. 9 . Cansaço

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(S/N) entra no auditório.

No seu caminho até o prédio, ela nem olhou para trás. Não quis olhar para trás.

Está se sentindo tão estúpida, mas não foi sua culpa se Sofia havia parado abruptamente fazendo-nas se colidirem – e (S/N) apenas segurou na cintura de Sofia para que ambas não caíssem de cara no chão coberto de neve.

(S/N) ficou parada na porta do auditório, alguns passos para dentro, olhando Alice em cima do palco fazendo seu discurso.

— Como vocês bem sabem, e já viram um deles aqui em cima, os dois donos da Universidade Sillas estão aqui hoje.

(S/N) revira os olhos – talvez seja um mau-hábito de sua parte – para as palavras da reitora.

Tudo o que importa é o dinheiro, não é mesmo? pensou com um sentimento de amargor no fundo da garganta.

A vida inteira (S/N) teve o privilégio de viver no luxo e conforto de mansões, apartamentos divinos e quartos de hotéis com suas decorações em ouro e seus lustres de cristais – mas isso não lhe fez cega para as coisas horríveis que acontecem no resto do mundo.

Mas o que realmente preza em sua vida, é a família.

Se (S/N) tiver apenas seu pai e sua avó junto de si, em uma simples cabana perto de um lago calmo, esse seria seu paraíso particular perfeito.

Gritos, ovações e assovios são ouvidos da platéia, o que faz (S/N) se focar no real presente.

Coisa mais sem sentido.

(S/N) não entende essa influência que sua família tem. Tudo bem que é uma família com um sobrenome de peso – todos os três sobrenomes que carrega, são importantes de formas diferentes –, que tem tradição em muitas coisas.

Mas é como se todos que conhece, fossem "hipnotizados" por seus sobrenomes – algumas vezes são hipnotizados pelo interesse, pelo dinheiro.

Uma mão pousa no ombro de (S/N) a fazendo congelar pensando ser Sofia.

— Senhorita Kassttro — não é a voz de Sofia, o que faz (S/N) respirar aliviada.

(S/N) se vira e encontra a secretaria de Alice.

— Emma, certo? — a mulher balança a cabeça positivamente. — Aconteceu alguma coisa? — perguntou em um tom baixo, para não perturbar ninguém.

Emma olha para o palco no momento em que Alice está terminando seu discurso.

(S/N) não escutou boa parte do discurso da reitora e por isso não tem como opinar. Mas ao que parece, o resto dos alunos gostaram do tal discurso de boas-vindas.

— E sejam muito bem-vindos à mais um incrível e maravilhoso ano na Universidade Sillas de Toronto — mais gritos e ovações. — Agora vou deixar vocês com alguém da idade, ou até mais jovem que vocês. É a primeira vez dela neste campus, então dêem as suas boas-vindas à ela (S/N) Kassttro — anuncia correndo os olhos pela platéia, tentando encontrar (S/N).

A atenção de (S/N) é roubada por Emma novamente.

— Eu vim pra levar você até lá — diz apontando para o palco.

No automático, (S/N) apenas segue Emma até o palco.

(S/N) sente seu estômago revirar dando cambalhotas e saltos mortais. Quando isso aconteceu, cogitou seriamente em dar meia volta e fugir correndo feito uma covarde.

Em cima do palco, Alice sorri encorajando (S/N).

Alice à entrega o microfone e vai se sentar em uma das cadeiras na frente do palco e ao lado de Victor, que ao ver a filha, suspira aliviado – ele realmente pensou que (S/N) poderia fugir, novamente.

Na última vez em que Victor colocou tal pressão nos ombros de (S/N), ela fugiu de casa, fugiu até do país. Ela ficou incomunicável por aproximadamente uma semana.

(S/N) encara aquele "mar" de pessoas. Caminha mais para o centro do palco. Limpa a garganta algumas vezes, como se o nervosismo fosse desaparecer com isso.

Por fim, achando um lugar agradável para ficar, ela resolve começar seu discurso.

— Primeiramente, bom dia a todos — disse se surpreendendo  por não haver nenhuma palavra tremulada, como achou qe teria.

Ouviu sua voz retumbar alto pelas caixas de som espalhadas pelo amplo espaço do auditório. Continuou:

— Eu sou (S/N) Cotella Sillas Kassttro, como vocês já devem saber. E em segundo lugar, estou com fome então se eu parecer rude, me desculpem e culpem meu pai — sorriu para a platéia que à acompanha, isso faz seus nervos relaxarem. — Mas não vim aqui para falar que o senhor Kassttro não me alimentou, uma adolescente em fase de crescimento — isso tirou mais risos da platéia, alguns vindos até de Victor.

Sofia entra pela porta do auditório, e os olhos de (S/N) caíram nela como se um ímã os puxasse.

Ela fez questão de sentar o mais perto do palco possível. Sofia tem, de qualquer jeito, que tentar se desculpar com (S/N).

(S/N) se sente desconfortável com o olhar intenso e persistente de Sofia sobre si, mas não deixou se abalar.

— E é sempre bom voltar para Toronto.

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— E esse é um dos lugares mais bem situados de toda a cidade. Fica perto de tudo — falou Victor tentando convencer (S/N) à aceitar esse apartamento.

O olhar de (S/N) está perdido na paisagem além das janelas do apartamento.

Seus olhos estão focados em um parque, não mais do que, talvez, 5 minutos de distância.

Mesmo não sendo primavera, e a neve ainda cobrindo boa parte de tudo, a beleza do parque é evidente.

Suas árvores, apesar de estarem desprovidas de suas folhas deixando desnudos seus longos galhos, espalham-se por todos os lados. E mesmo não conseguindo ver muito bem, dá para saber que há um tapete verde por baixo da fina camada de neve.

Os olhos de (S/N) percorrem todos os lugares: o parque, as ruas ao redor, as calçadas, as pessoas.

Então seus olhos param na calçada, onde vê uma morena de cabelos compridos acenando com uma das mãos. Mas no momento em que piscou, a morena não estava mais lá.

Talvez seja sua mente lhe pregando alguma peça, ou o cansaço lhe fazendo ter alucinações com garotas morenas e de vestidos brancos.

É, sem dúvida é apenas seu cérebro lhe clamando por descanso.

— Eu fico com o apartamento.

Trilhos de Aço: Entre a Luz e as SombrasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora