CAPÍTULO 2

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Estávamos na faixa dos 16 anos e não tínhamos muito juízo. Aliás, será que alguém tem alguma coisa na cabeça nessa faixa etária? Bom, acredito que não.

Estudávamos em um colégio particular, pago com muito esforço pelos nossos pais, já que éramos de classe média. Não que o colégio tivesse apenas gente rica, mas não éramos maioria ali. Talvez os nossos tênis e cadernos fossem sempre de marcas mais baratas do que o dos colegas, mas nunca demos muita bola para isso.

Foi para ela que contei da minha primeira transa e a recíproca foi verdadeira, e nem lembro quem transou primeiro. Se brincar, transamos no mesmo dia.

Estávamos juntas no primeiro porre e no primeiro baseado. Viajamos juntas em vários carnavais e semanas santas e eu sempre mentia para minha mãe que estava na casa dela. É lógico que minha amiga também fazia o mesmo. Sempre aprontamos muito!

Até que, há aproximadamente três anos, ela conheceu o Pedro, que se meteu no meio de uma amizade digna de filmes holywodianos. E se meteu mesmo. Sim, porque ele vivia implicando comigo, desde sempre e por qualquer coisa. E também impliquei com ele (desde sempre e por qualquer coisa).

Morri de ciúmes, mas Laura afirmava que o chatonildo era o homem da sua vida. Não acreditei, mas não podia fazer nada. Ela foi ficando cada dia mais apaixonada, ele falando que também (blargh) e, resumindo, resolveram casar.

Participei de todos os detalhes da organização daquela festa. Desde a escolha da igreja até a seleção criteriosa de quem faria os bem-casados. Divirto-me bastante com organização de festas, e Laura sabia muito bem; logicamente tirou proveito.

Mas, minha participação não se resumiu ao evento. Ajudei também a montar enxoval, incluindo toalhas bordadas à mão com as letras L e P em ponto cruz (acho que é muito brega, mas a Laura queria, então o que é que eu poderia fazer?) e panelas antiaderentes que vinham com os talheres próprios de brinde.

Organizei o chá-de-panela, o qual, na verdade, merecia um destaque especial, pois contratei três dançarinos (garotos de programa, na realidade) que ficaram completamente nus. Algumas das convidadas desembolsaram uma quantia gorda para uma noite de amor. No entanto, com o intuito de preservar o nome e a reputação das envolvidas, prefiro deixar isso de lado (dizem as más línguas que uma até queria casar com o rapaz e tirá-lo daquela vida, no maior estilo Odair José).

Também estava lá no momento da escolha do apartamento e na arrumação dele. Finalmente, mas não menos importante, estava no momento de receber os presentes durante os cinco dias antes do casamento, me divertindo com Laura a cada papel de embrulho rasgado.

Já me sentia parte do casal! Só faltava fazer sexo com eles, mas isso não faria de jeito nenhum porque sempre achei que o Pedro tinha um aspecto repugnante de cara muito arrumadinho. Aquele tipo que seca o cabelo com secador e passa hidratante com protetor solar todos os dias. Podem me chamar de machista, mas isso para mim é coisa de mulherzinha. E por incrível que pareça, meu sexto sentido, que sempre fora muito fraquinho em relação aos homens, com ele funcionou em alto grau, fazendo com que eu achasse que aquela peste não valia nada. Sem contar que Laura era para mim uma amiga com uma ligação muito grande, sem o menor apelo sexual.

No dia do casamento, no mesmo local onde Laura faria o tradicional "Dia da Noiva", marquei aquele pacote básico de escova, unha, depilação e maquiagem. Tive que controlar a vontade de fazer um dia de noiva porque fiquei morrendo de inveja quando soube que ela teria massagem, banho com pétalas de rosas e outras frescuras. Lembro de ter anotado na minha agenda que não queria mais demorar a casar, por ser tão gostoso ter um dia daqueles. E do fundo do meu coração, só não agendei porque iria levar uns quatro salários.

Por mais que sentisse um aperto no peito de saber que a minha melhor amiga ia agora ter coisas muito mais importantes que eu para se preocupar, aqueles momentos foram especiais, pois passamos o último dia dela de solteira juntas, curtindo cada segundo.

Laura estava muito nervosa, e eu era, como sempre havia sido, seu ombro amigo. Isso foi superdivertido, só que eu também estava nervosa até o último fio de cabelo. Levei meu vestido para o salão e nos vestimos juntas. Porém, dali em diante, cada uma de nós seguiria um caminho que, necessariamente, deveria se separar.

Ser Clara - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now