Revelações

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O jantar na noite anterior fora tranquilo na medida do possível. Não consegui prestar atenção no que meus pais me perguntaram ou no que conversaram entre eles. Lilith tentou me incluir nas piadas, mas eu não as entendi, ou não respondi, distraído com meus pensamentos.

Minha mãe estava orgulhosa de mim, meu pai apenas me deu um tapinha nas costas e parabenizou-me pelo emprego. Lilith estava radiante de felicidade e pediu para eu lhe contar tudo sobre a Casa Branca, e Thomas, obviamente. A única coisa que me fez rir foi saber que ela tinha uma paixonite por ele.

Minha mente ficou inundada de pensamentos caóticos e frenéticos durante toda refeição. Não conseguia pensar em outra coisa que não fosse no que Mike havia me dito. Era difícil absorver tantas informações. O fato de que eu estava correndo um perigo mortal ao me relacionar com Thomas me deixava bastante desesperado.

Acordei com meus olhos doendo e ardendo. Não havia dormido direito. Fiquei me mexendo na cama até as 3 da madrugada, com meu cérebro aceso igual um outdoor neon que não me deixava descansar. Foi impossível acordar e não lembrar instantaneamente da minha nova realidade.

Saber que Mike trabalhava para a organização que me considerava uma ameaça era pior ainda. Havia respondido a mensagem de Thomas da noite anterior dizendo que iria dormir em casa. Não obtive nenhuma resposta, mas eu também não estava querendo recebê-las, pois aquele tempo era bom para pensar. Não sabia mais como me portar na frente dele, se devíamos terminar o que quer que havíamos começado ou virarmos completos inconsequentes e colocar minha vida em jogo ao continuarmos juntos.

Era dia de semana, de trabalhar, mas eu não tinha mais vontade de ir para lá. Antes eu me sentia nervoso, ansioso e até animado por ir para a Casa Branca. Quais seriam as novidades do dia? Ao mesmo tempo em que eu desejava entrar no jogo político, também tinha medo só de cogitar fazê-lo. Sentia-me apático, estarrecido e resignado diante daquelas revelações de Mike.

Eu deveria pedir demissão? Tentei organizar minhas ações do dia. Primeiro: falar com Thomas e contar tudo o que eu já sabia; a partir disso, tentar encontrar alguma solução para a nossa situação.

Havia uma parte imprudente de mim que queria fervorosamente estar com Thomas e, com ele, ter uma relação "perigosa", "proibida". No entanto, minha outra parte preferia um namoro calmo com Mike. Então lembrei-me que com Mike nada voltaria a ser tranquilo como antes. E tudo seria sempre agitado com Thomas. Ambos tinham vidas secretas. Eu não poderia ter escolhido melhor minhas paixões?

Existia ainda todo meu medo de que meu romance com Thomas vazasse para o mundo. Ele havia sofrido para conseguir todo aquele prestígio, não queria me sentir culpado, caso descobrissem nosso relacionamento, por acabar com sua carreira.

Quando finalmente levantei da cama e fui até o banheiro, vi, pelo espelho, que minha aparência não poderia estar pior. Eu estava com os cabelos desgrenhados, olheiras e senti um pouco de mau hálito. Torci o nariz para o meu reflexo.

Resmunguei ao lembrar que precisava trabalhar. Os sentimentos de dúvida, terror e apreensão dentro de mim não me deixavam raciocinar direito. Com resignação achei melhor enfrentar meus medos logo e parar de ficar adiando o confronto com o inevitável.

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As risadas ecoavam pelos corredores brancos e me deixavam tonto e desnorteado. O clima geral era de felicidade e comemoração. Sorri ao constatar que eu era um pouquinho responsável, mesmo que indiretamente, por aquela alegria toda.

Não sabia se ia ser um acordo permanente, nem até quando aquele contentamento ia durar. Tudo podia acontecer. Mas eu já ouvia as conversas nos corredores e, pelo que parecia, a Rússia estava cooperando com os EUA na escolha de um território para ser cedido aos rebeldes. O que era ótimo, porque o silêncio da Rússia estava ficando amedrontador.

O PresidenteWhere stories live. Discover now