Capítulo 8

749 85 27
                                    

"A verdade é inconvertível, a malícia pode atacá-la, a ignorância pode zombar dela, mas no fim, lá está ela."

-Kim??

-Oi mãe.

Cumprimentei, passando por ela e entrando em sua casa. Ela me encarava com uma cara surpresa e eu podia apostar o que ela estava pensando naquele momento, pra ela, eu só a procurava quando estava com problemas e precisava de ajuda. Como daquela vez em que roubei um dinheiro do mercadinho do bairro e o dono me reconheceu, precisei sumir por uns dias e foi pra casa dela que eu corri. Mas naquele momento não era por isso que eu estava ali, deu saudade dela e do meu irmãozinho que fazia tempo que não via.

-Oi Júnior. – Disse ao garotinho que encontrei na sala, assistindo TV e parecendo distraído.

-Kiiiim!

Sorriu alegremente, vindo me abraçar pela cintura. Apesar de não ser tão próximo, eu gostava do meu irmão e ficava feliz por saber que ele iria crescer e sem duvidas se tornar uma pessoa melhor e menos cheia de problemas como eu. Sua infância era bem vivida e ele tinha um pai que, embora fosse separado da minha mãe, era bem presente na vida dele e o amava muito.

-Ei garoto, como você cresceu, tá com 15 anos já? – Brinquei bagunçando seus cabelos.

-Não né, tô com 5.

-Juninho, meu filho, vai buscar aquele brinquedo que você disse que iria mostrar ao seu irmão quando ele viesse.

Minha mãe chegou onde nós estávamos, falando com meu irmão e dando um jeito de fazer ele sair dali. Logo me toquei que ela estava prestes a questionar coisas que meu irmão não poderia ouvir, por isso, me sentei e esperei que ela começasse. E não tardou:

-Problemas?

-Não, nenhum. – Respondi tranquilamente e despreocupado, pois pela primeira vez aquilo era verdade. – Tava com saudades de você e do Juninho.

-Você sabe que pode vir quando quiser, né. Alias, podia até virar morar aqui.

Não tinha uma vez em que minha mãe não tentava me arrastar pra morar junto com ela novamente, sorri sem jeito, pois sabia que ela estava pensando em como poderia me controlar e finalmente me fazer tomar rumo estando mais próxima.

-Ah não, eu tenho o colégio e lá fica mais próximo pra mim. – Recusei.

-E como anda? Fico feliz que não tenha desistido.

-Já me acostumei. – Dei de ombros. Nunca pensei que a escola seria um dos menores problemas.

-Pelo visto você tomou jeito mesmo.

Ela comentou e eu notei um toque de orgulho misturado com o sorriso. Olhando pra minha mãe, através dos seus óculos de graus e seus cabelos tingidos de vermelho, tive que reconhecer que o que ela podia ter feito naquela época pra que eu ficasse bem, ela fez. O problema é que não se esquece de uma coisa como aquela tão facilmente.

-É... parece que tô. – Concordei – Tô namorando.

Na verdade eu não sei porque disse aquela ultima parte, nem fazia sentido pra conversa e eu bem sabia que aquele namoro não era de verdade.

-Sério? Que bom, fico feliz. Eu sempre te via com as meninas por aí, mas você sempre falava que não queria namoro. Essa deve ser especial então.

Minha mãe chegou naquela conclusão rapidamente, até compreendi, dado meu histórico, aquele era um enorme avanço e só podia ter partido de alguém especial. Embora especial não seja a palavra que eu usaria pra definir as coisas, eu tive que reconhecer que o garoto era diferente, bem diferente do que podia se esperar e do que eu imaginava. Não que eu estivesse apaixonado, nunca estive e nunca iria estar, mas, de alguma forma, eu aprendi algumas coisas com ele e a convivência se tornou até legal.

Pela Honra do Meu PaiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora