Cap. 2 - Desconcertado

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       Amor? Só por meus pais. Nunca fiquei apaixonado por quem quer que seja. Uma ou outra paixão platônica. Incluindo celebridades. Mas nada que me arrebatasse do jeito que ele fez. Nunca tinha me sentido daquele jeito antes. Eu me sentia estranho... e animado.

       No dia seguinte, a primeira coisa que faço ao chegar na escola é procurá-lo. Mas antes mesmo que eu notasse, ele já estava do meu lado.

– Oi! Bom dia!

Aquele lindo sorriso.

– Não é mais de manhã! Boa tarde! – tento não sorrir muito.

– Ué! Não é mais dia?

– Han? É...

– Então... Bom dia!

E rimos juntos novamente.

– Então... Quando vai ser o nosso tour?

– Pode ser na hora do intervalo?

– Pode!

– Então até lá!

Me despedi dele e corri para minha sala. Por mais que eu não quisesse parar de conversar com ele, não podia me mostrar tão interessado nisso. Nem sabia se ele gostava mesmo de mim. E ainda tô relevando o fato de gostar de um homem.

       Hora do intervalo, já estávamos grudados andando por cada canto da escola. 

– E foi aqui que Ellen recebeu seu pior primeiro beijo de língua e logo em seguida o maior fora da escola. Ela ficou conhecida como 'A Vadia da Língua Solta'.

– Nossa...

– Eu vi tudo, por isso eu sei. O restante acreditou nos boatos que ele espalhou... Mas não se engane, ela é mesmo uma vadia!

Dou mais uma mordida no meu sanduíche e sinto-o me encarando.

– O que foi?

Ele tinha uma expressão serena e um sorriso suave. E me deixava realmente desconcertado.

– Como foi seu primeiro beijo?

Paraliso. Aquilo realmente me pegou de surpresa. Não esperava que fosse tão direto. Isso me deixou feliz porque agora sabia que ele estava afim de mim, mas também fiquei um pouco incomodado pois tinha certeza que riria de mim. Tentei desconversar:

– Ah... faz tempo! Acho que uns 6 ou 7 anos atrás.

Ele para na minha frente.

– Conta... eu quero muito te ouvir!

– Ah... não gosto de lembrar. Deixa pra lá!

Volto a andar.

– Não precisa ter vergonha! Por favor!

Paro de repente. Ao mesmo tempo que eu queria ser sincero, estava com medo.

– Adriano...

– Oi?!

– A verdade é... nunca beijei na boca!

       Quando me viro para encará-lo, vejo que ele estava muito perto de mim. De forma que, como eu era um pouco mais baixo, sua boca ficava no centro do meu campo de visão. Meu coração disparou.

– Como assim? Você nunca...

– Não! – desvio o olhar.

– Por quê?

– Porque eu acho isso tão... ridículo! Parece que quando você cresce, tem obrigação de beijar, de sair com várias garotas, ter um namorado apenas pra cumprir com uma obrigação social! Isso cansa, isso pesa, isso te bota pra baixo! Isso não devia ser uma obrigação, nunca! Eu tô cansado disso tudo!

– Hey, calma! – Ele põe a mão em meu ombro.

– Pode rir de mim!

– O quê?

– É isso que a sociedade faz com quem nunca namorou até os 17 anos, né?

– Dário, eu não vou...

– Já deu por hoje! Estou indo embora!

Saio apressado, sem nem olhar pra trás deixando-o sozinho. Eu entendo, fui rude demais. Mas tava confuso demais e não podia continuar aquela conversa.

       Passaram-se 2 dias. Não falei, nem respondi suas mensagens. O evitava toda vez que o via na escola. O arrependimento pesou, mas eu não sabia como poderia me desculpar. Acho que fui muito infantil. Já estava indo embora pra casa quando ele correu até mim, parando em minha frente. Não sei por quê mas gosto quando ele faz isso.

– Dário, por favor, só me escuta!

Abro a boca para falar, mas me detenho.

– Olha, eu não sabia que isso era um problema pra você, mesmo! Porquê pra mim não é! Mas... me desculpa! Não queria que achasse que eu riria de você, nunca faria isso! Eu só tava... é que sou inconveniente demais às vezes e nunca acerto. Me desculpa...

Ele baixa a cabeça. Não consegui evitar de sorrir.

– Eu que peço desculpas! Descontei em você minha frustração, mas você não tinha nada a ver.

Ele olha para mim. Continuo:

– Tava pensando num jeito de falar com você, mas tinha medo que me rejeitasse por causa da minha grosseria. Na verdade, eu... eu...

– Nunca vou te rejeitar. Porque...

       – Eu gosto de estar junto de você!!!

Nós dissemos ao mesmo tempo. Não era um sonho ou um delírio. Eu disse e ele também. Não conseguia acreditar, estava acontecendo mesmo.

– Mesmo?

Ele ri e responde:

– Real oficial.

– Mas... é mais do que amigos.

– Eu também!

Acho que meu rosto estava completamente rubro, pois senti o sangue fervendo em minhas bochechas.

– Então... a gente pode voltar a se falar agora? 

– Claro que sim!

Ele sorri com minha animação e dá um beijo em meu nariz.

– A gente se fala amanhã! – digo e saio correndo. Eu não estava confuso agora, estava muito feliz. Olho para trás e o vejo sorrindo um pouco confuso. Deve achar que sou louco. Sorrio também.


DevastadorWhere stories live. Discover now