DOIS | * GOSSIP *

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ENTREI NO BANHEIRO, bufando e com frio, sendo alvo de olhares especulativos e curiosos. Maldita garota. Tudo bem que eu tinha ido rápido demais. Minha mente até registrou o fato dela estar virando com um copo de suco na mão, mas...

Dane-se, já tinha acontecido mesmo.

Não adiantava pensar em como seria diferente.

Ao menos, estou com um novo perfume. Nada como o aroma de laranja artificial. Melhor coisa.

Tirei o celular do bolso traseiro da calça e desbloqueei a tela, vendo a imagem de Luna, minha fonte de calor carnal da semana, mostrando os seios desnudos para a câmera com um sorriso convencido no rosto maquiado e bonito.

Eu tinha esse fetiche em particular. A cada semana, ou dia, uma garota e sua foto em meu celular.

Por um segundo inevitável, criei expectativas de como seria o corpo nu e sensual daquela garota com olhos mesclados, que eu não sabia o nome, na tela inicial do meu celular. Depois, joguei a ideia para longe com um aceno distraído.

Ela não fazia o meu tipo.

Baixinha. Resmungona. Gótica.

Enfim, era melhor parar de pensar no passado e encarar meu atual e catastrófico presente. Entrei na conversa com meu irmão, que por sorte estava online e digitei:

Preciso de uma camiseta.

Ele visualizou no mesmo instante.

Agora? Ficou maluco? Por que? — Respondeu.

Desistindo pela demora de sua resposta, liguei. Depois de dois toques, escutei sua respiração.

— É sério e urgente — respondi, antes mesmo de Gabriel querer falar alguma coisa —, uma... garota derrubou suco em mim e agora estou todo melecado de laranja. Você precisa me socorrer, nem a droga de uma jaqueta, eu trouxe hoje.

Gabriel ficou em silêncio, mas depois suspirou.

Eu odeio você, Enzo — escutei o sorriso em sua voz. — Estou aí em dez minutos. Onde posso encontrar você?

Você sabe, talvez, que eu faça Odontologia, certo? E que provavelmente fica no bloco da saúde, isto é... No banheiro masculino do bloco S, onde mais seria? — Falei com agressividade, fazendo o olhar de um rapaz que estava se vendo no espelho, vir direto para mim.

Por pouco não comecei a gritar com aquele ali também. Tudo por uma criatura que derramou suco em mim. O meu dia não tinha mesmo como piorar.

Agradável como sempre — encerrou a ligação.

Eu sabia que mesmo sendo meu irmão mais novo e eu, um idiota, Gabriel Willer faria tudo por mim. Nós sempre fomos assim, desde a morte dos nossos pais e irmão mais velho naquele acidente. Nós cuidamos um do outro, como uma leoa cuida de seus filhotes.

Ninguém mexia com ele. Ninguém mexia comigo. Ninguém mexia com o Perverse Killers — meu clube de lutas e bebidas ilegais.

Todos me conheciam nos subúrbios de Jacksonville como Death. E não era de um jeito bom.

Escutei um burburinho de vozes conhecidas e apurei os ouvidos, semicerrando os olhos. Parecendo um poste ali plantado perto da porta, enquanto alguns homens se olhavam no espelho, lavavam as mãos ou sei lá mais o quê, e me apreciavam logo em seguida.

Finalmente, consegui entender o que estavam dizendo.

— Espere... você fez o quê?

— Foi sem querer, okay? — Aquela voz. Aquela maldita e reconhecível voz. Cheguei ainda mais perto da porta e espiei, somente para ter certeza de que quem estava ali, esperando a amiga sair do banheiro feminino, era a garota que sujara minha camiseta. — Mas ele era bonito e cheio de tatuagens.

Hm. Ela está se referindo a mim?

A amiga riu.

— Como ele era, Kananda? Tirando as tatuagens? Já fiz um semestre de Engenharia Civil, talvez o conheça — falou lá de dentro.

Kananda.

Nome... nada detestável e horrível. Poderia ser pior, Kananda era estranho e esquisito, assim como a dona, mas não feio. Um cara gigante, com cabelos loiros, saiu pela porta e me escondi, caso ela olhasse e me visse ali... Resolvi nem pensar na ideia.

Kananda tomou um pouco de água da garrafinha que trazia em uma das mãos e deu de ombros, cruzando os braços e fazendo uma careta logo em seguida.

Será que ela está tentando me descrever?

Pude ver pela bolsa pendurada no ombro, que fazia Medicina Veterinária. Bom, não era de todo ruim. Isso queria dizer que era inteligente e gostava de animais.

— Ah — começou, se enrolando e desviando os olhos para o chão —, ele tem olhos verdes puxados para azuis, cabelos castanhos com algumas mechas douradas e sedosas...

— Você passou a mão para saber se eram sedosos? — Provocou a amiga, saindo do banheiro.

Kananda piscou, confusa. O rosto pálido adquiriu um tom alarmante de vermelho, um tom mais claro que os cabelos indomáveis.

— N-não, eu só... olhe, já disse como ele era. Conhece?

— Extremamente bonito e gostoso?

— Sim, Cristina — Kananda concordou, resignada e olhando ao redor.

Por pouco seu olhar não cruzou com o meu. Dei um passo atrás, me escondendo, mas ainda conseguindo ouvir a conversa. O coração disparando rapidamente.

Enquanto as duas iam se afastando, ela respondeu:

— Só pode se tratar de Lorenzo Willer. O maior pegador de toda essa universidade e...

Não pude escutar, porque elas não estavam mais em meu alcance.

Extremamente bonito e gostoso? Cabelos sedosos? Interessante.

Ei — Gabriel mexeu em meus ombros, me analisando —, quem fez isso com você mesmo?

Peguei a camisa preta de sua mão com um puxão e me troquei rapidamente. Sendo ainda mais o alvo dos olhares. Gente que não podiam ver pessoas tatuadas. Ah. Me apoiei na pia e examinei meu reflexo, depois olhei para Gabriel.

— Você cruzou com duas garotas agora? — Joguei a camiseta que estava usando no lixo.

— Uma baixinha, vestida de preto da cabeça aos pés, e outra alta? — Assenti com a cabeça. — Sim, cruzei, por quê?

— Pois é, o nome da pequena é Kananda e foi aquele estrupício que derramou suco em mim.

Estrupício detestavelmente bonitinha e arrogante.

Resolvi ocultar a parte dos elogios, aquilo... não sei, ainda estava processando as informações. Ele balançou a cabeça em negação, irritado por tê-lo feito sair do clube.

— Bem, já vou indo. Nos vemos no Perverse? — Gabriel deu tapinhas em meu ombro, sem esperar pela resposta. — Ah, eu a vi fumando antes de entrar aqui. Não que mude alguma coisa, de certa forma.

Não, não muda.

Fiz que sim, vendo-o sair do banheiro.

Mas ela parece ser tão quebrada e solitária quanto eu. 

Fire | Vol. IWhere stories live. Discover now