38 - Bônus - Soraia

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Minha vida em Girassol se resumia em quatros malas e uma caixa com pouco objetos.

Tudo começou a desmoronar de pouquinho em pouquinho, mas agora parecia um tsunami. Havia perdido uma amiga, o cara que eu amava e agora eu estava perdendo meu pai pra sempre. Sem falar que a minha vida tava arruinada.

Estava decidida a não voltar pra Girassol, não depois de ter sido humilhada, pisada, descartada como lixo. Talvez era a vida me castigando por ter sido uma vaca com a única pessoa que se importava comigo, que faria qualquer coisa pra me ajudar.

Agora eu tinha que pagar!

Já tinha pedido para levaram minhas malas para o carro, tinha deixado combinado com a Dona Carmen para buscar o carro depois na rodoviária e coloca-lo á venda.

Não iria sentir saudades daqui, apenas do Dr. João e da Heloísa eles me acolheram como se eu fosse da família, e a única coisa que eu fiz foi magoar Heloísa. E mesmo assim ela conseguiu passar por cima de tudo e me ajudar, ela era a única pessoa que eu confiava e sabia que tinha competência para cuidar e resolver todos os problemas da livraria. Ela era uma boa pessoa, tinha um coração enorme.

Não tinha ninguém pra se despedir de mim, mas por um momento desejo que Daniel aparecesse me pedindo pra voltar, me pedindo perdão e toda aquela bobagem dos romances. Mas era ilusão. 

Meu ônibus já estava no terminal, o motorista colocava minhas malas e a dos outros viajantes, no bagageiro quando escuto alguém me chamando, olho ao redor atrás da voz até que vejo Heloísa naquele vestido florido e suas botas, Ela sorri pra mim ao ver que tinha visto ela, mas ela não está sozinha, aquelas duas garotas estão logo atrás dela. A cidade dizia que as três haviam se unido para se vingar de Daniel, poucos diziam que elas haviam se tornado amigas.

Acreditava que naquela confusão toda, elas tinha conseguido tirar uma coisa Boa. A amizade.

"O que você Ta fazendo aqui? Faltou alguma coisa?" Pergunto ao me aproximar de Heloísa.

"Isso acabou ficando comigo." Ela me estende um papel, eu o pego então o reconheço. Heloísa vê o pânico em meu rosto e tenta me tranquilizar. "Tá tudo bem. Ele sabe?" Afirmo com a cabeça. Estava envergonhada. "Ele vai assumir esse filho?"

"Pra Ele, essa criança não é dele, e mesmo que seja ele mandou eu dar um jeito nisso. Ele não quer nada o atrapalhando."

"O que você vai fazer?" Heloísa me pergunta com cautela.

"Não tenho coragem de tirar. Mas também não sirvo pra ser mãe." Sinto meus olhos ficarem marejados, respiro fundo tentando não chorar.

"Ah, Soraia eu sinto muito por isso, pelo seu pai também. As coisas entre a gente, Ta mudada mas quero que você saiba que você ainda pode contar comigo, ainda mais agora."  Heloísa olha pro chão, sem jeito seus olhos também estão marejados.

"Obrigada."

"Eu não fui uma ótima amiga, te decepcionei, te trai espero que você me perdoe um dia por isso."

"Você amava o Daniel."

"Eu errei em ter escolhido um cara e não a sua amizade. Mas não se preocupe, você vai ter uma amiga de verdade, ou ja tem, duas na verdade. Quem sabe."

"Não faça nada que possa se arrepender depois."

"Não vou." Olho em direção ao meu ônibus todos os passageiros já haviam entrado, só faltava eu. "Tenho que ir."

"Se cuida, mando um abraço pro seu pai."

"Tchau." Me viro e volto em direção ao ônibus, Sem olhar para trás entro no ônibus, e assim deixo minhas lagrimas caírem.

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