicas ou dolorosas.

— Uma espécie de analgésico?

— Um super analgésico, na realidade. — Henrique deixa as telas holográficas de lado para girar a cadeira e me encarar, retirando os óculos. — Quando foi capturada, você disse que as injeções pareciam queimar, certo? Ao longo do tempo descobriram formas de inibir essa dor, por isso nos últimos tempos eram, inclusive, mais efetivas, de certa forma.

Arqueio as sobrancelhas, surpresa.

— Quão mais efetivas?

— Efetivas para nossa própria segurança, no caso. — Ele se volta para a tela e aciona dois desenhos de cérebros, que se expandem sobre a mesa computadorizada. — Perceba que ambos os esquemas são de cérebros renegados, mas que o da esquerda possui menos manchas amarelas que o da direita.

Franzo o cenho, sentando-me ao seu lado.

— E o que isso quer dizer?

— O da esquerda é o seu, o da direita, o meu. Não quero fazer nenhum tipo de comparação entre nós, mas quero que você entenda o seguinte: as cobaias mais antigas, por exemplo, eram ministradas sem esse analgésico, o que danificava mais sua cabeça, em termos mais genéricos, causando uma maior recepção ao controle. Em cobaias mais recentes, isso não acontecia, tornando-nos, de certa forma, não manipuláveis. Pelo menos, não de forma tão fácil.

— Então, por isso que pessoas como Irina e eu fomos controladas, porque passamos pelos primeiros processos da pesquisa.

Ele aponta o dedo para mim soltando um "é isso aí". No fim, sem saber, o Novo Governo criou uma própria trava de autodestruição. Sorrio com isso, afinal, mesmo que isso já tenha passado, significa que o destino resolveu nos dar uma vitória muito antes de a Resistência e os irlandeses acabarem com Brasília.

— Obrigada, Henrique — agradeço, levantando-me.

— Ranna, só mais uma coisa — chama ele, dirigindo-se a outro balcão, de onde tira um pequeno objeto cinza. — Preciso que faça um favor para mim.

Viro a cabeça, analisando-o de soslaio, enquanto revela uma seringa.

— Precisa de mais sangue meu?

— Não — contorce os lábios —, preciso de algo mais perigoso.

Semicerro os olhos e Henrique suspira.

— O que vou te pedir é extremamente audacioso, porém... acho que pode nos oferecer uma grande oportunidade.

— Que oportunidade?

— Sente-se, por favor, eu já vou lhe dizer.

*

Depois do papo doido com Henrique Masters, desço até o hall de entrada a fim de encontrar Adri para irmos jantar, contudo, além dele, Danilo Thraur está à minha espera. Os lábios curvados em um meio sorriso são minhas boas-vindas à sua presença.

Futuro Conquistado #2 (Ficção LGBT)Where stories live. Discover now