. 1 . O Arcanjo

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(Século 17, Norte da Escócia)

Era uma tarde ensolarada de primavera. As flores ainda desabrochavam após um rigoroso inverno. Os perfumes se misturavam na brisa, deixando o lugar com um aroma floral pungente, porém a garotinha não se importava com o inebriante perfume daquela primavera.

Sentado em uma nuvem, tão alto quanto possível, ele brincava com as brisas que fazia. Às vezes, leves e suaves, outras, fortes e vigorosas. E em um pequeno instante, olhou para baixo.

Viu uma pequena humana, os cabelos tão negros quanto uma noite sem lua e estrelas. Pele branca como a mais pura neve do inverno. E os olhos, uma coloração que ele apenas poderia comparar com as folhas das árvores.

Os anos passavam e era assim todos os dias. Ele à admirava de seu mundo, acima das nuvens e muito distante dos olhos dos curiosos humanos.

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— Você sabe o que fez Azriel? — gritou seu irmão mais velho. — Nós temos apenas duas regras e você às quebrou.

Azriel olhava o irmão andar em sua frente.

— Eu sinto muito Miguel mas, eu amo Anna.

Miguel para e o encara. Além de mostrar as asas para uma humana, Azriel está falando de amor?

— Amor, Azriel? — Miguel o olha como se não acreditasse que ele havia dito isso. — Amor é algo impossível para nós. Não somos como eles, irmão.

— Porém é Miguel. Me escuta — coloca a mão no ombro de Miguel. — Sinta o que eu sinto.

Miguel é surpreendido pelos sentimentos de Azriel. É uma explosão de coisas boas. É, realmente, amor.

— É isso o que os humanos sentem quando amam — ele fecha os olhos. Os sentimentos de Azriel, são muito fortes.

— Entende agora irmão?

— Azriel eu... — Miguel abre os olhos e suspira. — Não posso ser conivente com isso. Eu sou o maior nesta Ordem, e mesmo você sendo meu irmão, eu não posso deixar isso sem punição. As regras são sagradas.

Azriel não queria que Miguel o deixasse sem punição, pois o que fez é extremamente grave. As regras são sagradas para a Ordem dos Arcanjos, que é a maior na Ordem da Luz.

Anjos de menores Ordens, podem ser vistos pelos humanos – sem mostrar as asas. Já, Arcanjos como Azriel, não podem ser vistos e muito menos, mostrar as asas. E essas duas coisas Azriel fez com Anna.

— Eu sinto muito Azriel.

— Não sinta — sorri. — Eu quero que o faça.

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— Você terá uma vida feliz com sua amada, meu irmão — fala Miguel. — Mas seus descendentes não o serão por completo. — Miguel reflete por alguns instantes. — Eu deixarei que eles tenham nossos poderes, mais fracos é claro, e as asas, mas não serão Anjos nem imortais.

Continuou.

— Eles serão perseguidos e iludidos pelas Sombras, assim como Anjos de menor Ordem.

Miguel suspira com o que os descendentes de seu irmão, agora um mortal, iram se deparar ao longo de suas vidas.

— Sua décima descendente será aquela que provará que sua família, merece ter nosso perdão. Virá à ser a mais poderosa de todos eles. Poderá ser, talvez, mais poderosa que eu...

Miguel foca seus olhos em um futuro distante.

— Será à última com nossos poderes. Será tentada pelas Sombras, irá resistir por algum tempo, mas depois nem eu sei o que ela fará — suspira. — Ela irá se deparar com o pior e o melhor dos humanos. Se esconderá no meio deles. Não será imperceptível, pois chamará muita atenção.

— Meu último descendente será uma menina?

— Eu não disse que seria a última, eu apenas disse que ela será a última que terá nossos poderes. — Miguel olha para seu irmão. — Será uma mulher incrível. Todos nós, nos orgulharemos dela. Ela será diferente dos outros descendentes.

Miguel suspira novamente e continua.

— Apesar de ser metade Arcanjo, muitas vezes os defeitos de sua metade humana faram ela se questionar sobre a Luz. Passará por coisas difíceis. A parte humana fará com que ela sofra muito, mas também será essa parte que mais lhe dará forças.

Trilhos de Aço: Entre a Luz e as SombrasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora