Capítulo 17 - Fernando, nosso bebê está...

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Morto.

O médico disse que o bebê estava morto.

— Vamos ter que tirar agora — berrou ele para a equipe que empurrava a maca às pressas.

— Tirar? Do que está falando?! Eu não quero tirar! Ai! Ahh!

Ela se debatia enquanto a arrastavam pelo corredor.

— Tira essa coisa de cima da minha barriga! Eu não quero que você tire o meu filho. Não toca nele! Fernando! Fernando!

Então ela desapareceu do meu campo de visão, me restando apenas a companhia de um enfermeiro irritado e um segurança pronto para me jogar no chão, enquanto minha irracionalidade me fazia gritar impropérios para os dois homens que tentavam me impedir de correr atrás da minha namorada.

O que aconteceu depois que segurei o corpo mole de Sabrina na loja passou como um borrão em minha mente. O alvoroço, várias pessoas ligando para a ambulância simultaneamente, a poça de sangue no chão do estabelecimento, Sabrina agarrada ao meu braço, como se eu fosse a única coisa que a impedia de sucumbir ao completo desespero.

— Já acabou? — indagou o enfermeiro, me encarando furiosamente.

Ele não tinha culpa, não merecia o empurrão inconsciente que lhe dei quando tentou me barrar na recepção. Por isso o segurança foi chamado, para me impedir de continuar avançando pela emergência atrás de Sabrina.

Eu fiquei fora de mim. Vê-la naquele estado, gritando de dor e chamado por mim sem que eu nem ao menos pudesse ficar ao lado dela, me transtornou.

— Me acompanhe — ordenou o segurança.

De volta à racionalidade, respirei fundo e passei as mãos pelos cabelos. Aquela era a parte em que o segurança me escoltaria para fora do hospital. E eu de fato teria sido expulso, não fosse pela aparição da enfermeira chefe, que me reconheceu por causa de quem é o meu pai.

Graças a ela, consegui ficar no corredor, onde teria acesso mais facilmente ao invés de ficar na sala de espera, que é o pior lugar do mundo.

Sem poder fazer nada, me encostei na parede e, de braços cruzados, fechei os olhos. Ali fiquei por longas e dolorosas duas horas.

O bebê estava morto e nem tivemos a chance de conhecê-lo.

A verdade é que, se fosse no começo, eu não me importaria muito. Nem ela. Ambos estávamos assustados demais com a ideia de sermos pais, e com medo de nossos próprios pais. Mas agora, três meses depois, já existia um certo vínculo com aquele ser minúsculo que crescia dentro da barriga dela. Já até discutíamos o sexo do bebê, caramba!

— Quando ela for adolescente e nós três sairmos juntos — dizia ela, duas semanas atrás, noite em que estávamos deitados no grama do quintal da casa dela, acompanhando a posição de Órion no céu — as pessoas vão achar que somos irmãos, ou amigos, mas nunca vão adivinhar que somos os pais jovens e sexys dela.

Mas agora já era.

Eu nunca tinha me sentido tão arrasado e isso que era o mais estranho. Não foi o que eu desejei tanto esses três meses? Que Sabrina não estivesse grávida?

Não desse jeito.

Não isso. Não assim. Estava errado.

De repente me peguei pensando que, agora que era tarde, eu queria. É... talvez uma parte minha quisesse mesmo. Eu queria conhecê-lo. Mas era tarde.

Olhei para o carrinho de cristal em minha mão e quis atirá-lo na parede. Só não o fiz porque estava no hospital.

— Garoto.

Como nascem as estrelasWhere stories live. Discover now