Cap. 5 - Devastado

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      Tudo ia bem, eu estava feliz. A confusão em minha cabeça se dissipara, estava pleno. Meus dias eram os mais felizes com ele ao meu lado, mas aí... Chego em casa logo após a aula, meus pais discutiam. Não, não era uma discussão... Era uma briga. Entro assustado, o que estava acontecendo? Assim que bato a porta, minha mãe vira-se para mim:

– Aí está você! Como pôde fazer isso com a gente?

Não conseguia raciocinar.

– Responde desgraçado! – grita meu pai.

– O que tá acontecendo!! – grito também.

– Meu Deus, você trouxe ele aqui em casa!

– Quem?!

Eu já sabia.

– Aposto que naquela noite, vocês fizeram...

Meu pai não conseguiu terminar. Eu só podia ter entrado num pesadelo daqueles que quando o pior está pra acontecer, a gente acorda. Mas sabia que não.

– De quem vocês estão falando?

– Não se faça de idiota! Porque você não é! É muito espertinho por sinal!

– Não sei do que estão falando e eu não vou saber se não disserem!

Minha mãe começa a chorar e diz:

– Adriano! Ele é seu namorado e não seu amigo!

– Quê? Quem disse isso?

– É verdade ou não é!? – grita meu pai novamente.

– Não... Quem disse?!

– A Ellen nos contou! Ela estava preocupada com você!

– E você acreditou nela?! Ela é uma mentirosa, falsa!!

Lágrimas rolavam inevitavelmente dos meus olhos. Meu pai pega o celular e mostra uma foto em que eu e Adriano nos beijávamos nos fundos da escola. Ele estava tremendo. Isso tinha sido ontem.

– Vai continuar mentindo?! Nega que é você aqui!

Não consigo mais falar nada. Estava me sentindo horrível.

– Nunca imaginei que fosse capaz disso. – minha mãe já não olhava em meus olhos.

– Por favor deixa eu explicar...

– O que você vai explicar?! Que é gay? Não precisa, a gente já sabe muito bem!

– Pai, mãe...

– Também somos inteligentes o suficiente pra sabermos que você não vai... "negar o que você é"!

Eles estavam me destruindo.

– Não se preocupe, não vou lhe encher de pancada que era o que eu deveria fazer agora. Já decidimos!

– Como é?

– A partir de hoje, você não mora mais aqui!

– E onde é que vou morar?!

– Com o seu namorado! – minha mãe se pronuncia – Tenho certeza que vai te acolher!

– Por favor, não façam isso! Eu amo vocês!

– Ama uma pica!

Aquilo me chocou. Principalmente por ter vindo de minha mãe.

– E só pra constar: Não tenho mais filho! Prefiro ter um filho morto do que um filho gay!

Dito isso, ela vira as costas e sai. Foi o golpe final.

       Não preciso dizer o que aconteceu depois. Mesmo sem forças pra reagir, ainda implorava para meu pai não me expulsar daquele jeito, mas não houve jeito. Do mesmo jeito que entrei, saí. Ele disse que deixaria minhas roupas e coisas na casa de Adriano. Comecei a andar sem destino pelas ruas, completamente desolado. Meu celular toca, era ele:

– Oi amor! O que você acha de...

– Vê se não me procura nunca mais, por favor! Me deixa em paz!

Desligo e jogo o celular longe.

       Cá estou eu...* no fundo de uma caverna, onde não vejo nada além de uma terrível escuridão. Não sei como cheguei aqui, do mesmo jeito que não sei como tudo aconteceu. Sentado no chão frio, abraçando minhas pernas. Acho que já é de noite. Não queria ter magoado meus pais. Também não queria ter me envolvido com Adriano. A única coisa que queria era ser feliz. E aconteceu de ser feliz com ele. Mas nada saiu como esperava. Amor. O que dizer do amor? Não dá pra explicar simplesmente o que é, pois é uma mistura de tantas outras emoções e sentimentos. O amor é algo incontrolável. Não dá pra prever quando ele virá, nem quando virá. Não queria ter me apaixonado. Isso me deixou tão confuso que perdi a noção de certo e errado. A perda dessa habilidade que nos deixa confusos. Quando a gente ama, não vemos nenhum defeito. Só as coisas boas. Seja o alvo de nosso amor, uma pessoa boa ou ruim, não conseguimos definir. Amor parece algo tão simples, mas é tão complexo ao mesmo tempo. Deveria existir um manual para o Amor. Ou pelo menos um alerta de que iríamos sofrer tanto. Já não sou mais o mesmo.

       Chorava compulsivamente sem perceber. Não queria nada, apenas uma luz que me trouxesse paz. E ali estava ela, ou melhor ele com uma lanterna em mãos.

– Dário?!

– Eu disse pra nunca mais me procurar!

– Eu já disse que nunca vou te deixar!

– Porque ainda insiste em mim?

– Porque me sinto bem quando estou com você. Sinto que posso fazer qualquer coisa! E sei que você sente o mesmo também! Por isso não me pede pra ir embora... que eu não vou!

Me levantei e joguei-me em seus braços, chorando.


Se eu tivesse que dar uma definição simples para o Amor.


– Vamos embora logo! Está chovendo muito lá fora!

– Me promete uma coisa?


Não hesitaria em dizer.


– Qualquer coisa por você!

– Promete que nunca vai me abandonar?


Que minha única definição cabível.


– Prometo!


Seria que.


Olho para ele e dou-lhe um beijo demorado. Lá fora, a tempestade valia seu nome com raios e trovões à vontade. Um deles desprende um conjunto de pedras enormes que caem aos montes tapando a entrada da caverna.


O Amor é algo Devastador.

DevastadorOnde histórias criam vida. Descubra agora