Meus pêsames

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24 horas depois do ocorrido.

Pov's Carl

Dois dias. Já fazem dois dias que não recebo notícias de Ally. Já fazem dois dias que estou com esse maldito rádio transmissor na mão, a espera de respostas. Mas tudo o que ganho, é o silêncio.

Estou trancado no meu quarto todo esse tempo, olhando pela janela, as pessoas treinando para o breve combate, todas com seus propósitos. Mas eu não tenho um. Não tenho um propósito, porque o meu está no santuário, e eu aqui. Todos já tentaram me fazer sair daqui, para respirar o ar fresco ou treinar junto com as pessoas. Mas tudo o que eu quero, é olhar para esse maldito rádio transmissor.

- levanta daí! Vamos sair para uma busca por suprimentos, e você vai com a gente. - Michonne declara, ao entrar no meu quarto.

- não vou não. - digo sem encara-lá.

- vai sim. Não pode ficar aqui, trancado nesse quarto o tempo todo. Não é disso que a Ally precisa. Ela precisa que ganhemos essa  guerra.

- não sei se consigo. - desabafo.

- estou aqui para te ajudar, no que precisar. - ela envolve seus braços em volta do meu corpo, e me abraça fortemente.

Assim que Michonne deixa o quarto, arrumo minha mochila para a busca. Não estou nem um pouco animado ou com cabeça para isso. Porém, Michonne tem razão. Tudo o que precisamos é vencer essa guerra, pois, só assim vou poder ajudar a Ally.

Entro dentro do veículo escolhido para a viagem, descansando minha cabeça no banco traseiro. Ao meu lado se senta Enid. Não consegui falar com ela desde o ocorrido, mal consigo encara-lá. Talvez seja cedo demais para perdoar o que não posso esquecer.

O caminho é silencioso, e agradeço mentalmente por isso. Sei o que todos pensam e que querem opinar sobre o que está acontecendo. Mas eu não quero ouvir. Sei de cor o que cada um tem a dizer, e por mais que eles estejam certos, não quero escutar nenhuma opinião.

- vamos nos dividir. - meu pai ordena, assim que para o carro em frente à um pequeno bairro. - Eu e Michonne vamos para o leste, Tara e Daryl ficam com o sul, Carl e Enid vão para o norte.

Era só o que me faltava.

Vou na frente, me esquivando de qualquer conversa que ela queira ter, mas meu esforço é em vão.

- Carl?- ela me chama.

- o que você quer? - digo rude.

- me desculpa. Eu sei o quanto está bravo comigo e não quero forçar que me perdoe... só me desculpe. - sua voz é chorosa, porém sincera.

- eu posso te desculpar, Enid. Mas esquecer é uma batalha mais difícil.

Ela olha para mim, concordando com a cabeça.

- espero o tempo que for. - sua voz dispara.

************

A busca por suprimentos não foi um sucesso eminente, conseguimos alguns enlatados, porém, não muitos. Já estávamos chegando em Alexandria, podia ver através da janela do carro. Ainda mantinha o rádio transmissor em mãos, para qualquer notícia do outro lado.

Meu pai dirigia calmamente, e a brisa que atravessava a janela, fazia meu corpo inteiro se arrepiar. Eu observava as árvores no caminho de volta, a floresta ao redor da estrada estava quieta demais. Tão quieta que eu podia ouvir o som da respiração de cada um, dentro do carro. O céu está completamente nublado, como um aviso de que uma tempestade está por vir.

Senti um aperto no peito. Um vazio inexplicável. Como se algo ruim estivesse vindo, uma tempestade feroz. Meus pensamentos eram de Ally, porque parte de mim sabe que essa dor no coração, tem a ver com ela.

O portão de Alexandria estava sendo aberto, enquanto o carro se aproximava. Era bom poder voltar, ficar sobre a proteção desses muros, enquanto sou engolido por pensamentos cruéis e sentimentos ruins. Assim que desço do carro, percebo que tem algo errado, dava para notar a cara do padre Gabriel.

- está tudo bem, Gabriel? - meu pai pergunta, enquanto Tobin fechava o portão.

- temos uma visita. - ele responde, ainda com a mesma expressão. - É melhor virem comigo.

Gabriel nos direciona até a cela, no porão da nossa casa.

- assim que vi o carro se aproximando dos portões, reconheci que era dos Salvadores. De início pensei que fosse o Dwight, para nos dar notícias. Mas então, a garota saiu do veículo.

Assim que entro no porão vejo Rosita parada no batente da porta, certamente vigiando o lugar.

- uma garota? Que garota? - meu pai questiona.

- Rosie. - Rosita diz. - Ela disse que só vai falar com o Carl. Que se não for com ele, ela não vai falar com mais ninguém.

Meu pai me encara, e posso ver que ele está questionando se devo ou não entrar na cela. Eu não preciso pensar muito. Seja o que for, é sobre a Ally, posso sentir. Me adentro na pequena cela e a vadia fixa seus olhos em mim, um olhar cabisbaixo.

- o que você quer comigo, Rosie?- pergunto.

- tenho uma notícia para você, xerife. - sua voz era calma, mas o clima pesado demais. - Ally está morta.

Assim que ela pronuncia essas palavras, algo em mim se quebra. Meu pai olha para mim, mas tudo o que vejo é um borrão. As lágrimas rolam sem parar. Não pode ser real. Rosie só pode estar mentindo.

- ela morreu na noite de ontem, não resistiu aos ferimentos causados pelo tiro. Foi encontrada morta por mim, que estava vigiando a cela em que Negan a colocou desde que soube que ela ajudou vocês. Eu só vim avisar e dar meus pêsames.... - Rosie contava nos mínimos detalhes, mas tudo o que eu pensava era no quanto essa garota é uma mentirosa.

Quando dou por mim, estou com minhas mãos em volta de seu pescoço, sufocando a garota. Ouvia meu pai gritar para eu soltar, mas não era o que eu queria. Queria fazer essa vadia retirar tudo o que disse, porque é mentira.

- Carl, solta ela!! - meu pai gritava.

- diz que é mentira, sua vadia mentirosa. Ally não está morta. - eu soltei seu pescoço, e ela mal conseguia respirar. Meu pai agarrou meus braços, tentando me impedir de matar Rosie. - Não, pai. Diz que é mentira....

- sinto muito, Carl. - ela diz, passando a mão em seu pescoço.

Não. Não. Eu não acredito.

Consigo sair do aperto do meu pai e vou para fora dali, me direcionando para o portão. Meu rosto estava molhado pelas lágrimas que caiam, e meu corpo inteiro era pura adrenalina. Preciso ir até o santuário, não vou acreditar no que essa vadia disse.

- aonde você vai, Carl? - ouço meu pai, atrás de mim.

- não vou acreditar no que essa vadia disse, preciso ver com os meus próprios olhos. - digo.

- Carl, olha para mim. - ele diz me fazendo encara-lo. Seus olhos azuis me encaram por um breve momento, até algo atrás de mim chamar sua atenção.

Quando olho para trás, vejo Dwight, o fiel escudeiro, parado no portão. Seu rosto estava vermelho, e mesmo um pouco longe, pude ver lágrimas caírem silenciosas. Em suas mãos ele carregava meu chapéu, o mesmo que deixei com a Ally. Foi aí que eu tive a confirmação do que eu insisti em negar: Ally está morta.

Caio de joelhos no concreto dá rua, e ainda que a queda tenha doído, nada se compara a dor em meu peito. Algumas gotas de chuva, caem sobre mim, se misturando com minhas ​lágrimas. Posso ver Dwight ajoelhado mais a frente, e o resto é dor. Tudo é dor.

Obs: Me avisem se estiver confuso ⚠⚠⚠

The Daughter of The Enemy Onde histórias criam vida. Descubra agora