Parte VI

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Marina, como artista que é, decidiu realizar uma exposição dos seus desenhos e quadros na sala da sua casa. O tema era "O Papel das Mulheres nas HQs". Apenas as meninas do bairro foram convidadas para a inauguração, visto que a pintora decidira fazer uma roda de conversa para debater o tema com as amigas. Presentes estavam Mônica, Magali, Aninha, Cascuda e Dorinha. Uau, isso que é time!

- Meninas, em primeiro lugar, gostaria de agradecer a presença de todas vocês. Enquanto preparava esta exposição, cheguei à conclusão de que devemos nos unir, e enfrentar alguns machismos a que somos expostas, como personagens femininas.

- Como assim, Marina? Disseram todas, boquiabertas.

- Vocês já repararam que nós sempre somos descritas como o interesse amoroso de fulano? Magali é caidinha por Quinzinho, Cascuda pelo Cascão, Aninha é feita de boba pelo Titi. E não podemos negar que rola alguma coisa entre você, Mônica, e o Cebolinha.

- Mas qual o problema de eu ser apaixonada pelo Cascão?

- O problema é que nós, personagens femininas secundárias, deveríamos ser mais do que só uma alma gêmea. Queremos nossas próprias histórias, maior participação na turma! Aninha, por exemplo, quantas vezes protagonizou uma historinha? Aposto que Titi ganha de você. E quanto a você, Cascuda? Nós mulheres somos mais do que isso!

- Você está certa, Marina. Estou cansada de ser a namorada ciumenta do Titi. Nenhum roteiro explora a minha paixão por música e animais, meu sonho de ser veterinária, minhas conversas com as outras meninas. Desta forma nunca deixarei de ser uma personagem unidimensional com apenas uma função narrativa... Bancar a louca ciumenta!

- Exato! É disto que estou falando. E também já chega de sermos atazanadas e desrespeitadas por estes meninos! Cebolinha e Cascão não deixam a pobre da Mônica em paz. Titi flerta com todas que cruzam seu caminho, é um galanteador.

- Mas isso eu resolvo num instante. Eu pego o Sansão e dou umas boas coelhadas naqueles dois! 

- Esta é a questão, Mônica. Por que sempre você tem que responder com violência? Não podemos todos sair em uma grande aventura, como amigos? Sermos exploradores, dar destaque aos demais personagens criados pelo Maurício? Afinal, não somos todos filhos dele?

- Vocês estão certas, meninas. E eu gostaria de ser mais do que uma personagem com necessidades especiais. Eu sei que minha inclusão se fez necessária, e que abordar a cegueira em histórias em quadrinho é algo louvável. Mas eu não posso aceitar que me restrinjam a apenas isto. Quero fazer mais do que só marketing social!

As meninas, após muito exporem suas desilusões, deram um grande abraço grupal. Mônica e Magali puderam perceber o sofrimento de ser uma coadjuvante, não ser lembrada ou querida pelos leitores. Decidiram que escreveriam uma carta aberta e que esta seria entregue aos roteiristas. O mundo havia mudado, e elas precisavam pensar e agir conforme as suas atuais leitoras. 

Fuga da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora