Capítulo 8

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— Onde estava?

Foi o primeiro questionamento que o professor fez assim que sentaram à mesa daquele restaurante, – ou lanchonete, Stephen ainda não havia decidido como tratar aquele estabelecimento.

Por conta da fome sentida, a garota decidiu que entraria no primeiro lugar que lhe oferecesse um alimento decente, e então, lembrou que em apenas alguns passos poderia comer algo gostoso e rápido. Pizza sempre a salvava nesses dias exaustivos. E ali, com o seu pedaço de pepperoni entre as mãos, pensava no que responder e as lembranças daquela manhã voltaram em sua mente.

Manoela sempre fora disciplinada com horários desde muito pequena. Estudou a maior parte de sua vida no período da manhã, então, acordar cedo nunca foi um problema. Despertadores tinham apenas uma função decorativa em sua vida. O compromisso com a obrigação era o seu relógio interno, podia estar derrotada, extremamente cansada, e ainda sim, sempre conseguia levantar no horário correto. E naquela manhã de sábado, após a noitada com o professor, não foi diferente.

O sono dissipava, e seus olhos conseguiam ver o desenho que o cabelo castanho, de textura fina, faziam na nuca do homem adormecido ao seu lado. Manoela não resistiu e chegou com o seu corpo próximo ao dele, e com seu nariz pequeno inalou o cheiro que ele tinha. Uma mistura de cigarro com um perfume amadeirado. Dava a ela uma sensação reconfortante. Sentiu desejo de provar o gosto que ele tinha naquele lugar em específico. Sua pele do braço arrepiou, e ele, como se lesse os seus pensamentos, emitiu um suspiro profundo para logo em seguida voltar com a respiração normal.

Invadiu nela um sentimento de frustração. Teria que se contentar apenas com o sexo da noite anterior. Voltou para a posição original de quando acordou, com a barriga para cima. A claridade do dia que despontava iluminou a janela sobre a sua cama, ela sabia que estava na hora de levantar.

Ao sair do banheiro, arrumada para o seu compromisso de todo sábado, olhou mais uma vez para o homem que sentia atração por tempo demais – algo que nunca havia acontecido com ela, e isso a deixava preocupada – e novamente, aquela vontade de se entrelaçar em seus braços e exigir os seus beijos surgiu. Revirou os olhos, como se assim conseguisse limpar da mente esses pensamentos libidinosos. E ao fazer isso, a sua estante de livros entrou no seu campo de visão. E como em um estalo, soube exatamente como se despedir do seu professor.

Tentando não fazer barulho, procurou o livro de poemas que comprou há algum tempo em um sebo de Londres. Levou aquele livro porque era do seu poeta favorito, e o único que havia encontrado traduzido. Queria saber se o outro idioma passava as mesmas emoções que o seu. Óbvio que não, mas para o professor seria interessante. Ela supunha que ele nunca havia lido nada de Carlos Drummond de Andrade, e sendo assim, deixou de presente e partiu com a certeza de que se o visse de novo seria lhe servindo uma xícara de café.

— Em uma clínica de repouso. — Manoela respondeu, e logo em seguida deu a sua primeira mordida na pizza.

— Como? — Stephen largou o seu pedaço de pizza de queijo sobre o prato, e a encarou confuso. Toda vez que não compreendia algo, os seus olhos ficavam menores, como se ao apertá-los os seus outros sentidos entrassem em harmonia e a sua compreensão fosse facilitada.

— Um asilo para idosos. Mas não gosto de chamar esses lugares dessa forma, me dá tristeza, e lembra abandono. O que não deixa de ser verdade. A maioria que estão lá não recebem visitas de um parente há um bom tempo.

— E por que você estaria em um lugar assim? — ainda sem entender os motivos da garota ter passado o dia todo naquele lugar, Stephen se rendeu aos apelos de seu estômago que roncava e começou a comer.

O Professor [Completo]Where stories live. Discover now