Capítulo 43

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Palermo, Itália — 17h30

Antonio havia saído mais cedo da Agência, justamente para fugir de Abigail que sempre arrumava uma desculpa para entrar na sala dele. Passou pela mesma cafeteria onde conheceu Louise, se deliciando com a lembrança das coisas boas que passaram juntos ali e em vários outros lugares simples que Palermo oferecia. Agora, sabendo a verdade sobre tudo o que Melinda havia feito, não estava mais tão preocupado como antes, apenas cada dia mais ansioso para ver Louise novamente e fazer planos para viver com ela para o resto da vida. Mas nós sabemos que, nada vem de "bandeja". E as complicações já haviam começado sem que notassem.

— Hey, Tony! — uma voz conhecida o chamou. O rapaz loiro o alcançou ofegante.

— Fala Enrico. — eles se cumprimentaram e Enrico notou que Antonio parecia estar bem mais humorado que ultimamente.

— Que cara é essa?! — indagou ele, num risonho e curioso.

— Que cara? Nada, só estou bem humorado!

— Tem alguma coisa a ver com o que fiquei sabendo sobre Melinda?! — indagou.

— Então a cidade inteira já está sabendo... — observou. — Bem, sim, mas no bom sentido. Me sinto em paz agora. — desabafou.

— E agora, o que pretende fazer?! — perguntou Enrico, enquanto ambos caminhavam rumo a praça que ficava de frente para o Belaggio.

— Não sei ainda, preciso saber como anda a situação de Louise em NY. Não sei como ela está encarando o boato da "gravidez" de Melinda... — Tony fez sinal de aspas em "gravidez".

— Ligue para ela. — sugeriu Enrico.

— Farei isso mais tarde. O que acha de jantar lá em casa hoje? Podemos jogar algumas partidas de poker como nos tempos do colégio! — Enrico encarou Tony sério.

— Você lembra da última vez que jogamos? Fui parar de calção na rua no meio da noite! — recordou Enrico. Tony riu.

— Enrico, acredite, Giulia é melhor do que eu. Aceite minhas apostas ou vai receber algo pior dela!

— Passo na sua casa às oito. — aceitou ainda hesitante.

— Se amarelar, eu mando a Giulia te buscar, hein! — gritou Antonio, logo gargalhando em seguida.

Melinda já tinha voltado das suas compras de Roma, quando a região onde morava, já estava sabendo das suas trapaças. Ainda assim, não se incomodava com os olhares de reprovação porque, para ela isso era um elogio e andava como se estivesse numa passarela. Não tinha ideia do que a esperava quando chegasse em casa. Chegou em casa acompanhada das amigas Polly e Giovanna, as três estavam com as duas mãos ocupadas por sacolas de grandes grifes. Passaram pelo hall e chegaram a sala, jogando as compras nos sofás e se deparando com Paolo, Alicia – mãe de Melinda – e algumas autoridades municipais, que ao ver Melinda, começaram a encará-la seriamente. Toda a empolgação havia se esvaído em segundos ao ver aqueles olhos fuzilarem os seus. Seria óbvio não pensar na hipótese de que "a coisa" teria alguma relação com a filha do prefeito, mas ela não fazia ideia de que era por causa do dinheiro gasto com exames falsos.

— Mamãe?! O que está fazendo aqui?! — indagou ela, surpresa.

— Sou eu quem pergunta, com que objetivo você encomendou isto! — esbravejou, jogando sobre a mesinha que ficava no meio da sala, um envelope, uma cópia dos documentos falsos que Giulia havia conseguido como provas contra Melinda.

— Eu não sei o que é isso... Não entendo o que essas coisas significam. — Melinda estava com a voz trêmula. Alicia tossiu limpando a garganta demonstrando dúvida. — Eu juro! Não entendo nada disso! — respondeu nervosa, abanando os papéis.

Aí Alicia tomou os documentos das mãos da filha à procura do principal. Ela encontrou os exames falsos e entregou a Melinda, juntamente com o contrato da encomenda, que no final da folha, tinha sua rubrica. Nesse momento, as pernas de Melinda estremeceram e ficaram bambas, fazendo com que se apoiasse no encosto alto da poltrona do pai. Seus olhos não conseguiam permanecer erguidos, nem para encarar os pais ou as amigas, que de certa forma haviam sido cúmplices. Depois de alguns minutos de silêncio absoluto – mas com mentes bagunçadas e engrenagens trabalhando a todo vapor –, Paolo tomou uma iniciativa.

— Me dê seus cartões de crédito... Todos eles! — pediu ele, estendendo a mão para Melinda.

— Mas, papai... — ela tentou chantageá-lo com aquela "carinha" que sempre fazia que agora, já não funcionava mais.

— Agora! — exclamou. — E as chaves do carro também.

— O quê?! — aí Melinda quase surtou. — O carro não papai, por favor!

— Agora, Melinda! — ele continuou com a mão estendida esperando que ela lhe desse as chaves. E assim ela também fez, mas com certa relutância. — Meninas, peguem suas sacolas e vão para casa... — Paolo encarou Polly e Giovanna sério, como elas nunca visto antes e foram embora, sem questionar e também sem se despedirem de Melinda que agora, estava completamente desarmada.

Papi, por favor, me escuta, deixe-me explicar! — Melinda implorava ainda tentando chantageá-lo.

— Terá muito tempo para se explicar amanhã... — retrucou —... Na Prefeitura! Essas compras... Alicia leve tudo com você e doe para algum orfanato ou qualquer instituição pública ou carente. — Melinda surtou de vez, não acreditando nas palavras que o pai dizia desde o momento que havia pisado naquela sala. Eram palavras que acreditava jamais ouvi-las.

— Mas, papai... Mas e o carro? Você não pode tirá-lo de mim, eu preciso dele! — choramingava.

— Eu já fiz isso. E sim, você pode muito bem viver sem o luxo de ter um carro que você não tem merecido, muito menos com motorista particular. Você tem casa, uma quantidade de roupa absurda, totalmente desnecessária e três refeições diárias, e se deixar, quatro! — ele deu uma pausa e continuou — Tem gente no mundo inteiro que não tem nada e é mais humilde que você! Tens passado demais do limite, Melinda! — Paolo nunca pensou que diria isso no tom que usou, para Melinda.

Por um momento, pensou que poderia ter sido muito rude com a filha, mas era necessário e Melinda já estava mais do que crescida. E a "mulher" que agora mais parecia uma adolescente prestes a se rebelar, desabou mais do que pretendia, ao ouvir a mãe dizer que a sua temporada em Paris havia sido cancelada, que teria de trabalhar para sobreviver, além de se acostumar com as novas regras da casa. A partir dali, com quase 26 anos, Melinda iria aprender de verdade, a ser e a viver como uma adulta.

Um Italiano em Minha Vida {DEGUSTAÇÃO}Where stories live. Discover now