Cap. 3 - Aflito

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      Dali em diante, passamos a andar sempre juntos. No intervalo, numa escapadinha entre as aulas ou numa sorveteria no pós-aula. Sem contar nossas conversas antes de dormir por whatsapp. Nunca tinha me sentido tão feliz antes. Estar com ele era divertido. Seu jeito otimista me trazia um modo diferente de ver as coisas e, de acordo com ele, meu jeito meio louco ensinava muito a ele também. Uma semana se passou. Poderia dizer que estávamos namorando, mas sem o pedido formal. Até que:

"Porque não assistimos um filme na sua casa, qualquer dia desses?"

       Meu coração aperta. Vir aqui em casa. Isso ainda não tinha passado pela minha cabeça. Não sei se eu que era muito lerdo ou ele que era surpreendente. Se o trouxesse aqui em casa, meus pais provavelmente desconfiariam de mim. Suspiro. Não queria continuar a viver assim. Quase não saio de casa. Tenho medo que descubram sobre mim e me expulsem de casa. Isso me deixava tão deprimido. Com a mudança de minha única amiga, fiquei ainda mais isolado. Sim, eu era razoavelmente sociável na escola, mas não tinha nada verdadeiro que me conectasse ali.

"Cê tá aí?"

Perdido em meus pensamentos, não vi que tinha aberto a conversa e não respondido.

"Podemos falar sobre isso mais tarde?"

"Ok. Até daqui a pouco <3"

Apago a tela do celular e levo o braço sobre minha testa, pensativo.

       Não consegui pensar em outra coisa até chegar à escola. Apresentar Adriano para meus pais não me parecia uma boa ideia. Nem vi quando ele pousou na minha frente:

– Que cara é essa?

Olho dentro dos olhos dele. Não me cansava de admirá-los.

– Sobre o filme... Porque não vamos pra sua casa?

Ele me encara tentando entender.

– O que está havendo?

– É só que eu queria conhecer sua casa. E essa é uma ótima oportunidade, não acha?

– Dário... - fica sério. – Você não tá me contando alguma coisa.

Tento desconversar e mudar de assunto, mas ele insiste.

– Se você tiver com algum problema, eu vou entender. Mas... me diz, por favor! Não guarda só pra você!

– Eu não sei se posso te levar pra casa.

Ao perceber o que eu disse, palpito e fico vermelho.

– O que eu quis dizer é que eu não sei se seria legal você ir! – digo exasperado.

Ele se divertia.

– Já te disse que você é muito fofo?

Cubro meu rosto com as mãos.

– Para Adriano, eu vou morrer de vergonha!

Riu mais uma vez e me abraçou. Era a primeira vez que me abraçava. Tão confortável e... quente.

       Nem sabia mais onde estava, relaxei nos braços dele com os olhos fechados. Acho que ele também estava de olhos fechados. Seu queixo delicadamente apoiado na minha cabeça. Era maravilhoso. Mas, num instante, algo me trouxe de volta:

– Olha quem está aqui! Dário Duarte!

Arregalo os olhos e me solto dos braços de Adriano, virando-me para olhar:

– Ellen?!

– Eu mesma! Ruiva perfeita como sempre!

– O que está fazendo aqui?

– Eu voltei! E vou ficar até o fim dessa vez!

– Que ótimo! – digo irônico. – Espero que fique à vontade!

Viro as costas e me preparo para sair com ele, mas ela não perde uma chance:

– Não vai me apresentar o novato?

Antes mesmo que eu pudesse responder, ele toma a frente:

– Prazer, sou Adriano.

– Prazer é meu, sou Ellen como já deve saber... - seu sorriso era muito largo, como se fosse morder.

– A vadia da língua solta!

Por um momento não queria que ele dissesse aquilo, mas depois eu vibrei. Seu sorriso se desfaz e ela olha para mim, com asco.

– Algumas pessoas já andaram te informando sobre o que aconteceu aqui!

Puxei Adriano e saímos andando, antes que ela dissesse mais alguma coisa.

– Sua mãe sabe do seu namoradinho, Dário?

Parei por um instante, mas ignorei e saí andando.

       Ela não podia ter aparecido em hora pior!

– Dário, você está bem?

– O problema... são eles! Meus pais!

Paro de andar e passo a encará-lo.

– Eu não queria que você fosse lá por quê... eles podem não gostar.

– Mas... qual o motivo?

– Eles... sabem que sou gay. Digo, eles desconfiam.

Ele abre a boca, mas fecha em seguida.

– Adriano, eu não quero que eles me proíbam de te ver! Você me faz bem!

Me abraça mais uma vez.

– Não se preocupa! Não preciso ir se não se sentir confortável! Mas se eles me conhecerem, verão que não há motivos pra acharem coisas erradas sobre você!

E mais uma vez, relaxo no seu abraço me esquecendo de tudo que me afligia.

DevastadorWhere stories live. Discover now