O Idiota do Meu Marido

Capítulo 1

Deslizo o carrinho com as minhas malas pelo chão do aeroporto.

Brasil.

São cinco anos longe da minha pátria amada. Cinco anos que fiz da Inglaterra, o meu lar.

Minha cabeça dói a ponto de explodir. Grrr.

Saio do aeroporto e peço um táxi, que me leva até o melhor hotel da cidade.

Tiro o óculos escuro e encaro a recepcionista.

-Hi! I'am Melissa and...- me dou conta de uma coisa. -Tsc! Olá, sou a Melissa Cavalcantti. Fiz uma reserva aqui no hotel.

A mulher sorri e pesquisa pelo meu nome e depois, me entrega um cartão.

-Suíte diamante, quarto 1045. Espero que a senhora fique contente com a hospedagem.

Agradeço e entro no elevador. Aperto o botão do penúltimo andar. Algumas pessoas entram e saem, me fazendo bufar.

A minha paciência está simplesente esgotada. Estou faminta, sonolenta... Tudo.

Saio do elevador ouvindo apenas o barulho dos meus saltos no corredor. O andar diamante nesse hotel, possui as suítes mais caras de todo o prédio.

Entro no meu quarto e as malas já estão me esperando. Tiro os saltos e eu sinto vontade de chorar assim que tranco a porta. Eu não podia quebrar nada ali, então eu conto.

Conto até ir à cama.

Conto até sentar nela.

Conto até deitar.

Conto até as lágrimas tomarem o meu rosto.

Contar já não estava mais adiatando já tem muito tempo.

Nada mais estava.

É muito provável que o Breno chegue no Brasil amanhã.

E por mais estranho que pareça, o meu choro não é de saudade.

É de tristeza.

Sim, o nosso casamento está em crise.

É, é isso mesmo. Nós dois estamos em crise. Uma crise que dura já tem um certo tempo mas que nenhum dos dois admite.

Ele sabe que o nosso casamento está no fundo do poço.

Eu sei que o nosso casamento está no fundo do poço.

Ele nunca falou "nosso casamento está no fundo do poço", muito menos eu.

Acabo caindo no sono e acordo quando ouço o meu celular tocar e quando vi a hora, me assustei. Havia dormido muito.

-Hi Lucy!- me sento e passo a mão no rosto.

-Oi bonequinha! Sabe que comigo não tem esse aperto, pode falar em português!- sorrio.

A Lucy é brasileira e está na Inglaterra estudando. Sem filhos ou namorado no momento e prefere dar atenção aos estudos e ao trabalho. História é a paixão dela.

-Como estão as coisas aí?

-Estão começando a ficar alguma coisa.- ela ri. -Eu quase esqueci que estou no Brasil. Já cheguei aqui falando em inglês!- me deito com as pernas para cima.

-Vai ficar no hotel esse tempo todo?

-Não, não!- me viro. Sou dessas: quando estou no telefone, ando a casa toda. Dou até uma passadinha no telhado. -Sabia que ia chegar cansada aqui no Brasil então reservei um quarto. Aí amanhã eu vou passar na minha casa e ver como estão as coisas e me mudo pra lá. O Breno que procure outro lugar para ficar.

-Ufa! Que cansativo ein? Seus pais sabem que o furacão Melissa voltou?- rio.

-Não. Nem sei se deveria.

-Melzinha, tu é a Melissa Cavalcantti Füller! Uma super influência britânica que já desfilou em passarelas chiquérrimas aqui da Inglaterra! Não tem como você ficar invisível por aí!

Pois é, uma grande reviravolta, não?

Assim que eu e ele nos mudamos para a Inglaterra por causa de uma boa proposta de emprego (o que ajudou bastante foi o fato dele já ter morado lá), fiquei preocupada com a publicação dos meus livros. Sendo assim, tratei imediatamente de traduzí-los (primeiramente uma pouca quantidade, claro) para o inglês britânico. E não é que deu certo?

As pessoas foram curtindo e as edições foram crescendo, crescendo... Até que uma super master big agência (não sabia que ela era tão incrível assim), a melhor da Inglaterra, me ligou e pediu para que eu fosse desfilar em sua passarela. Elogiaram a beleza brasileira e que era sempre uma honra nos ter por lá.

Então eu fiquei conhecida como a terceira brasileira a desfilar por essas passarelas. Os meus seguidores cresceram muito, meus trabalhos nas passarelas também e as publicações de mais dois livros só lá na Inglaterra.

-Até então eu não li nenhuma notícia minha.- a essa altura já estava de pé, e mexia na cortina da varanda. -E que continue assim!

-Não se preocupe. Ficarei antenada por aqui. E aí, o que você vai fazer a partir de agora? Eu ainda acho doideira vocês dois, que estão brigando feito cão e gato, voltarem ao Brasil!- rio.

-Vou tentar dar a solução para o meu casamento, vou tentar escrever uns livros e desenhar algumas coisas.- dou de ombros.

Depois dessa loucura toda na Inglaterra, nos meus tempos vagos eu aprendi a amar moda. Então fiz faculdade por lá, no mesmo ano que chegamos. Na doideira que estava sendo minha vida.

-Queria estar aí contigo!- sorrio e me olho no espelho.

-Se concentre no seu trabalho. Vou ficar bem. Afinal, é Brasil, amor!- faço uma dancinha e ela ri.

-Promete que vai ficar bem?- suspiro.

-Prometo. Super beijo.

-Super!

Encerro a ligação e resolvo tomar um banho.

Visto uma roupa confortável e me deixo apresentável.
Saio do hotel com óculos escuro no rosto e uma bolsa, indo para o lugar onde tudo começou...

***

Voltar à nossa casa me doeu. Ver o quão apaixonados éramos, fez meu coração se apertar de saudade.

Abro a porta da nossa casa e sinto uma nuvem de tristeza se fazer chover em cima de mim. Fecho a porta e entro na casa com os olhos cheios de lágrimas.

Estava tudo coberto e, aos poucos, fui abrindo as cortinas e tirando os panos dos sofás e mesas.

Pego o porta-retrato do dia do meu casamento com o Breno e mordo o lábio inferior.

-Seu idiota!- jogo no chão, o vidro quebra e bem na hora o meu celular toca. -Melissa na linha.- fungo e me sento no sofá.

-É o Breno. Onde você está?

-Na casa.- me levanto. -Por quê?

-Estou no Brasil.

Engasgo.

-Não ficou combinado de você só vir amanhã?- coloco a mão na cintura, completamente indignada.

-Eu nunca combinei isso. Tenho que desligar. Tchau.

Pego a xuxa do meu pulso e amarro o cabelo.

O Breno é um idiota. Um escroto imbecil que me faz chorar.

Eu odeio ele.

E esse divórcio será a melhor coisa que ele me dará.