Capítulo 5

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As mãos de Stephen estavam suadas e ele agradeceu internamente quando o barulho do motor cortou e a lambreta parou no lugar destinado a ela. Estava vivo. Muito vivo por sinal.

A sua preocupação era em se manter firme naquela garupa. E mesmo com Manoela tendo lhe deixado segurar em sua cintura, ele declinou rapidamente. Mal a conhecia para sugerir um contato como aquele, e dessa forma, se agarrou como pode nas laterais daquela lambreta velha. O medo de cair era tanto que não percebeu para onde a mulher o levava.

Apenas agora, na segurança do chão embaixo dos seus pés, que se permitiu observar o quão distante de seus hábitos e rotina tinha chegado. Estava no bairro dos operários. Dos trabalhadores braçais, das pessoas comuns, sem instrução aparente. Estava no mundo dos invisíveis.

— Bem-vindo, ao submundo!

Manoela percebeu pela expressão em seu olhar que ele não se sentia seguro, confortável e confiante. E os tipos que passavam por eles não amenizavam essa sensação de impotência.

— Por que aqui? – Stephen sentia uma mistura de ofensa e sarcasmo com aquela escolha.

— Porque tem o melhor fish and chips que comi na vida! E faz muito tempo que não como.

Manoela não lhe deu escolha. Apenas retirou o capacete de suas mãos e abriu a porta de madeira pintada na cor azul do pub. O estabelecimento ficava no final de tudo, próximo ao rio que cruzava aquela cidadezinha. Stephen conseguia sentir o cheiro fétido vindo de suas águas turvas. Torcer o nariz seria uma consequência inevitável.

Notava-se que o estabelecimento já estava ali antes mesmo de qualquer um dos dois terem nascido. A construção era muito antiga, os tijolos aparentes muito escuros, deixando registrados a ação do tempo, poluição ou mesmo descaso do seu proprietário. Tanto que o nome do estabelecimento não podia ser mais lido naquele horário da noite, apesar do uso da cor branca em seu painel de apresentação. A única vidraça que daria a possibilidade de ver seu interior estava tão ensebada que Stephen ainda duvidava se aceitava aquele convite de comer ou beber qualquer coisa que viesse do seu interior.

— Não fique aí parado! Estou louca por uma cerveja!

Novamente, sem deixar que ele argumentasse ou mesmo pensasse, a mulher entrou no bar e logo atrás uns tipos que faziam Stephen gelar. Dessa forma, não poderia simplesmente tentar arrumar um táxi e sumir o quanto antes daquele buraco, – assim que definiu o ambiente em sua mente – voltando para a luz e segurança de seu mundo. Manoela estava lá dentro. Estava sozinha e desprotegida com aqueles homens. Não podia abandoná-la, mas certamente nunca mais em sua vida sairia com ela para onde quer que fosse.

"Apenas uma cerveja"

A frase foi dita mentalmente no mesmo instante em que suas mãos delicadas seguraram a maçaneta e fizeram força para dentro, e imediatamente o som das vozes todas misturadas invadiram os seus ouvidos, causando momentaneamente tontura. Stephen deu alguns passos para o interior, apertando os olhos firmando o foco atrás das lentes dos seus óculos em busca da silhueta da mulher que lhe trouxe.

Manoela era tão pequena, que Stephen teve dificuldade em localizá-la no meio daqueles homens de diversos tamanhos e mulheres agarradas em seus pescoços. O salão, – se é que podemos chamar assim – era praticamente um vagão de tão estreito. O balcão ocupava todo o espaço de uma das laterais e no sentido oposto ficavam algumas mesas, quase todas cheias. Havia duas televisões um tanto velha para a época em que estavam. Uma ficava dentro do balcão e a outra suspensa na parede próxima ao teto. Em ambas passava o mesmo programa: futebol. O jogo daquela noite: Arsenal e Liverpool. Stephen era torcedor do Chelsea.

O Professor [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora