A Revolta dos Caídos: A Luz e a Escuridão Irão Reinar

Capítulo 21

Como decorrer dos dias a campina começou a se encher de vida e agito, do mesmo modo, eu passei a ter mais dúvidas sobre quem eu era de verdade, com isso comecei a questionar o porquê de termos que permanecer tanto tempo ali.

— Já disse, não é seguro. — Ele deu-me a mesma resposta como nas vezes anteriores.

O tempo começava a esfriar, fazendo-se necessário acender a fogueira durante todo o dia, antes de virmos para cá Miguel recolheu meus pertences mais preciosos e os trouxe até ali, há algumas noites criei coragem e tirei todos as coisas de dentro da mochila.

Ali encontrei minha câmera, mudas de roupa, fotos com Alice, meus pais e outras só com a minha mãe e meu caderno de desenhos, por um momento sinto falta da minha vida normal, pelo menos antes eu sabia quem era, então me recordo de como o mundo sempre me pareceu tão banal, eu olhava para o céu e me perguntava a verdadeira razão pela qual fui enviada a terra, pois afinal, todos sempre falavam que cada vida se origina por um motivo, todos são enviados para concretizar uma missão.

Até então nada estava claro, minha vida era uma mistura de solidão e tristeza, algo dentro de mim sabia que alguma coisa não estava certa, eu me mantinha nas sombras, raramente tentava chamar a atenção, não me importava com coisas habituais de adolescentes, portanto passei a pintar, na esperança de encontrar alguma válvula de escape, com isso simplesmente desisti.

Quando vi Miguel pela primeira vez, foi assustador, era como se eu me visse refletida ali, de alguma forma sabia que ele me concederia respostas e agora vejo que estava certa, minha vida nunca mais seria a mesma.

Saí porta a fora e dei de cara com Miguel colocando mais lenha no fogo, simplesmente me aproximei e disse:

— Quero desenhar você.

Sentamos em algumas pedras na beira do lago enquanto pego meu material para desenho, ficamos um de frente para o outro quando percebo que ele está sorrindo.

— O que é? — Pergunto.

— Por que me desenhar agora? — Ele pergunta curioso.

— Temos sempre que registrar e quero registrar seu verdadeiro eu.

A princípio ele me olha sem entender, mas quando o olho fixamente por alguns segundos Miguel arregala os olhos e logo em seguida abres suas asas calmamente, permitindo-me eternizar esse momento para sempre.

Ficamos algumas horas em silêncio enquanto eu me concentro nos seus detalhes e desenho cada uma delas, retrato cada pena de suas asas no papel, na expectativa de manter o mais real possível.

Miguel fica assustadoramente imóvel, apenas movimentando seus lábios quando sorri com alguma das minhas caretas. O clima estava agradável entre nós, era reconfortante tê-lo ali apesar de tudo.

— Prontinho. — Falo assim que finalizo os últimos detalhes.

Rapidamente Miguel põe-se ao meu lado e observa minha obra de arte atentamente, passa o dedo indicador sobre os traços como se fosse possível sentir sua textura, um pequeno sorriso surge em seu rosto quando se vira para mim.

— Obrigado, é lindo. — Ele agradece.

Retribuo o sorriso e ficamos assim nos olhando fixamente durante alguns segundos, quando Miguel começa a se inclinar em minha direção e inconscientemente começo a me aproximar também.

Ele coloca as mãos em meu rosto e roça seus lábios nos meus, sorrio de leve encorajando-o a continuar. Miguel me beija apaixonadamente, me segurando contra seu corpo como se eu pudesse fugir se me soltasse do seu aperto, envolvo meus braços em sua cintura e rapidamente sou envolvida pelo seu cheiro.

Seus lábios acariciam os meus com carinho, instantaneamente passo os dedos pelo seu cabelo sentindo sua maciez, rapidamente meus pensamentos e preocupações desaparecem, sua respiração doce se mistura à minha, sua boca entreabre e sua língua busca a minha, sinto uma eletricidade percorrendo o meu corpo quando nossas línguas finalmente se encontram.

Acaricio suas costas quando o beijo é finalizado, Miguel segura meu rosto entre as mãos e beija-me na testa com delicadeza, deito minha cabeça em seu peito e passo a encontrar a paz depois de muito tempo.