Capítulo 40 - Descobertas não tão escondidas.

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   O que eu tinha feito? Será que o fato de eu ter levado uma bolada no nariz era caso de eu ir para a direção? Não importava se eu era inocente ou culpada, sempre ficaria nervosa estando naquela sala assim como eu fiquei no dia em que meu despertador tocou heavy metal na sala de aula no ano passado. 

- Sente-se. - ela diz mostrando uma das cadeiras.

   Eu estava nervosa.

- Eu preciso que seja muito sincera comigo, entendeu?

   Apenas acenti. O que estava acontecendo?

- O professor Leonardo, o de Física. - ela chega mais perto de mim - Ele... Ele tem algo contra você?

   Algo contra mim?

   Eu não sabia se ele tinha algo contra mim mas que ele não ia com a minha cara isso é óbvio. Mas será que eu devia contar isso à ela? Minha mãe sempre diz: "Não podemos devolver na mesma moeda." Mas e se eu não disser ele poderia ser capaz de fazer outra coisa, no caso de ele ter errado minha nota propositalmente.

- Eu só sei que ele é implicado comigo. - digo.

- Mas você já fez algo para ele agir desta maneira?

   Provavelmente ela não lembraria, então contei da vez que me trouxe aqui por desenhar em suas aulas.

- O que eu vou te falar deve ser mantido entre nós, está bem? - ela me encara - Eu tenho certeza de que o professor errou sua nota de propósito, e andei olhando sua prova de recuperação e na verdade você não tirou zero, e sim nove! Então estarei tomando as devidas providências!

   Nove? Eu? Em... Física?!

- Não despeça ele não, coloque-o em outra função. É que eu me sentiria culpada.

- Vou pensar no seu caso, Beatriz. Agora pode voltar às aulas!

   Se eu fui burra em pedir para que ele não seja demitido? Talvez. Mas a verdade é que eu estaria sendo má da mesma forma que ele é, eu espero que a vida dele uma lição naquele homem.

                        |•|

   Contei tudo para meus amigos. Eles eram de confiança. Eu pensaria que eles pudessem ficar surpresos, mas essa não foi a reação deles. Por um momento pensei que eles já sabiam que o professor Leonardo não era muito certo e que poderia muito bem fazer algo tão terrível com qualquer um que cruzassem planos.

- A gente já sabia! - a Gabi diz.

   Ou seja, eu estava certa. Eles realmente desconfiavam que a nota errada nas duas provas não eram apenas um erro, tinha sido proposital.

- Olha, Bia - diz o Carlos - Nem eu que conheço esse homem já tive certeza quando vocês me contaram que ele fez tudo isso de propósito.

- Pois é. - falo desanimada.

   Estávamos nos horários após as aulas para os ensaios da peça. Neste dia, todas as equipes (cenografia, roteiristas, atores, figurinistas, etc.) teriam de ficar um bom tempo naquele auditório, cada grupo com mil e uma tarefas para serem feitas.

- Pessoal, já chega de conversa e cada um para suas devidas funções. - a professora dizia - O representante de cada equipe está com uma lista do que é para ser feito. Agora direto para o trabalho! - ela dizia batendo palmas.

   E fomos cada um para o que tínhamos de fazer. A verdade era que eu preferia trabalhar individualmente, mas aqui seria impossível, pelo menos a representante do meu grupo era bem legal, embora eu tenha visto alguns líderes não tão legais assim. Devo ter ficado cerca de uma hora procurando objetos específicos no depósito da escola e quando finalmente a minha lista para procurar "tesouros" naquele imenso porão se findou, pude voltar a superfície e respirar ar puro.

- Gente, cinco minutos para beberem água! - diz a representante da minha equipe.

   Peguei minha garrafinha e me escorei na parede lateral do auditório enquanto observava vários alunos que iriam interpretar os personagens, eles pareciam bastante empolgados. O Lucas era um deles. Ele estava lindo - como sempre - movimentando seu corpo à cada cena. Para ser bastante sincera, eu não gostava, gostava dele mas eu ainda tinha uma queda gigante por aquele menino dos olhos claros. E muita vontade de beijá-lo também. Mas acho que todo aquele - quase - sentimento que eu tinha por ele no começo deste ano - e dos anteriores - tinha sumido.
   Vi o Caíque também. Ele mexia em um notebook e dizia algo enquanto os alunos atuavam. Eu precisava falar com ele, e ainda não sei o que tinha para me contar. No final do ensaio eu falaria com ele.

- Gente, voltando ao trabalho! - a líder diz.

   Eu agradecia todos os dias por ter ficado na cenografia, não era como a dança mas era muito mais legal do que as outras funções.

- Turma, vocês estão liberados! - a Juliana diz - Fiquem atentos aos horários porque a peça está chegando!

   Juntei minhas coisas e fui em direção àquele menino do cabelo caramelado.

- Oi! - digo empolgada.

- Garota do hospital? - ele coloca sua mochila nas costas e me encara - Vejo que seu nariz está ótimo!

   Meu nariz!

   Devo ter feito uma cara de espanto por achar que tinha algo de errado com meu nariz que logo, logo ele já foi dizendo:

- Não foi uma ironia, eu não me chamo Beatriz!

- Engraçado você, não é mesmo? - digo ironicamente - Você tem alguns minutos? É que preciso te contar algumas coisas.

   Ele já ia me responder quando a Gabi nos interrompe.

- Bia, eu já vou indo, vamos?

- Não, pode ir. Vou a pé.

- Certeza?

- Tenho sim. Eu preciso conversar com o Caíque!

- O.k. Tchau! - e foi-se acenando para nós.

   O Caíque e eu caminhamos até a entrada do Absoluto. O sol estava na temperatura perfeita com aquele vento gélido.

- Agora vai me contar? - ele diz.

- Você fica andando de um lado para o outro, como que eu vou te contar?

- Eu vou te acompanhar até a sua casa, oras! - diz me encarando.

   O.k. Então!

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora