13- Flicker ♡

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Acordo e sei onde estou, sinto uma dor em minha cabeça e tudo parece passar pelos meus olhos. A briga, as palavras fazendo meu peito sangrar, os socos fazendo minhas mãos sangrarem, o inchaço, a dor, o copo caindo, o homem me batendo, o empurrão, o vidro quebrando, entrando em mim, meus amigos querendo bater no homem, a mulher gritando, Harry. Tudo passou mais uma vez por mim, mas fui incapaz de aguentar, então fechei meus olhos e respirei devagar.

-Louis? - Ouvi a voz de Charllote e percebi que esqueci da minha casa

Eu não voltei para eles, quem será que avisou? Onde esta os outros? Abri meus olhos e a olhei. Seus olhos azuis, mais claros que os meus, me encaram com atenção e preocupação. Queria abraça-la e dizer que eu estava bem, mas ao tentar me mexer as partes internas da minha perna doem.

-Não se mexa, vai devagar.

Ela levanta minhas costas e me mantem sentado, arruma os travesseiros e me apoia neles. Se afasta, ainda com aquele olhar, parecia que eu iria quebrar a qualquer momento.

-Estou bem. -Digo, minha voz sai tão rouca que eu me assusto um pouco

-Não esta, vou chamar o médico para falar com você.

Ela começa a ir até a porta, mas antes de abrir se vira olhando para mim, seus olhos estão cheios de água e a dor esta ali, a lembrança, mas o alivio também. Conheço ela tão bem, só com esse olhar sei tudo que esta passando por sua cabeça. Lottie volta correndo para a cama que estou, o quarto é pequeno e ela chega rápido, me abraça forte mas com cuidado. A abraço também, não com a força que ela tem, mas com a mesma vontade.

-Me ligaram de madrugada, falaram que você estava no hospital, não disseram o que aconteceu, ninguém me disse nada, estavam correndo para te deixarem bem e eu entendo, mas, ah Louis, achei que algo muito sério havia acontecido...

-Não aconteceu, Lottie, não aconteceu.

-O que seria de mim sem ti, irmão? Você que nos mantem fortes, você que não deixou passarmos fome, você que nos mantêm unidos depois que ela se foi. Sei que estaria feliz com ela, mas eu não quero que me deixe aqui. Eu posso estar parecendo egoísta, mas eu não aguentaria de dor.

-Eu não vou embora, eu não vou. Shhh, olha pra mim, eu estou bem e vou continuar cuidando de vocês, sempre!

-Obrigada, obrigada por não nos deixar.

Eu seco suas lágrimas, e ela volta a caminhar até a porta, sai e a fecha com cuidado. Não queria ter provocado isso nela, não queria essa confusão toda. Olho ao redor e é um quarto bem simples, todo branco obviamente, com uma poltrona e uma segunda porta que deve ser o banheiro. No canto, no chão, esta uma mala que minha irmã deve ter trazido com alguma roupa para mim, agradeço mentalmente. Tem uma TV na parede, mas esta desligada. Fico pensando que deveria ter uma janela, um relógio, uma cor mais alegre que branco, etc. . Hospital é o único lugar que consegue fazer a cor branca ser mais mórbida que a preta.

Noto com esse pensamento que aquelas pessoas que dizem com dor, e palavras bonitas, que quando alguém se vai leva as cores da vida consigo, e as nossas, de quem ficou, ficam apenas pretas e brancas, tem uma leve razão. Primeiro começa no hospital: a cor branca invade nossas vistas, depois vem o funeral: a cor preta é tudo que você vê e depois a sua vontade de ver qualquer outra cor é nula, você se prende a ela.

Por isso eu acredito que o céu é o lugar mais lindo desse mundo, ele tem todas as cores roubadas sem querer, todas as pessoas que amamos, e toda nossa esperança. A quem diga que o céu é azul, porem ele é colorido, tem as mais variáveis cores e pessoas, e todas formam uma única coisa.

Nosso porto seguro.

Não vou deixar eles, mãe. Eu prometo não me arriscar mais.

A porta se abre e uma corrente de vento entra antes de o médico em si.

Abnegation 》l.s ♡Onde histórias criam vida. Descubra agora