Capítulo 20

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- Eu não quero conversar com você - passei por ele entrando no quarto, ele me seguiu. 

- Por favor - segurou minha mão. 

- Está suplicando? Logo você que não queria ter mais um filho. 

- Eu errei, tudo bem? - se rendeu com as mãos - estava errado, falei merda hoje no almoço. 

- Que almoço? Você deu seu piti e a gente não comeu nada - cruzei os braços. 

- Certo - pensou - eu estava bravo porque você não me contou, sempre a Lua tem que estar no meio. 

- E você sempre coloca a Lua no assunto, impressionante. 

- Não é aonde eu quero chegar. 

- E onde você quer chegar? 

- Quero chegar na parte das desculpas - coçou a cabeça - eu falei aquilo porque você lembra quando tivemos o Pedro, foi um sufoco, não conseguíamos administrar. 

- Mas agora a gente consegue, lidamos com isso bem fácil. 

- A minha cabeça está a mil também. 

- Por quê está a mil? Você não me conta nada do que acontece naquela empresa. 

- Porque você nunca quis saber. 

- Sabe o quê eu acho? Que isso tudo é medo. 

- Medo? 

- É, está com medo de ter mais um filho porque seu pai teve trigêmeos e olha a idade dele, é por isso que está com medo. 

- Que merda, que se foda o meu pai. 

- Micael, é o seguinte - respirei fundo - se você não está satisfeito com isso é melhor arrumar as suas coisas e ir embora, pedimos o divórcio e olhe só, tudo resolvido. 

- Nem por um caralho que eu vou pedir o divórcio. Por quê eu pediria? 

- Porque você está com raiva de mim, vamos ter mais um filho, final da história - andei até a cama. 

- Eu te amo, não entenderia a do divórcio. 

- Talvez ficaremos bons separados, você me irrita e eu também te irrito. 

- São os hormônios ou você falando? 

- Isso importa? Eu sei que você não quer ter esse filho. 

- Eu disse que não quero? - me encarou - ah, pelo amor de Deus. 

- Fim de papo, eu no meu canto e você no seu. 

- Eu quero me resolver, tudo bem? 

- Pra que se resolver? Eu sei que quando você chegar na empresa vai falar a beça de mim pra Arthur, me xingando como sempre. 

- Você quer ter a vida dos dois, não quer? 

- Hãn? 

- Sempre coloca eles como exemplo. 

- Pelo menos eles contam as coisas um aos outros. 

- Sim, coisa que você não faz. 

- EU NÃO FAÇO? 

- Pare de gritar, tudo bem? - pediu calmo - está grávida, lembre-se disso. 

- Acho melhor você fazer um outdoor, ficaria bem mais prático em me lembrar - acolchoei os travesseiros me deitando em seguida - onde você vai? 

- Dormir, oras. 

- Nada disso - joguei seu travesseiro no chão - quarto de hóspedes. 

- O QUÊ? 

- Sim, eu estou grávida, chateada e cansada - relaxei meus músculos. 

- Mas nós nos resolvemos. 

- Só se for pra você - fechei os olhos. 

- É assim que você quer? 

- Boa noite, Micael Borges. 

Escutei ele grunhir pegando seu travesseiro e indo ao quarto de hóspedes. Nada mais aconteceu a noite inteira. 


No dia seguinte tirei o dia pra resolver coisas, fiz o café, deixei Pedro na escolinha e por fim fui em busca de uma academia de ioga. Gostava de me exercitar e a gravidez me deixaria bem mais flexível. Estacionei o carro e fui até o local, tinha um cheiro tão agradável. 

- Bom dia, quanto tempo senhora Borges - sorri pra atendente que lembrou - como está indo? 

- Perfeitamente bem, mas vou estar ainda melhor com meu pacotinho daqui a nove meses - entreguei o cartão a ela que abriu a boca incrédula. 

- Parabéns, felicidades a vocês - digitou algo no computador. 

- Obrigada - me entregou o cartão novamente, guardei na bolsa andando pra dentro. 

O lugar não tinha mudado, a não ser os novos professores em salas diferentes. Corri meu olhar até uma sala sem ninguém, várias pilhas de esteiras azuis e enormes espelhos, algumas bolas de ginásticas também estava ali. 

- Perdida? - me assustei ao escutar a voz masculina de alguém. 

Pelos Deuses, quem era aquele? Alto, perfeitamente definido, loiro e de olhos verdes. Estava morta dos dois jeitos. 

- Você me assustou - coloquei as mãos no peito. 

- Desculpe, não sabia que eu era tão feio assim - rimos leve, ele sorriu. 

Puta merda, que sorriso. 

- Sou Sophia, vou começar as aulas de ioga novamente. 

- Sou Mike, muito prazer - demos as mãos - por quê parou de fazer? Desculpe a pergunta. 

- Eu fazia quando estava grávida e voltei a fazer porque estou grávida de novo. 

- Uau, meus parabéns - sorriu - seja bem vinda novamente, acho que seremos bons amigos de turma. 

- Sim, tenho certeza que seremos. 

- Você é muito bonita, a gravidez vai te deixar mais bela ainda. 

- Pare, assim eu fico com vergonha - corei as bochechas. 

- Vai começar hoje? 

- Ah, não, eu - tinha perdido as falas - eu vim só pra atualizar meu cartão, estou voltando pra casa. 

- Amanhã você vem? 

- Venho, certeza - sorrimos. 

- Certo, eu vou reservar alguns colchonetes - andou até a pilha azul pegando dois - nossa turma tem bastante gente. 

- Muito obrigada, de verdade - fugi o olhar, minha intimidade estava aos nervos - eu preciso ir. 

- Tudo bem - cerrou os olhos - até mais, Sophia. 

- Até mais - não queria sair daquela sala, foi uma dor enorme deixar aquele Deus grego acompanhado de colchonetes. 

Quando estava na porta escutei sua voz novamente, lá vinha ele correndo, os músculos dançando em seu braço, como podia ser daquele jeito? 

- Sophia - parou em minha frente sorrindo - você esqueceu isso - me entregou o cartão da academia. 

- Olhe só, deve ter caído da minha bolsa - sorrimos - muito obrigada novamente. 

- Não precisa agradecer - nos encaramos - vejo você amanhã. 

- Tudo bem, até mais - tirei meu olhar do dele saindo porta a fora. 

Tinha mais oitocentos problemas, iniciando esse que seria o pior de todos. 


Apenas me AmeOnde histórias criam vida. Descubra agora