Capítulo 3

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A empolgação certamente não havia deixado-a dormir. Seus olhos pregavam de sono e seu corpo implorava por uma cama. Chegou a cochilar nos últimos quinze minutos da viagem, mas foi acordada pela freada das rodas do avião, que acabara de aterrissar.

Estava em Palermo e nem conseguia acreditar, sentia-se como se estivesse sonhando, chegou a desejar que James a beliscasse, mas ele não estava lá. Ao lembrar-se disso, prometeu a si mesma que numa outra oportunidade o levaria numa viagem como essa. Isso o ajudaria muito também, a esfriar a cabeça e conhecer pessoas novas. Enfim, a aeromoça anunciou que os passageiros já poderiam retirar os cintos e se ajeitarem para sair do avião. Louise obviamente, foi a primeira a se levantar. Vestiu seu moletom, pegou sua bolsa e esperou a fila enorme do segundo andar terminar para descer. 

Já dentro do aeroporto, sentia-se perdida não só pelo tamanho do aeroporto e a quantidade de pessoas que havia ali, mas, só ouvia a língua italiana. Torcia para encontrar alguém que falasse inglês ou um pouco de espanhol – mesmo odiando falar em espanhol – no momento, estava sendo quase que obrigada a falar se fosse necessário. Mas não era preciso. 

Os motoristas de táxi se viam obrigados a aprenderem no mínimo cinco línguas. Não foi necessário Louise ter que fazer uma placa com seu nome ou algo do tipo, para que tentasse encontrar alguém que pudesse entendê-la. Na entrada do saguão do Aeroporto di Palermo Punta-Raisi havia um homem – um senhor de idade, que aparentava ter 70 anos – notou que Louise estava perdida, com o olhar preocupado, olhando para os lados, estava quase para ter um ataque de desespero ou algo do tipo.

— Posso ajudá-la? – um senhor grisalho de aparência agradável aproximou-se.
— Ah, não acredito! – Louise glorificou e sorriu – O senhor já me ajudou! – ela riu.
— Para onde desejas ir? – perguntou o senhor, enquanto colocava as malas no porta-malas.
— Para o hotel Belaggio, por favor! – a jovem ajudou-o a ajeitar as malas e entrou no veículo.
— Sim senhorita! – ele sorriu simpaticamente e dirigiu-se para o endereço ordenado.

Ambos se apresentaram e conversaram o percurso inteiro até o hotel, conversavam como se fossem melhores amigos. A cada rua e ponto turístico que o motorista passava, contava histórias sobre os locais à Louise, deixando-a maravilhada com tudo. O taxista sabia que tipo de mulher Louise era, ele sabia muito bem que se passassem frente ao Coliseu, ela desejaria descer do veículo para apreciar aquela obra de arte. Tornou a vestir seu moletom cinza com bolinhas pretas e enfiou as mãos gélidas no bolso. Sorriu ao lembrar-se de Marianne pegando uma de suas malas, e jamais se arrependeria de levá-las, pois sabia que estava certa quanto ao frio que havia na Itália.

— Tudo bem, estamos quase chegando! – dizia o velho que dirigia com atenção.
— Qual o seu nome?! – Louise perguntou simpaticamente ao motorista.
— Filippo. Filippo Demachelier Bertolli. – ele respondeu com um pequeno sorriso no rosto, olhando-a pelo retrovisor.
— "Filippo"! Nome bonito, diferente. O meu é Louise, muito prazer, senhor Filippo! – a jovem retribuiu o sorriso.
— A senhorita é norte-americana certo?! – perguntou Filippo.
— Sim senhor. Sou de Nova Iorque! – Louise tornou a sorrir. — Na verdade nasci no Tennessee.
— Nova Iorque! Meu pai era de lá. Já minha mãe era de Paris. – relembrou com emoção de seus pais.
— Ah sim, por isso o Demachelier então! – Louise sorriu.
— Sim, sim. Bertolli vem dos meus avós, pais do meu pai. É uma longa história! – Seu Filippo riu.
— Eu percebi. Acho legal isso, é como se tivéssemos uma chance a mais de conhecer outros lugares, no caso, para visitar a família! – comentou Louise.
— E você, se me permite perguntar, como veio parar aqui?! – perguntava o motorista educadamente, mas com receio.
— Ah, é uma longa história. Eu até contaria para o senhor, mas é cansativo e triste, não seria agradável. – dizia Louise com um peso no coração.

Era totalmente visível o nervosismo de Louise, mesmo conseguindo se disfarçar um pouco, qualquer um poderia notar em sua triste expressão, que não estava nada bem. Não tinha um sorriso ou um olhar alegre, e sim um olhar – apenas um olhar vago – que se mantinha a maioria das vezes, no chão, cabisbaixa; era este o motivo por tropeçar tantas vezes. Mas agora sua mente jamais teria espaço para se lembrar das coisas ruins, estava na Itália, o quê ou quem ousaria estragar este momento?! Mesmo que haja alguma coisa futuramente, não importa o que seja, Louise não deixaria mais, os problemas lhe abalar.

Tentava se esquecer de tudo que vinha á tona em sua mente, olhando para as ruas e pessoas, no qual várias delas chamavam a sua intenção – pela quantidade de ciclistas de todas as idades. Estava tão encantada com tudo e com todos, que nem havia percebido que já havia chegado ao hotel. Seu Filippo teve de dizer seu nome três vezes para "acordá-la". Obviamente, a moça ficou envergonhada, mas não tinha que ficar. Qualquer mulher, teria a mesma reação, quando visitasse o país pela primeira vez, principalmente Palermo!

— Roma é ainda melhor! – comentou Seu Filippo.
— Não é?! Estou louca para conhecê-la! – comentou Louise empolgada.
— Bem, estás entregue! – o motorista sorriu. – Quando precisar, é só ligar! – ele entregou seu cartão para Louise.
— Obrigada, Sr. Filippo, foi um prazer conhecê-lo! – Louise sorria, enquanto tirava a carteira da bolsa.— Não precisa se incomodar, jovem! – o senhor sorriu simpaticamente e pôs as mãos no bolso.
— Eu faço questão. O senhor pode precisar! – insistiu Louise.
— Eu moro sozinho, querida. – ele sorriu de sobrancelhas erguidas.
— Oh, perdão! – Louise sentia-se culpada por tudo.
— Não se preocupe, você não sabia! – ele sorriu e se dirigiu para entrar no carro. – Bem moça, tenho que voltar ao trabalho agora. Nos vemos por aí.
— Tudo bem, Seu Filippo. Muito obrigada. Espero encontrar o senhor mesmo mais vezes! – Louise sorriu e acenou para o motorista enquanto se dirigia para a entrada do hotel.
— Igualmente, querida– Filippo acenou e dirigiu-se de volta para o seu ponto.

Não havia sido nem um pouco difícil. Louise sempre fora exagerada a respeito de sua timidez com as pessoas, mas era verdade que sempre se dava bem com as pessoas mais velhas, pois são mais experientes e a maioria poderia dar quase todo tipo de conselho que precisasse.

A noite caiu.

Louise estava acabada, suas pernas completamente doloridas, estava praticamente mancando, custando manter seu próprio peso. Conseguiu entrar no hotel graças ás paredes no qual se apoiava, senão, já estaria largada no chão! Passou pelo saguão e apoiou-se no balcão da recepção onde havia deixado um cartão sobre o balcão, que informava o quarto que havia alugado. A jovem não disse sequer uma palavra, apenas pegou a chave e dirigiu-se até o elevador, que a levaria até o décimo andar. Arrastou-se junto com as malas até a porta e a abriu. Ao entrar ficou maravilhada com o lugar, que era perfeito e muito bem ajeitado, deixou as malas num canto próximo á porta e jogou-se na cama Box de casal que havia á sua direita. Adormeceu ali mesmo.

•••

No dia seguinte, Louise acordou cedo e muito assustada. Olhou para o relógio e resmungou enfiando a cara no travesseiro novamente, na verdade, ainda eram seis horas da manhã e com certeza havia se esquecido de que estava na Europa. Deu um enorme sorriso, porque aquilo era verdade e não um sonho. Estava realmente na Itália. Notou que tudo estava calmo, tranquilo e silencioso. Não haveria ninguém para acordá-la dizendo que estaria atrasada para o trabalho ou não teria Jeremy esmurrando a porta querendo ter alguma conversa "séria" com ela. Impossível. Jeremy nunca fora um homem sério, para falar a verdade, estava mais para uma criança com corpo de adulto, porque mentalmente, era isso que Jeremy era, uma criança mimada.

Mas Jeremy é passado e não queria nem saber da existência dele mais, apenas quis afogar as memórias sobre ele no mais fundo possível do mar morto ou vermelho, qualquer mar que fosse profundo o suficiente para ajudá-la a esquecer dele. Sua mente e seu coração em poucos dias estariam prontos para receber um novo amor. Não se importou nem um pouco em ter acordado naquele momento depois de lembrar de que estava de "férias". Ficou mais alguns minutos deitada na enorme cama box de casal olhando para o teto, tentando planejar o novo dia, mas foi impossível, a melhor coisa mesmo que seria a fazer era sair perambulando pela cidade que nem uma barata tonta, quem sabe assim não aparecesse um italiano alto e cheiroso para orientar a pobre "barata".

