BRIGAR PRA QUÊ?

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O fim de semana passou e mal notei.

Estava tão entretida entre conversar com Noah e terminar a monografia que, quando dei por mim já era segunda-feira à noite e estava prestes a ir para a faculdade com a versão final impressa desse caralho trabalhoso para a minha orientadora.

Noah e eu conversamos todos os dias. Não seguidamente, porque ele tinha uma mania muito estranha de estar conversando e de repente, para, some e depois voltava com a cara mais lavada do universo como se nada tivesse acontecido. Tentei colocar na minha cabeça oca que ele era europeu e era diferente, age diferente e vive diferente do que estou acostumada.

As conversas eram uma mistura de texto, áudio e foto. Quando ouvi sua voz pela primeira vez, senti meu estômago dar cambalhotas e um arrepio percorreu pela espinha inteira. Era uma voz precisa, forte, porém gentil.

E cada vez mais eu percebia que estava a fim de Noah, desejando encontrá-lo o mais rápido possível.

Perdi as contas de quantas vezes imaginei a cena da gente se beijando loucamente em algum quarto de motel, provando daquela boca avermelhada, encarando seus olhos brilhantes, aproveitando cada partezinha desse homem. Só de pensar nessas situações sentia o calor por entre as pernas crescer pelas entranhas. Como a vida é doida. Estava sedenta por um gringo que acabei de conhecer no Tinder.

Depois de muita enrolação, no domingo à noite mandei uma mensagem intimando sua vinda.

Belí: E aí, gringo, quando terei a sua ilustre presença por aqui? Quero te conhecer!

Não estava mais aguentando a aflição de deixar esse fogo que ardia por entre os textos, não fazer parte da nossa realidade. Queria conhecê-lo, tocá-lo, beijá-lo. Queria saciar esse desejo que se instalou em mim no momento que demos Match.

Noah: Daqui a duas semanas, o que acha, lindinha?

Belí: É um date! Está marcado! Te vejo em duas semanas.

Noah: Contando os dias.

Meu coração acelerou e senti as borboletas voarem na minha barriga. A ideia de encontrar uma pessoa que conheci online mexia com os meus sentidos. Desde que começamos a conversar, tudo tem se intensificado. Dormia e acordava pensando em Noah. Seu sorriso perfeitamente alinhado, o contorno de seus lábios, sua voz doce, o sotaque engraçado e fofo ao falar português. O mix de sensações explodia feito fogos em noite de Ano-Novo dentro de mim.

Contava os segundos no relógio para ver se o tempo andava mais depressa.

***

Na terça-feira, resolvemos fazer uma coisa diferente. Ele indicou um filme que gosta e eu indiquei outro de minha preferência. A escolha dele foi Donnie Darko e ele quis me antecipar de que era necessário prestar bastante atenção no filme.

Noah: É um filme que exige atenção. Tem bastante ficção científica, viagem no tempo e muitas teorias.

Noah: Mas acho que você vai gostar, lindinha. É um dos meus preferidos e queria dividir com você. Vou assistir o que me recomendou imaginando nós dois juntinhos.

Impossível não deixar um sorriso bobo escapar com essas mensagens fofas que estávamos trocando ultimamente.

Belí: Também vou assistir imaginando nós dois.

Noah: Estou ansioso para saber qual teoria você vai levantar sobre o enredo.

Aparentemente eu iria gostar; já no início identifiquei Jake Gyllenhaal bem novinho, seguido por ninguém mais que uma das minhas atrizes favoritas: Drew Barrymore. Acho que fiquei tão pilhada com a história de ser um filme difícil de entender que esqueci de relaxar. Cada movimento que o Donnie fazia, eu calculava milhões de possibilidades para o grande final.

Estava Escrito (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now