Figueira

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Abracei o travesseiro com mais força sentindo os músculos tensionarem. Fechei os olhos enquanto cerrava os dentes, o perfume conhecido invadindo minha mente enquanto inalava o ar fresco vindo da janela entre-aberta. Ilusão. A palavra saltou de meus lábios transformando meu pensamento em fala. Tentei relaxar o corpo coberto pelo edredom, olhei para o relógio digital sobre o criado mudo que marcava o inicio da meia noite. A chuva ainda caía lá fora, mas a janela permanecia aberta. Hora ou outra os galhos da pequena figueira batiam contra o vidro fazendo a falsa esperança brotar em meu peito adolescente.

Soltei o travesseiro enquanto empurrava o edredom para longe com os pés deixando meu corpo vulnerável ao clima. Me voltei para cima encarando o teto, meu braço repousado sobre a testa, as lembranças do dia anterior realmente vivas diante de meus olhos. A discussão nem foi assim tão importante, o ponto era que eu era quem sempre dava o primeiro passo, a primeira a pronunciar a palavra "desculpa", mas naquele dia eu não o mais uma vez para a janela entre-aberta, a cortina esvoaçando com a brisa. Orgulhosa. Sussurrei com certo amargo na boca, morrendo por talvez ter sido o motivo pelo possível bolo em um de nossos encontros noturno. Mas e a chuva?

Suspirei tornando a abraçar o travesseiro macio dando as costas para a janela vazia. Talvez o universo estivesse conspirando contra nós, se não estivesse chovendo certamente eu saberia que sua ausência era ressentimento pelo acontecimento do dia anterior. Fechei os olhos desistindo de tentar entender, o edredom não me fez falta uma vez que o frio não me incomodava. A neblina do sono pouco a pouco tomando minha mente mesclando diversos pensamentos em um só, foi quando ouvi o ranger da madeira.

Abri os olhos com surpresa encarando a porta do meu quarto. Escutei o trinco da janela sinalizando que o invasor já se encontrava dentro do pequeno aposento, o vento frio já não chegava mais ao meu corpo. Um som mais alto soou e de acordo com o enredo o individuo tinha esbarrado na mesinha do computador.

– Merda! - Sussurrou com a voz rouca me fazendo querer rir, mas não o fiz.

Continuei com meus olhos fechados atenta a qualquer mudança no ambiente. Senti o colchão ceder lentamente com o peso do corpo se posicionando atrás do meu. As pontas dos dedos macios tocou em meu ombro deslizando suavemente ao longo do braço, um arrepio me invadiu com o toque sutil e eu podia jurar que a proprietária do toque macio estava com um sorriso satisfeito nos lábios carnudos.

Os dedos abandonaram a pele de meu braço para repousar em minha cintura. Brincou com a barra da camiseta antes de passar para meu ventre. O corpo se aproximou mais colando em minhas costas, os resquícios de chuva em meu corpo quente dava um gostoso contraste. A vontade de quebrar o silêncio me invadindo.

– Me desculpa? - Ouvi o sussurro direcionado a mim.

Engoli em seco, minha respiração ficando cada vez mais difícil. Apertei mais o travesseiro contra o peito afundando meu rosto ali. Péssima ideia. O ar quente batendo contra minhas costas desprotegida fez todos os pelos de minha nuca se oriçarem. Respirei fundo tentando não chorar com a situação. A verdade era que eu transparecia ser forte em qualquer situação, mas com ela era completamente diferente. E das frases mais idiotas e palavras mais piegas; Ela era minha kriptonita.

– Tudo bem. - Disse baixo, mas o suficiente para o ser atrás de mim ouvir. - Pensei que não viria hoje. - Confessei me xingando logo em seguida por sempre falar demais.

A mão em minha barriga se firmou me puxando mais para si.

– Por que? - Senti o nariz perfeito traçar o caminho do trapézio.

– Chuva. - Respondi incerta.

O trovão ao longe fortaleceu minha resposta e informou que as nuvens carregadas banhavam a cidade sem piedade.

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