Capítulo 21

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O frio naquele ano vinha mais intenso que o normal, ou aquela sensação gelada que percorria o corpo miúdo da garota se dava pelo afastamento do aconchego dos braços quentes do professor?

Manoela queria que fosse a primeira opção, porém, sabia que a segunda combinava mais com os seus sentimentos nessas duas semanas seguintes ao acidente.

Só que a decisão já havia sido tomada e a sua teimosia não a deixava mudar de ideia. A Sra. Smith até tentou persuadir sua inquilina favorita a ficar, porém, acabou aceitando que o que ela havia decidido fazer era o melhor.

— Prometa-me que irá me escrever? Não vá fazer igual aos meus filhos! — a Sra. Smith abraçava Manoela a apertando contra o seu peito.

— Jamais lhe esquecerei. Doce amiga, Annie. — Manoela se deixava ser esmagada pelo carinho em demasia da velha senhora que lhe acolheu com amor. — E não vou prometer nada, porque isso não se faz com amigos, eu escreverei porque sentirei muitas saudades de você. — Manoela acariciou o rosto enrugado de Annie Smith.

Manoela recebeu uma bela despedida no seu local de trabalho. Pela primeira vez, nos três anos que trabalhou para o Sr. McAdams, recebeu dele um abraço. Boa parte dos livros que adquiriu durante esses anos ficariam ali no café para que outras pessoas vivessem suas próprias experiências embaladas por aquelas linhas. Levou consigo apenas o de Luís de Camões que fora do seu pai, a coleção das irmãs Brontë e o livro desconhecido do seu professor. Nem Stephen sabia que durante esse tempo Manoela havia adquirido um exemplar de sua obra fracassada, e ela não julgava tão ruim assim, apenas não era comercial.

O aquecedor estava no último, e mesmo assim o corpo de Manoela não conseguia manter-se aquecido por mais que tentasse. Estava já com três blusas, uma meia calça de lã por baixo da calça jeans e mesmo se movimentando para terminar de fazer as malas nada fazia com que ficasse quente, até que algo aconteceu.

Ela ficou assustada quando ouviu aquela voz que tanto amava. Vinha calma, baixa e suave, como na maioria das vezes. E com aquela dicção perfeita de um orador experiente. Foram tantos trechos declamados por essa voz que sabia até das manias e entonações em certas palavras.

— Como subiu aqui? — Manoela se voltou intrigada para o professor.

— A Sra. Smith quem abriu. Talvez contasse com a minha chegada, ou algo do tipo, afinal, nem precisei tocar a campainha. — Stephen a encarava com um sorriso tímido, encostado na porta de entrada que estava entreaberta.

— Então está explicado. Ela não existe. — Manoela sorriu. — Não fique aí parado, entre.

Stephen deixou a beira da porta e caminhou vagarosamente para dentro do apartamento, observando todas aquelas caixas cheias e os móveis vazios. Seu coração apertou de forma considerável ao ponto de lhe causar dor.

— Então é sério? Vai embora mesmo?

— Nada mudou desde a última mensagem que te enviei na semana passada. — Manoela seguiu com a sua arrumação, ignorando sua vontade de jogar-se em seus braços.

— Por que foi embora daquele jeito?

— Você precisava de um tempo com a sua família. Já te respondi isso pelas mensagens. — Manoela não queria, porém, não conseguiu disfarçar a sua irritação.

— Não gosto de mensagens, gosto de olhar nos olhos das pessoas. — Stephen respondeu com a mesma entonação de irritação que a dela.

— Eu também, Stephen.

Stephen fechou os olhos. Sentia muita falta da forma como ela lhe chamava antes. Sentia falta do Professor.

— Aconteceu alguma coisa? — Manoela se preocupou com aquele gesto. — Ainda sente dor? — e caminhou até o seu encontro, tocando no braço engessado.

O Professor [Completo]Where stories live. Discover now