Capítulo 28 - Talvez eu tenha tido um plano.

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O teste para o papel na peça era hoje e durantes estes dias eu fiquei apenas me cobrando e inconformada com tudo o que estava acontecendo. Eu não me importaria tanto se estivesse competindo com outra pessoa, mas o fato de ser a Alice, isso tornava a situação mais triste e desesperadora ainda. Porém, o choro dura uma noite e a alegria vem pela manhã (eu li isso em um livro uma vez) e é por isso que eu tive uma ideia.

- Bia, boa sorte! - disseram a Gabi e o Carlos.

Eu estava nos bastidores do auditório enquanto a Alice se apresentava e logo seria minha vez. Infelizmente a professora não nos permitiu ver o teste uma da outra, mas tudo bem, quanto menos energia negativa ela me mandar melhor. Geralmente eu não ficava muito nervosa, mas nesta eu estava muito, muito mesmo. Não era pelo fato de competir com minha meia irmã (eu sempre fico enjoada quando penso nisso) mas porque o plano podia dar errado, e eu esperava de verdade que tudo desse certo.

- Beatriz Almeida! - disse a professora.

É agora, Bia!

Olhei para todas aquelas poltronas vazias - exceto uma - e vi minha professora que na verdade estava sendo uma jurada anotando algo em sua prancheta.
Fechei os olhos, respirei fundo e fui. Senti a música. A cada passo que eu fazia me vinham as lembranças da Dagmar me proibindo de dançar por alguns meses. Se eu dançasse só agora não me faria mal, não é mesmo? E mesmo se eu esperar o tempo certinho ainda terei um mês para ensaiar. Eu só queria conseguir aquele papel. Naquele momento senti que as coisas dariam certo para mim, que conseguiria o papel na peça e que poderia fazer o meu solo no grande dia. Tudo o que tinha que fazer era me esforçar e dar o meu melhor, não seria uma costela recentemente quebrada que me atrapalharia naquela luta.
E quando menos esperei a música parou e eu olhei para a professora. Estranho, eu não me lembro de ela ter uma irmã gêmea. Senti algo diferente. E não era a emoção de quando a dança acaba e o som dos aplausos ecoam no salão, dessa vez meu corpo queimava e me senti zonza. Por que meu corpo doía tanto? Penso nisso e me vejo cair ao chão com uma dor latejante.

- Bia! - disse correndo em minha direção - O que aconteceu?!

- Dor... Minha... Prof... Professora... Não... Deixou... Eu... Dançar... - as palavras eram como facadas no meu peito, doía a cada vez eu falava.

- Chamem uma ambulância agora! - ela gritou para alguém.

|•|

Até a ambulância chegar e o caminho para o hospital foram os momentos mais longos da minha vida. A dor era incessante e até para respirar doía, tudo doía. Tomar aquele tanto de remédios e injeções e colocar uma faixa horrorosa na costela também doíam, psicologicamente.

- Senhorita Beatriz? - disse a médica entrando no quarto - Você teve sorte que não foi mais grave caso contrário poderia ter arrumado muitos problemas para você!

- Eu sei...

- Aqui estão todos os remédios que ela precisará tomar. - disse para minha mãe - E se cuida, viu? - me disse.

- Obrigada, doutora! - ela disse.

- Podem ir, estão liberadas.

Durante todo o percurso até minha casa, minha mãe não disse nada, mas ela não parecia estar zangada, apenas preocupada.

- Ramires, pode ficar quietinho que sua dona está machucada! - disse quando abriu a porta do apartamento revelando um cachorrinho empolgado.

- Bia, deite um pouco e descanse. - ela dizia arrumando meu travesseiro na cama - Aquelas injeções dão sono. Qualquer coisa me chame, está bem?

- Obrigada. - e sorri.

Eu já sei que meu plano foi uma péssima ideia, mas eu só queria dançar. Eu não sabia que tudo isso aconteceria e que mais uma vez eu ia tirar minha mãe do trabalho dela para me socorrer. Mais uma vez foi culpa minha, se ela perdesse o emprego jamais me perdoaria. Apesar que me sentir mal não resolveria nada, eu teria que arrumar um emprego.
Tomara que a Dagmar não fique sabendo de nada, ou então estaria metida em sérios problemas e muitos sermões teria que escutar.

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora