Capítulo 4

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Abril de 1774
Palacio dos Capitães Generaes, Villa Bella da Santíssima Trindade, capitania de Matto Grosso
Estado do Brazil


D. Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres não sabia mais em que acreditar. Por fim, viu que não tinha mais escapatória. A história do homem encapuzado parecia-lhe verossímil, ainda que não fizesse sentido algum.

Afinal, o que faria D. Miguel da Anunciação, o famoso anti-pombalino bispo de Coimbra, em carta selada escrita de próprio punho, correr o risco de despertar ainda mais – pois já era preso há mais de cinco anos – a fúria do plenipotenciário ministro de D. José, o Marquês de Pombal, do que a simples verdade? Além disso, tal fato explicaria o porquê de a construção da Igreja Matriz não ir para a frente e, até mesmo, as notícias desencontradas que recebia desde alguns meses após sua chegada.

O problema de aceitar tal explicação é que ela ia contra tudo aquilo em que ele, como um homem esclarecido de seu tempo, acreditava. Seria como se ele lançasse por terra todas as suas convicções iluministas e todo o conhecimento científico que adquirira nos últimos anos – e planejava seguir adquirindo. Seria rasgar todos os livros que lera acerca da supremacia do racionalismo e do empirismo e adentrar em um mundo místico, sobrenatural, em que imperam as lendas e os sonhos.

Decidiu, então, pedir um tempo para pensar. Fora acordado ao segundo canto do galo; não estava em condições de raciocinar no momento. Pela manhã, por outro lado, estaria ele mais descansado e, então, seria capaz de dar ao encapuzado a resposta que ele viera para buscar.

Entretanto, mal abrira a boca, foi obrigado a fechá-la. Gritos e passos conhecidos e inconfundíveis aproximavam-se da sua sala de reuniões/gabinete, fazendo com que D. Luís visse o amigo Pompino escancarando as portas antes mesmo que o tivesse feito. Em sua mente, porém, a aparência de Pompino não era tão pálida, nem tão fantasmagórica. Parecia extremamente assustado, e d. Luís já supunha o porquê.

– M-meu se-senhor! – os olhos fundos, assustados, estavam vidrados em d. Luís, como se tentando esquecer o que vira – Os ca-canhambolas m-mortos, meu senhor!! Eles... Eles...

D. Luís não precisava que ele continuasse. Já havia entendido, assim como o alquimista, que se via em meio a uma reviravolta que ele tanto desejara em suas buscas – mas que jamais imaginara presenciar. E, voltando-se para o capitão, à espera de alguma ordem prática para seguir, engoliu em seco ao notar o mesmo desespero no olhar de d. Luís – enquanto Pompino findava seu recado num fiapo de voz:

– Eles estão de volta.    

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O Quilombo Maldito (Concluída)Where stories live. Discover now