05: Aulas de Literatura

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Alguma coisa diferente aconteceu comigo na escola esta manhã.

Talvez devesse ter registrado em minha agenda de palavras complexas com caneta vermelha, mas vindo de quem veio, aposto que não passou de uma piada. Estava na aula de literatura avançada, onde os professores pareciam realmente gostar da minha poesia e pediram-me para escrever alguns poemas sobre qualquer coisa que viesse à minha mente.

Eu os escrevi, mas acabei não gostando deles, amassando os papéis e jogando-os na lata de lixo. Minha professora estava ocupada ao telefone e não percebeu quando saí da sala. Antes do intervalo, fui ao banheiro, lavei meu rosto e fui ao meu armário. Ao abrir o cadeado, um papel amassado caiu e vi que eram as minhas anotações da aula de literatura avançada. Meu poema dizia:

"Um doce sonho te conduzirá,

Tente sentir algo...

Você pode me notar?

Em silêncio oblíquo,

Eu invado a tenda onde habitam pessoas de papel...

Elas falam comigo..."

(...)

Eu não conseguia encontrar uma palavra que rimasse com 'papéis', nada parecia dar certo na minha cabeça. Mas então, virei a folha amassada e vi a letra dele lá. Era a letra de Noah, torta e colorida. Ele nunca tinha escrito nada para mim antes, mas eu o vi rabiscando em sua carteira na aula de biologia antes de ontem. Eu tinha certeza de que era sua caligrafia. Pela aparência, parecia que ele tinha escrito com o papel apoiado na parede. E suponho que sua caneta vermelha havia estourado, pois havia um grande borrão no final da folha.

Li o que ele havia escrito:

"E à meia-noite, eles vão para seus bordéis.

Eu me deito com a minha alma,

Questiono a lua e as estrelas.

Estou no meu espelho

E me pergunto: Você terá proeza na solidão?

Existe algo melhor

Do que comer ovos fritos com macarrão?"

P.S: Eu sou um poeta pobre, estou nesta classe para continuar na equipe de basquete. Seus olhos são lindos!"

"Meus olhos... Quando foi que Noah notou meus olhos? E por que ele se incomodou em completar meu poema?" - Questionei a mim mesma.

Quando ergui o olhar, vi Noah sentado nas escadas do terceiro andar com seus amigos. Edgard e Alice estavam abraçados, enquanto Kate conversava animadamente com eles. Edgard, porém, não perdeu a oportunidade de me insultar: "E aí, ainda não arranjou alguém para te pegar?" ele gritou, acompanhado de risadas dos demais. "Se quiser, posso te apresentar uns caras que não são muito exigentes. Você nem precisa estar acordada, Haha!".

Ignorei-o completamente e concentrei-me em Noah. Ele ria de uma piada de Edgard, mas parecia desconfortável com o comentário ofensivo. Seus olhos encontraram os meus por um instante e eu senti meu coração acelerar. Será que ele tinha ouvido a provocação do amigo?

Edgard era um típico defensor da cultura do estupro, um estúpido. Será que ele conhecia homens que faziam sexo com garotas desacordadas sem o consentimento delas, como Noah? Eu me coloquei no lugar de Alice por um momento e me perguntei: quando foi a última vez que ela teve relações sexuais com Edgard por vontade própria? Quando foi a última vez que ela disse não para pessoas como ele? Mas minha avó me disse uma verdade: não podemos nos colocar no lugar de alguém sem ter passado por algo parecido. Assim como minha mãe, Alice passa pelas mesmas coisas, e ambas não sabem que um simples "não" poderia acabar com tudo isso. A cultura do estupro é alimentada todos os dias, quando meninas como Alice são usadas por seus namorados e sorriem como se fosse normal. Quando amigas como Kate sabem das coisas horríveis que o namorado de sua amiga faz e não fazem nada para mudar. Ou quando um cara como Noah se cala em uma situação dessas por medo de perder a amizade com alguém popular.

A Garota Que Não Tinha Cores: Yellow - Livro 01Where stories live. Discover now