Sem sucesso. Pelo menos não no seu primeiro dia não estava com sorte, não estaria em seus planos querer conhecer algum italiano por vontade, se fosse para a acontecer, seria naturalmente. Estava preparada para qualquer coisa – que lhe ajudasse a esquecer de Jeremy o mais rápido possível. Estar longe de "tudo e de todos" estava sendo incrível para ela, quase havia pegado no sono novamente. Mas Louise não estava tão mal a ponto de querer "deixar a vida de lado", queria mais é aproveitar, principalmente agora, que estava ganhando uma nova chance para viver melhor.

Com muito custo e depois de muita luta contra a bendita cama, conseguiu levantar-se e para não cair de sono em pé mesmo – como já havia acontecido outras vezes por excesso de trabalho e ressaca de sono – deu largos passos até o banheiro, pôs a mão esquerda sobre a pia, enquanto com a direita tentava abrir a torneira tentando enroscá-la. Olhou para baixo e não encontrou nada, desorientada passava a mão ao redor da torneira tentando descobrir por onde sairia a maldita água. Balançou a palma da mão várias vezes por baixo da torneira como se adiantasse alguma coisa, e realmente adiantou. Havia achado que teria feito alguma mágica, mas sabia que era impossível. Louise não estava acostumada com esse tipo de tecnologia. Na verdade, ela estava meio dormindo ainda.

Os hotéis chiques não usam mais "torneirinhas de enroscar", agora era tudo na base dos "sensores". Bastava um simples gesto na lateral da torneira, que bendita jorrava em abundância na pia. Louise ergueu as sobrancelhas para si mesma olhando para o espelho, se chamando de idiota em pensamento. Não era mesmo acostumada com tecnologias, nunca gostou muito de tablets e coisas do tipo e quando pegava um nas mãos, não conseguia usar por muito tempo. Os celulares sempre foram aqueles tijolos que quando caíam no chão nunca quebravam. Mas até o ano retrasado, James a havia convencido a comprar um smartphone. Levou um tempo até se acostumar com a praticidade dos aplicativos. 

Apesar de ser jovem, não era o tipo de mulher que estava sempre antenada sobre as tendências de tecnologia, pouco se interessava também na moda. Gostava de fazer compras, mas nunca foi de gastar muito, muito menos tinha dificuldade para escolher peças de roupas, sapatos e acessórios. Sempre gostou de fazer seu próprio estilo e era incrível como sempre tinha bom gosto. Nunca abria mão dos jeans velhos, All Stars e camisetas, mas também, nunca poderia faltar as peças meiguíssimas, os vestidinhos leves e soltos – principalmente aqueles de seda lisos ou mesmo os estampados e longos – quase todos os tipos e cores lhe agradava. Estava quase pronta para sair. Seu vestido rendado de cor creme com um cinto fino dourado na cintura, estava pendurado num cabide pronto para ser usado.

Corria pra todo lado no quarto de calcinha e sutiã, resmungando por ter perdido alguma coisa no chão, geralmente um brinco de pérola que quase sempre deixava cair e que com muito custo, atenção e paciência, conseguia encontrá-los. Depois de quase cinco minutos os procurando, finalmente os encontrou, de uma forma não muito agradável. Uma dor pontuda e contínua se formou no pé direito de Louise, que logo caiu no chão sem ar, de tanta dor. Olhou para o pé que tinha o calcanhar manchado de sangue e tirou o brinco que havia lhe causado aquela dor pontuda, que estava penetrado no calcanhar. Resmungou várias vezes, por causa da dor que aos poucos estava indo embora e logo descobriu que havia encontrado apenas uma peça do par de brincos de pérola que havia ganhado de Marianne. 

Depois de muito resmungar se levantou meio que mancando, e logo sentiu o outro brinco entre os dedos do mesmo pé, Louise se abaixou e pegou o brinco com um olhar bravo como se quisesse repreendê-lo ou como se ele pudesse entender. Sentou-se na cama com o pé direito erguido, e ficou encarando-o enquanto colocava os brincos nas orelhas e tornou a ficar de pé, para vestir um de seus vestidos preferidos. Olhou para sua mala tentando se lembrar dos sapatos que havia levado, depois de ter o pé perfurado pelo próprio brinco jamais conseguiria andar de salto, então optou por uma sapatilha de veludo preta.

Um Italiano em Minha Vida {DEGUSTAÇÃO}Where stories live. Discover now