O eco distante de batidas me fez despertar. Meus olhos estavam inchados e por isso tive dificuldade em abri-los. Ao meu lado, Eduardo respirava tranquilamente em um pesado sono vespertino.
Tirei o braço de baixo da cabeça dele sentindo o formigamento tomar conta. Ignorando a dor, peguei meu celular para ver as horas. Cinco da tarde. Arregalei os olhos e me sentei depressa. Eduardo e eu estávamos dormindo desde às onze da manhã.
De onde eu havia tirado tanto sono? E, pior ainda, de onde Eduardo havia tirado? A essa hora era para ele estar correndo pela casa com seus carrinhos ou gritando com a tela da televisão enquanto manuseava o controle do videogame velozmente.
Saímos cedo da faculdade e como estávamos famintos, almoçamos em um restaurante perto do campus onde a comida, além de barata, era muito gostosa. No apartamento, nos deitamos no tapete só para descansar e acabamos pegando no sono.
Mais batidas me fizeram largar o celular e ficar de pé. Quando abri a porta não consegui disfarçar a surpresa ao me deparar com uma mulher alta de terninho, os olhos cor de mel cravados em mim.
— Olá, Sabrina — oposto de mim, ela não parecia nada surpresa em me ver.
— Fernando não está — soltei sem pensar e me arrependi imediatamente por ter sido tão mal-educada.
Ela não esboçou nenhuma reação. Apenas passou por mim e entrou.
— Eu vim para conversar com você — os olhos de águia percorreram ao redor.
— Vovó? — Eduardo veio em nossa direção coçando o olho.
Toda a seriedade da mulher se derreteu em um largo sorriso. Um foi na direção do outro e se abraçaram.
— Oi, meu príncipe — ela se abaixou na altura dele e o apertou em seus braços. — Hummmm... Como você está?
— Com saudade — de olhos fechados, ele parecia estar apertando-a também.
— Eu também. Você não foi mais me visitar! — ela se afastou só o suficiente para olhar para ele, mas continuou o segurando pelos braços.
— Eu pedi o papai pra me levar, vovó, mas ele disse que não podia.
— É, ele anda muito ocupado — ela passou a mão no cabelo dele. — E o que você tem aprontado?
— Mamãe e eu passeamos com Aruk, cê acredita?! — os olhos dele ficaram enormes de empolgação.
— Não acredito que fizeram isso sem mim!
Aquele assunto se prolongou e eles foram parar no sofá, onde Eduardo colocou a cabeça no colo dela e eles engataram em uma conversa só deles.
Sentei-me no braço do outro sofá e fiquei observando. Por fora eu estava tranquila, por dentro, morrendo de curiosidade. O que ela queria falar comigo? Com certeza tinha a ver com o filho dela...
— É melhor você tomar banho, Eduardo, o clima vai esfriar — esfriar que nada, um calor daquele. Mas deu certo, ele disse para a avó que já voltava e saiu nos deixando a sós.
Cruzei os braços e esperei. Como ela não disse nada, só ficou lá me olhando com aqueles olhos dourados que pareciam de ouro, perguntei:
— O que queria falar?
Ela passou as mãos na saia, esticando o tecido impecável, e endireitou os ombros.
— Sabrina, o que está acontecendo entre você e Fernando? — apesar de toda a postura, era um tom amigável na voz dela.
— Estamos do mesmo jeito desde a última vez em que você me fez essa pergunta — minha voz saiu fria e novamente me senti mal.
Diana era a única pessoa que não me culpava pelo fim do casamento. Quando fiquei sozinha em casa, depois que Fernando foi embora, ela aparecia frequentemente, se mostrando uma amiga. Amiga do jeito dela, é claro. Diana não era do tipo que dá o ombro para chorar. Ela fala as verdades na nossa cara, mas está lá quando se precisa dela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Como nascem as estrelas
Teen FictionFernando nunca foi de se meter em grandes encrencas. Com mais maturidade que a maioria dos garotos da sua idade, é reservado e está confortável em seu lugar de anonimato enquanto aluno mediano do ensino médio. Quando conhece Sabrina, tem certeza de...