26| I Just Wanna Forget

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          {Mia - dia seguinte}

  Abro os olhos pela milésima vez, não tendo conseguido pregar olho a noite quase a toda. Claro que houve momentos em que me rendi ao cansaço, mas foram escassos. O que fiz eu de mal desta vez? Porque é que sempre que algo me corre bem, a vida me dá uma chapada? Eu gostava de saber o porquê, gostava de poder melhorar caso tenha feito algo mal, mas nada me diz que errei!

  Contra todas as probabilidades estico o braço e deparo-me com as horas no telemóvel: 06:53. Frustrada por ser tão cedo e não conseguir dormir mais, fecho os olhos e acalmo-me antes de me levantar. Vou até à cozinha e preparo alguma coisa para comer na sala enquanto ligo a televisão. Já agora aproveito os momentos que tenho sozinha e em descanso, porque pretendo passar o dia bem longe de todos cá em casa. Da minha prima por ainda não acreditar no que aconteceu. Dos meus pais porque não lhes quero mentir e, quanto mais tarde, melhor.

  Fico muitas vezes paralisada num ponto do ecrã perdendo completamente a atenção que depositava no programa que passava. Tudo se torna escuro e sinto-me confortável.

 

  Sinto uma mão a passar vagarosamente e lentamente na minha bochecha. Abro os olhos e vejo a minha mãe com os seus olhos ternurentos. Lá se vai pelo ar a ideia de não os encarar tão cedo.

  - O que fazes no sofá?

  - Acordei cedo e não conseguia dormir então vim comer qualquer coisa e, pelos vistos, acabei por adormecer.

  Não lhe dou hipótese de responder e fujo até à cozinha arrumando o que tinha usado.

  - Ontem correu tudo bem? Já não dei por vocês chegarem... - claro que a pergunta chegaria.

  Felizmente, estou de costas para o seu corpo que se movimenta pela divisão. Creio que já lavei esta caneca uma dezena de vezes só para não lhe ter de mentir perante o seu olhar e, com o tom mais natural que consigo, digo:

  - Sim correu! Foi giro... - deixo a frase em suspenso e volto para o meu quarto, depois de me despedir dela.

  Pelo corredor ainda passo pelo meu pai, mas como este faz menos perguntas, descansei e cumprimentei-o, correndo para o meu quarto. Fecho a porta com um pouco de força, não querendo saber do barulho, e deixo-me deslizar até ao chão. Finalmente deixo as lágrimas percorrerem o meu rosto e fecho os olhos enquanto abraço os joelhos.

  Só agora é que me está a cair a ficha, é que estou a perceber o que aconteceu. Como é suposto eu ter de aguentar chantagens e mentiras na minha própria casa? E, para além disso, tudo sozinha? Eu não sou de ferro, sou humana! Sinto os trilhos traçados pelas gotas e esfrego as minhas bochechas tentando voltar à minha habitual força, mas falhando miseravelmente. Nada parece o mesmo e sinto nojo das mentiras da minha própria prima!

  Arrasto-me até à casa de banho e encho a banheira, algo que só faço uma ou duas vezes por ano. Deixo as portadas do quarto fechadas e vou buscar o gel relaxante que tenho, deitando alguma quantidade generosa na banheira, fazendo imediatamente muita espuma que liberta um aroma fresco e harmonioso. Vou até à minha secretária e tiro uma vela com aroma, acendendo o pavio da mesma. Vejo a cera a começar a derreter e, depois de me despir, coloco uma música relaxante no meu telemóvel. Não me importo com o barulho. Não me importo com nada. Entro na banheira e deixo-me ser levada pela calma do barulho da água em sintonia com os aromas, com a escuridão e com a música.

  A vida dá muitas voltas, mas as piores são as cambalhotas. Aquelas rápidas e inesperadas. Aquelas que nos deixam tontos. Aquelas que deixam nódoas negras. Aquelas que jamais esqueceremos.

Happy Holi || Shawn MendesOù les histoires vivent. Découvrez maintenant