Efeito Alice

Capítulo Trinta - Efeito Alice

Capítulo Trinta - Efeito Alice

Adam Beaumont

Alice ligou desmarcando o nosso almoço.

Em sua breve e distante ligação ela disse ter surgido alguns problemas e que teria que sair da empresa para resolvê-los. Eu disse não haver problema e que conversaríamos depois, mas fiquei preocupado com a sua maneira um pouco distante.

Desci para a lanchonete e almocei com Aaron e Anthony, que disseram sempre haver problemas para Alice resolver de última hora e que não deveria ser nada grave.

Eu só espero que ela não tenha mudado de ideia sobre mim. Digo, ela poderia ter pensado melhor depois da briga, e...

Eu sei! Pode ser bobeira minha, mas não consigo evitar me preocupar.

Liguei para ela diversas vezes à tarde para saber se estava bem e se já tinha resolvido o problema, mas não obtive resposta.

Próximo à hora de ir para a faculdade tentei ligar novamente, mas ela não me atendeu. A ligação caiu direto na caixa postal. Nós tínhamos combinado que ela me levaria à faculdade hoje, já que assim poderíamos passar mais um tempo juntos, mas vejo que não acontecerá.

Quando o relógio apita três e vinte, organizo minhas coisas depois de ter avisado ao Aaron que estou de saída. Entro do saguão do andar e me surpreendo com Travis saindo do elevador. Sozinho.

- Senhor Beaumont. - Ele mantém aberta a porta do elevador e sinaliza para que eu entre. O faço em silêncio.

A tensão emanando do segurança não me passa despercebida. Serve apenas para me deixar ainda mais nervoso. No meio da descida desconfortavelmente silenciosa, não me contenho e me dirijo a ele:

- Alice virá? Ela está bem? Conseguiu resolver seus problemas? - Disparo de uma só vez as perguntas que me perturbaram durante a tarde inteira.

Travis me olha e não me dá mais uma de suas costumeiras respostas afiadas; ele responde simplesmente:

- Ela ainda está ocupada. E pediu para que eu me desculpasse por ela. Disse que mais tarde ligará e falará com o senhor.

Sua tensão é visível e indisfarçável.

- Você não precisa me chamar de senhor. - Chamo novamente a sua atenção para mim. Travis concorda com a cabeça e continua a me olhar através da porta espelhada. - O que aconteceu foi muito sério? Foi um problema muito grave?

- Nada que Alice não possa resolver. - Ele diz com firmeza, mas percebo a incerteza no seu olhar.

Prefiro não falar mais nada.

Alice, mais tarde, me contará o que houve, caso se sinta confortável para fazê-lo.

Só espero que ela resolva tudo da melhor forma e o mais rápido possível.

O caminho foi feito em silêncio.

Apesar de ter se desculpado comigo, sábado, pela forma violenta como agiu semanas atrás, o clima entre nós ainda não é agradável. Não é hostil e agressivo, como fora antes, mas também não é amigável.

Travis estaciona o SUV na porta do meu prédio de aula e eu me despeço e o agradeço. Forço-me a esquecer qualquer perturbação enquanto assisto às aulas. E de fato o fiz. Consegui prestar a devida atenção e me mantive focado o tempo todo. Meus amigos, por outro lado, estavam ali para reclamar, apenas, mas não me deixei levar por eles.

Dois minutos após sermos liberados no fim das aulas, meu celular começa a tocar. É Alice.

O alívio me toma por completo.