Parte I

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Dona Morte estava exausta, a guerra que se desenrolava lá embaixo, nas favelas e assentamentos, estavam tomando todo o seu tempo. E agora isto, fora convocada para uma reunião com São Pedro! Tanto a se fazer, tantas almas para encaminhar! Mal chegou e já se esparramou na poltrona, São Pedro lustrava sua auréola, parecia tenso. Ainda de costas começou a murmurar, Dona Morte fez chacota, conhecia o amigo há mais de mil anos. No entanto, logo percebeu que o assunto era delicado, ajeitou-se na cadeira e tomou as rédeas da conversa.

- Anda, diga logo o que há! Deixe de meias palavras. Quem devo trazer para cá? É algum ídolo seu? Neymar Júnior, Pelé ou Roberto Carlos?

- Nada disso... Muito pior, minha amiga. Hoje cedo, como de costume, recebi a lista de nomes, e caí sentado quando li um deles. Nunca pensei que este dia chegaria.

- Ora, ora! Cedo ou tarde, todos acabam por ter um encontro comigo. Passe para cá a lista com o nome dos meus clientes. Deixe-me dar uma olhada nos azarados da vez. Eh! Eh!

São Pedro entregou aquele papel amassado. Suas mãos estavam frias, os olhos marejados. Entrou dentro de uma nuvem e desapareceu, procuraria o consolo do Anjo Gabriel. A curiosidade de Dona Morte logo tornou-se amargura, na última linha constava um nome conhecido, não era artista ou jogador de futebol. Ela, então, lançou-se na poltrona, os moribundos teriam de esperar até que ela se recuperasse. 

Fuga da MorteWhere stories live. Discover now