5.5 | Vertigem

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Se olhares pudessem matar, eu estaria morto

Com um sorriso no rosto

Te entregaria o meu coração em uma bandeja

Lovesucker,

(Haiden Henderson)

Subiram escadas discretas, daquelas que passariam despercebidas por qualquer um. No andar de cima, um estúdio de dança se revelava como um segredo bem guardado: paredes espelhadas, barras de apoio, uma janela imensa que exibia Seul em todo seu esplendor. A cidade brilhava sob a luz da lua, iluminando o espaço sem necessidade de lâmpadas acesas.

Taehyung empurrou a porta de vidro com cuidado e deu dois passos à frente, parando no centro do estúdio. Respirou fundo como se ali o ar fosse diferente, mais leve. Depois se virou, olhando para Jimin com um sorriso pequeno, um desses que não se esconde, mas também não se impõe.

— Como você conhece esse lugar? — Jimin perguntou, com a voz ainda presa à beleza do ambiente.

— Eventos beneficentes costumam ser longos. E chatos. Eu subia e entrava na primeira porta aberta. — Taehyung respondeu com um leve encolher de ombros, como se não fosse nada.

— Você é impossível — Jimin riu, balançando a cabeça enquanto olhava em volta. — Mas tenho que admitir... é tranquilo e lindo aqui.

— É, é sim — Taehyung concordou, com a voz baixa. Mas seus olhos não estavam na cidade. Estavam em Jimin.

Ele não disfarçou. E Jimin percebeu. Sentiu o peso desse olhar como uma carícia, queimando suave sobre a pele e não desviou.

— Achei que você precisava de um pouco de paz. — completou, como se isso justificasse tudo.

E talvez justificasse. Porque o mundo lá embaixo pulsava barulhento, exigente. Ali em cima, tudo respirava devagar. Um. Dois. Três. e repetia. Como se o tempo tivesse desacelerado.

Ficaram assim por um momento, em silêncio. Jimin observava Seul como se a cidade estivesse contando segredos só para ele. Taehyung observava Jimin, próximo o suficiente para sentir a presença, como se estivesse vendo o próprio segredo que queria guardar. Observou os fios dos cabelos de Jimin, a coloração dos lábios e o formato da sobrancelha. Se perdeu na paisagem.

Então ele pediu, de repente, interrompendo o silêncio:

— Dança pra mim? — perguntou.

Jimin piscou, confuso. Surpreso.

— A gente ainda vai voltar pra festa, lembra? — respondeu, com um sorriso de canto. — Não quero descer suado.

— Se você não se importar, eu não me importo. — Taehyung disse, a voz ganhando um tom mais grave. — Dança pra mim. — E repetiu, dessa vez mais firme, quase uma ordem.

Jimin não soube porque aceitou. Se convenceu de que simplesmente não podia perder a oportunidade, que talvez precisasse disso ou talvez quisesse decifrar o que havia por trás desse pedido. Ele simplesmente assentiu.

O silêncio que veio depois tinha peso. Tinha tensão.

Jimin o encarou. Havia algo nos olhos castanhos de Taehyung que era difícil decifrar – admiração cruel, vontade exposta, um toque de reverência quase íntima. Um tipo raro de atenção que atravessava. E havia alguma coisa em Jimin, algo entre o orgulho e a curiosidade, não conseguiu negar.

Sem pressa, com um suspiro leve, ele tirou o blazer, desabotoou a camisa nos primeiros botões e arregaçou as mangas até os cotovelos. Os sapatos foram abandonados num canto qualquer, e ele ficou apenas de meias sobre o chão liso, quase flutuando sobre o chão de madeira. A música da festa ainda ecoava, abafada e distante, mas suficiente.

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