4.8| Vértice

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Sou a sombra, você é um passageiro. 

Sou aquele forte suspiro e eu já te conheço bem

Só quero te conhecer melhor. 

Se você quer dar algo

Então me dê tudo que puder...

— Give.
(Sleep Token)

A parte mais amarga de ter prestígio na sociedade por ser uma celebridade é que a sua privacidade se torna um bem público. Não importa onde esteja, com quem esteja ou o que esteja fazendo: em questão de minutos, sua vida se torna o entretenimento de milhares. As boas e más notícias corriam mais rápido quando metade do mundo sabia seu nome — e a outra metade parecia querer saber.

Taehyung havia dado a Jimin uma oportunidade de se aproximar, e bastou isso para que fotos fossem tiradas, postadas e viralizadas em tempo recorde. A repercussão foi imediata — e brutal.

O volume de comentários de ódio supera em muito os positivos. Mas, curiosamente, havia também uma onda de apoio fervorosa: pessoas desconhecidas que defendiam Jimin como se o conhecesse intimamente, que o queriam com Taehyung e que protegiam sua imagem como se pertencesse a elas. Isso o deixava admirado — e confuso. Como era possível tanto amor e tanto ódio serem direcionados a ele por causa de uma simples imagem? Como podia uma foto despertar tamanha comoção?

A fama era isso. Um palco de extremos. Uma vitrine de sentimentos que não te pertencem.

Suspirou. Desativou a internet do celular, bloqueou a tela e o deixou na mochila que repousava sobre uma das caixas empilhadas. O alívio foi quase físico. Como se ao se afastar das redes também fosse se afastar de uma versão dele que não lhe pertencia. Agora, com o valor que foi arrecadado com os trabalhos fotográficos mais recentes, havia quitado todas as dívidas do apartamento, enviado uma boa quantia às suas mães e ainda tinha dinheiro o suficiente para transformar um sonho antigo — morar com seus dois melhores amigos — em realidade concreta.

As caixas ao redor estavam cheias de tudo que havia sido dele por um tempo: roupas, livros, lembranças espalhadas pela casa. A mobília, no entanto, pertencia ao apartamento — alugado já mobiliado, porque na época, mobiliar estava fora de questão.

Com paciência, foi organizando tudo, trazendo as caixas uma a uma até a frente do prédio, aguardando Yoongi chegar para ajudá-lo com o transporte. Já havia limpado todo o apartamento, deixando-o exatamente como o encontrara. Pegou as câmeras, cuidadosamente encaixou na caixa de objetos frágeis e guardou as polaroides na mochila. Cada gesto parecia um ponto final.

— Nunca imaginei você se despedindo desse lugar — comentou Yoongi, surgindo no batente da porta do agora antigo quarto de Jimin.

— É que... eu não estou me despedindo. Só estou guardando as últimas coisas — respondeu, enquanto passava a fita na última caixa, tentando esconder o leve sorriso.

E, honestamente, não poderia estar mais feliz por essa mudança.

Logo estavam descendo as caixas para o carro emprestado de Seokjin. Pareciam muitas, mas Jimin nunca teve tanto assim. Em poucos minutos, terminaram — restando apenas a caixa frágil com as câmeras e o notebook. Jimin pegou a mochila e a caixa. Yoongi trancou a porta e partiram. Não houve despedidas sentimentais. Nenhuma lágrima. Nenhum olhar prolongado para trás. Jimin não se apegava às paredes que o abrigaram — se apegava ao que viveu nelas.

Sabia que um lar era feito de presenças, não de endereços. E se estava indo com Yoongi e Seokjin, então o resto era ruído.

Quando chegaram à nova casa, ele sentiu o ar prender no peito por um instante.

Oppa.com || VMinWhere stories live. Discover now