Prólogo

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Cancún, México dezoito anos atrás

Um carro infernal parou em frente à igreja onde nos encontraríamos. Lúcifer estava com seu traje tradicional totalmente preto, com o cabelo arrumado de forma desleixada e os olhos refletiam o brilho da lua cheia.

Era estranho pensar que ele havia sido meu irmão um dia, ele era o mais glorioso dentre todos no céu, todos o idolatravam, mas mesmo assim não foi o suficiente, ele queria mais.

Depois de séculos ele não havia mudado nada, mesmo cabelo loiro e olhos azuis vibrantes, mas o que mudou ao cair dos céus foi seu modo de agir e pensar, não se importar com nada nem ninguém além de si mesmo.

— Olá irmão, noite agradável não acha? — Lúcifer questiona preguiçosamente.

— Não me chame de irmão, você perdeu esse direito há muito tempo, perdeu no minuto em que decidiu trair a mim e ao senhor. — Retruco furioso.

— Ainda não superou isso? — Ao falar isso Lúcifer joga a cabeça para trás e solta uma gargalhada.

— Viemos aqui com o objetivo de negociar e arrumar a bagunça que você causou.

— Tudo bem então, do que se trata? — Lúcifer perguntou indiferente.

— A mestiça nasceu, a criança concebida pelo céu e o inferno nasceu saudável, não sabemos qual será os seus dons, tentaremos retardá-los para que ela cresça junto aos humanos comuns.

— Você está dizendo que quer manter a filha do mais poderoso do mundo junto com seres insignificantes? — Lúcifer aumenta o tom de voz ao falar.

— Isso é necessário, ela terá que viver longe do nosso mundo, pelo menos até chegar a hora.

— Esse é o mundo dela também, quando chegar a hora os poderes virão à tona, ela não suportará, não vai conseguir controlá-los.

— Nós não temos outra escolha essa criança tem o destino do mundo em suas mãos e para a segurança de todos você estará proibido de vê-la. — Falo com certo temor.

— O que?! Você só pode estar brincando! Eu não recebo ordens de ninguém! — Lúcifer grita com a raiva tomando seus sentidos.

Lúcifer se aproxima ficando de frente a mim, nossos rostos ficam tão próximos que se faz possível sentir seu hálito de menta atingindo meu rosto, abaixo o tom de voz e falo de forma ameaçadora:

— Todos esperavam que dissesse isso, portanto, você será acorrentado no inferno e não poderá ter nenhum tipo de relação com a mestiça.

— Você está testando a minha paciência, anjo. — Lúcifer falou em um tom ríspido.

— Se aceitar de bom grado as nossas condições você poderá vê-la uma última vez.

— Seu arrogante, sabe que não podem me deter, muito menos aquela que contém meu sangue correndo nas veias, se algo ruim acontecer será responsabilidade de todos vocês, eu não irei interferir, não mais. — Lúcifer cede por fim.

Eu fiquei espantado por ter sido tão fácil, ele nem sequer tentou lutar ou falar mal dos céus e tudo que vem dele por fazê-lo cumprir ordens.

Lúcifer deve ter percebido a minha desconfiança, pois deu-me um sorriso travesso quando disse:

— Vamos, não precisa ficar com medo, é errado um pai querer ver a filha uma última vez?

Eu não respondi ao invés disso levantei voo com Lúcifer logo atrás de mim. A noite estava abafada, mas o vento que batia no meu rosto era gélido, a viagem foi tranquila e quando eu digo tranquila, é sem nenhum ataque surpresa por parte do diabo, nosso destino; Oregon, Estados Unidos da América.

Ao chegarmos até o local onde a criança nascera, subimos até chegar ao quarto onde estava a mãe da criança, mas eu percebi uma coisa, Lúcifer estava tenso.

— Você está bem? Sabe que é só uma criança, certo? — Perguntei com um meio sorriso.

— Quem disse que eu estou nervoso? Eu por acaso tenho cara de quem sente esse tipo de coisa? Por favor, eu sou o senhor do inferno, não tenho medo de nada.

— Vai dar tudo certo Lúcifer, é só ter fé. — No momento que falei isso o diabo fez uma careta.

Segurando a risada eu abri a porta do quarto, lá dentro deitada na cama estava a mulher que um dia fora minha irmã, uma anja muito respeitada também, mas deixou o diabo arrastá-la para o inferno com ele.

Ela estava com a aparência cansada, grandes e escuras olheiras estavam evidentes abaixo dos seus belos olhos, havia uma camada de suor em sua testa fazendo com que aparentasse ser tão frágil quanto uma mera humana.

O fato de um anjo ter engravidado era preocupante, anjos não podem engravidar, de forma alguma, era algo que ninguém entendia, por isso a criança era tão perigosa.

Lúcifer se aproximou da mulher deu-lhe um beijo na testa enquanto ela apontava para o pequeno berço ao lado de sua cama, ele se posicionou em frente ao berço examinando a pequena criatura contida ali.

— É menina. — Lúcifer falou tão baixo que quase nem foi possível ouvir.

Havia uma adoração na sua voz tão evidente que fazia séculos que não via. Será que essa pequena menininha seria a salvação para a alma do diabo?

Ele a pegou nos braços embalando a criança cuidadosamente, eu vi uma pontada de um sorriso em seu rosto, ele virou em minha direção e me perguntou:

— Quer segurar? — Os olhos de Lúcifer brilhavam em admiração.

Eu estendi os braços em sua direção, segurei-a e pude perceber que ela era muito pequena e leve, era a criatura mais linda que eu já havia visto, Lúcifer se posicionou ou meu lado olhando para a menina encolhida junto ao meu peito.

Nesse momento ela abriu os seus olhos, nos analisando e em seu rosto surgiu um lindo sorriso.

— Ela tem os seus olhos. – Eu falei ainda admirando o bebê em minha frente.

— Prometa-me uma coisa, prometa que cuidará dela. — Ele me olhou e no seu rosto estava ali presente medo e preocupação.

— Eu prometo. — Eu disse enquanto ele pegava novamente a criaturinha.

Olhando com amor o pequeno ser em seus braços, ele murmurou:

—Minha criança, eu posso não estar presente em sua vida, mas saiba que você estará em boas mãos.

A tristeza em sua expressão era evidente, Lúcifer de algum modo sabia que era a melhor coisa a se fazer, ele havia feito vários inimigos no decorrer de sua vida, poderiam usá-la contra ele.

Lúcifer deu um beijo na face da criança no minuto em que os arcanjos apareceram no quarto, ele colocou novamente a menina em meus braços, foi em direção à mulher na cama e falou algo em seu ouvido que a fez sorrir com os olhos cheios de lágrimas.

Ele se voltou pra mim e falou antes de ser retirado do quarto:

— Honre a sua promessa, cuide dela.

E assim ele se foi deixando a vida de uma pequena criatura em minhas mãos.


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A Revolta dos Caídos: A Luz e a Escuridão Irão ReinarWhere stories live. Discover now