37 - SEGUIR

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  "A vida é uma grande, uma gigantesca confusão. Mas essa é também a beleza dela... "

Gayle Forman - Se Eu Ficar

       Nada é dito nos minutos seguintes; todos parecem ter algo a dizer, mas se limitam ao silêncio e olhares vagos, nesse instante Caleb levanta dotado de um ânimo inexplicável e sem motivo aparente:

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       Nada é dito nos minutos seguintes; todos parecem ter algo a dizer, mas se limitam ao silêncio e olhares vagos, nesse instante Caleb levanta dotado de um ânimo inexplicável e sem motivo aparente:

" Alexei, já deu né?! Instaurou o caos aqui e ainda quer converter todo mundo em gay assim como ele, por mim, você saí! " – dá para ver o contentamento em seus olhos ao disparar as palavras, o ódio que ele insiste em nutrir por mim, não espero até a próxima acusação ser feita:

" Sua escolha não é nenhuma novidade para mim! " – Retruco com fervor, atraindo seu olhar de gavião enraivado:

" Eu escolho você! Não tem mais irmandade entre nós e não quero ver tua cara até o final do ano! " – intervém Jp para o meu espanto, suas palavras parecem atingir Caleb com a voracidade de um soco, que levanta novamente de seu lugar e começa a se dirigir em direção ao Jp á passos pesados e punho cerrado (do modo autêntico que faz sempre que está prestes a brigar), já percebendo suas intenções Jp faz o mesmo, e quando poucos passos separam os dois Benjamin se precipita entre eles:

" Por mim, o Alexei tem que ir, olha só a gente! Ele só trouxe confusão! E antes que você venha acusar, eu nunca terei e nunca tive NADA contra você ser gay... " – Me deparo novamente com um novo Ben; grosseiro e estúpido, um bem que se deixa levar, ludibriado pelas inverdades, não é nem de longe o reflexo do Benjamin carinhoso e bondoso que conheci ao chegar aqui, e isso me dói:

" Vaza, Caleb! " – dispara Pierre abruptamente – " você deixou a gente na mão, desconsiderou seus irmãos e tá todo problemático, eu não te reconheço mais cara! " – Dessa vez Caleb não tem a audácia de comprar briga com Pierre, mas assume um semblante surpreso e dúbio, estou tão espantado com a alegação do Pierre que quase esqueço que estamos empatados, querem que eu saia, mas ele é tão indesejado aqui o quanto eu, e pera aí! Porquê todos me olham? Sim! O último voto é meu !?:

" Eu voto em mim mesmo! " – A feição de espanto nos quatro agora é tão real quanto a raiva e o deboche em minhas palavras – " Não quero estar em um lugar onde 'TODOS' me aceitem, estou muito acima disso e não lembro de ter jogado minha Autoestima no lixo! " – Digo por fim, me dirigindo em direção ao 'caixa-roupas' ao passo que recolho todos os pertences que larguei pelo quarto:

" Quê!? Não cara, não faz isso, o problema aqui não é você! " – Dispara o Pierre surgindo em meu caminho, o modo como me olha é encantador, a preocupação em sua feição é tangível, por um breve momento quase esqueço que não devo me apaixonar por ele em nome da sólida amizade que estamos construindo:

" Eu vou ficar bem... tá tudo bem... " – murmuro tocando seus ombros de leve numa forma de acalanto, um riso bobo escapa em seu rosto e no meu, o mundo se despedaça ao meu redor e aqui estamos, pierre e eu, dividindo um momento único desde que tropecei nos fios dos seus aparelhos e fui ao chão, ali eu ainda não sabia, mas estava dando o primeiro passo rumo ao melhor amigo que faria nesse 'infernato':

" Eu é que não vou ficar aqui! " – Se manifesta Caleb atraindo a atenção de todos novamente enquanto abre as gavetas do armário e lança cuecas, blusas e bermudas desordenadamente numa mochila pequena que parece não dar conta de tudo, Benjamin tenta se aproximar e incentivá-lo de que aquilo é loucura, mas é tratado com rispidez. Recobro os sentidos e desvio do Pierre, colocando tudo em minha caixa e vez ou outra percebendo os olhares de resignação que Jp me lança, juntamente com a feição de desaprovação que Pierre me encara...

Quando enfim termino de recolher minhas coisas Caleb já deixou o quarto, não se despediu de ninguém exceto do Benjamin, um abraço forte e longo e uns segredos cochichados no ouvido e pronto. Quanto a mim, doía, pois mesmo o pior dos ambientes, com o hábito, vira costume, e por pior que fosse admitir, era isso: ver os meninos se preparando para os jogos, acordar mais cedo pra admirar o Jp dormindo despojado como uma criança, a cantoria matinal do Benjamin no banheiro, o riso contagiante e os sustos do Pierre, tudo faria falta daqui em diante, isso é irrefutável, e mesmo com a certeza de que levaria certo tempo até eu me acostumar com o que quer que venha a seguir, é preciso seguir... Ponho a caixa repleta de pertences sobre os braços, respiro fundo e deixo o 211, Benjamin nem se dá ao trabalho de levantar o rosto e olhar para mim, tonando-se assim impossível de decifrar o que quer que esteja se passando em sua mente agora, ao contrário do Jp, que me encara quase com a mesma desaprovação do Pierre, nesse breve momento em que nossos olhares se cruzam é impossível não relembrar o maravilhoso momento que tivemos, algo que levarei comigo por muito, muito tempo...

Ao cruzar a porta, já do lado de fora, me deparo com o Pierre sentado ao chão, encostado na parede, pensativo, ao me ver ele levanta ligeiramente e num pulo:

" Então... é isso... " – diz ele, apontando com os olhos a caixa que carrego nos braços:

" É.... vai por mim, foi o melhor a se fazer... " – respondo – " Mas vai ficar tudo bem, não estou saindo do colégio, só mudando de quarto, e sei que você vai me visitar né!? "

" Pode apostar que vou! " – rebate ele e logo estamos rindo feito bobos, de nada, e de tudo ao mesmo tempo, quando Pierre surpreendentemente me envolve num forte abraço:

" Não importa o que digam, você sempre será mais homem do que ele... " – Não há nada a perguntar, ambos sabemos de quem se trata, e nesse instante deixo cair as lágrimas que despontam em meus olhos, nosso abraço termina e Pierre percebe minha vergonha por estar chorando, ao notar que não consigo enxugar as lágrimas ele levanta a blusa e faz isso por mim, não posso confundir as coisas:

" Pronto! Agora vai lá moleque! " – dispara ele, e com um último olhar sigo pelo corredor, sua imagem diminuindo cada vez que olho para trás até o momento em que ele entra e fecha a porta, adeus, 211...

...

O corredor parece assustador a noite, o vazio, todos recolhidos em seus dormitórios, o silêncio, nada além dos ruídos do meu chinelo contra o piso encerado, ainda não sei como abordarei o diretor para solicitar uma troca de quarto, tendo em vista que devido ao incidente de mais cedo, muito provavelmente meu rosto ainda está vívido em sua memória e sem dúvidas passarei por outro interrogatório. De repente ouço um som ressoante, passos, atrás de mim, se intensificando e aproximando cada vez mais, quando finalmente crio coragem para me virar, Pedro está projetado diante de mim com uma expressão que bombeia entre o choro, o medo e o espanto:

" Eu... preciso de sua ajuda! " – dispara ele ao passo que me arrasta pelo braço sem que eu tenha tempo de formular qualquer pensamento:

" Calma, espera! Eu, Eu preciso ir, Tenho que solicitar, uma troca de quarto! " – digo, quando enfim consigo me desvencilhar de seu punho:

" Vem... você não precisa mais se preocupar com isso! " – é sua última palavra, hesito por um instante, e então sigo seus passos...

 você não precisa mais se preocupar com isso! " – é sua última palavra, hesito por um instante, e então sigo seus passos

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Alojamento dos Héteros - Romance Gay (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now