Prólogo

5.8K 310 39
                                    


Turvolândia, Minas Gerais, Fazenda Esplendor.

Seria um dia normal para todos os funcionários da Fazenda Esplendor não fosse pela notícia da venda e chegada da mais nova proprietária.

Sara Moore, uma jovem linda, no auge de seus vinte e seis anos, recém-órfã de seus pais adotivos, decidiu voltar à sua terra de origem. Ela nunca conheceu os seus pais biológicos, mas isso era o que menos importava para Sara.

Seu sonho de morar em uma fazenda havia chegado após a perda da mãe, Emma, que tinha se entregado à depressão ao perder seu companheiro, Tom, após quarenta anos de casados. Os dois morreram como um passarinho, um infarto os levou dormindo.

Ela estava à procura de novas aventuras, quem sabe até mesmo um novo estilo de vida, depois de viver anos em Nova Iorque. Sentindo o peso da solidão, Sara resolveu voltar para o Brasil. Já era hora de viver por si mesma.

***

Aquela tarde estava quente e bastante abafada, algumas nuvens escondiam o sol que teimava em aparecer, mas já era visível que ao fim da tarde uma boa chuva iria cair.

— Saulo, onde está a dona Sara? Já procurei em toda parte e não consigo encontrar —– perguntou seu Matias, administrador da fazenda há mais de vinte anos.

Por ter tido uma excelente recomendação de Flávio Noronha, antigo dono da Esplendor, Sara convidou seu Matias a permanecer com sua família na fazenda. Ela achou melhor manter o administrador e todos os demais funcionários, já que estavam acostumados com o ritmo de trabalho.

— Saiu aí no Ventania por esses pastos, deu nem tempo de dizer que ele às vezes é arisco por demais... — informou Saulo.

— Será que ela sabe montar? Não quero problemas com a nova patroa, eu disse que ia mostrar os limites da fazenda pra ela — disse Matias, coçando a cabeça, preocupado com moça.

— Quando ela viu o Ventania, só perguntou o nome e logo disse: "Esse será o meu favorito", e saiu galopando por aí afora. Tem culpa não sô — justificou Saulo.

Sara estava encantada com a sua fazenda e seu mais novo companheiro. Foi amor à primeira vista. Ventania era um cavalo da raça Mangalarga marchador caramelo, de cinco anos. Ela não sabia, mas ele sempre foi o xodó da fazenda.

Cavalgando por quase toda a fazenda, Sara começou a se preocupar, pois sabia que logo a chuva cairia. Os trovões estavam cada vez mais altos e ventava forte. Ela não encontrava o caminho de volta. Um raio caiu no descampado. Desde pequena ela tinha medo dessa força da natureza. Sara avistou uma cabana, para seu alívio.

— Graças a Deus achei um lugar para nos abrigar, companheiro.

Sara incitou Ventania a galopar o mais rápido que podia, enquanto já sentia as gotas grossas de chuva começando a cair. A moça desmontou do cavalo, prendeu Ventania em uma área coberta e correu para a porta. Ela batia com força na madeira escura, rezando para que alguém a atendesse. O vento soprava forte, o dia havia virado noite.

A porta foi escancarada e o coração dela quase parou quando viu a figura parada ali. Um homem, aparentando trinta e poucos anos, vestindo calças jeans surradas, botas estilo cowboy, a barba parecendo descuidada a deixou temerosa. . Ele a olhava firme, o cenho franzido, que lhe conferia uma cara de mau.

— Posso saber a quem devo a honra da visita nessa tempestade? — questionou o homem de forma irônica.

Sara, gaguejando de medo e frio, respondeu: –.

— Eu... eu estava na Esplendor e... e acabei me perdendo, desesperada por causa da tempestade... acabei parando aqui. Por acaso esse lugar faz parte ainda da Esplendor? — indagou sem coragem de encará-lo.

— Não, mocinha. Aqui já é a Olho D'Água entre fique a vontade meu nome é Alberto, como chama a moça? — perguntou, querendo lembrar onde já havia visto aquele rosto.

— Sara Moore. — respondeu se sentindo constrangida ao estar sozinha ali com ele.

— Sente-se ou vai ficar ai me olhando com cara de assustada? — Alberto tinha seu jeito bruto de ser e falar com as pessoas, era de um coração bom, ainda que não acreditasse mais no amor.

— Me perdoe, assim que a chuva passar eu vou embora... — disparou as palavras, notando a má vontade do homem.

— Acho melhor a mocinha pousar a noite por aqui, de manhã eu a ajudo a ir para Esplendor. Agora tome essa dose dupla de conhaque, senão vai pegar uma baita gripe. Vou pegar um roupão pra você vestir e vou colocar sua roupas para secar perto da lareira. — entregou o copo na mão de Sara e saiu falando sem nem ao menos a olhar.

Ela bebeu todo o líquido de uma só vez, porém fez uma careta por não estar acostumada com a bebida forte. Após trocar a roupa encharcada, pediu que ele colocasse mais um pouco do conhaque, ao perceber que estava se sentido mais relaxada. Não esperava que Alberto lhe entregasse um copo ainda mais cheio, Sara o bebeu todo, reparando no olhar desafiador dele.

— Você está acostumada a beber? — perguntou dando um sorriso cínico.

— Não, mas estou muito nervosa. Nunca ouvi tantos trovões.

No mesmo instante, um trovão ensurdecedor estourava, fazendo Sara, em um impulso, abraçar Alberto. Ele olhou nos olhos da moça e, percebendo o seu medo, segurou-a forte, para protegê-la.

— Calma, moça, é só um trovão — falou com palavras pausadas, sem tirar os olhos dos de Sara. — Naquele momento parecia que o raio havia caído ali, seus corpos se atraíram para ainda mais perto, toda uma onda de interesse os deixou envolvidos. A cabana, a lareira, toda aquela tempestade lá fora... formou-se um clima entre os dois.

As bocas foram se aproximando, como imãs, e se tocaram. Depois de um beijo demorado de dois estranhos, nada mais era ouvido naquele lugar. Suas mãos acariciavam o corpo um do outro, como se já se conhecessem, causando um sentimento nunca experimentado por eles.

Sara até chegou a questionar-se de forma dura e interna a respeito daquele desejo por um homem estranho, desconhecido, mas se entregou ao sentir as mãos fortes e quentes percorrendo todo o seu corpo, proporcionando sensações extremas.

Nem Alberto estava conseguindo entender que desejo era aquele por uma moça que ele jamais tinha visto. Mesmo que ela fosse muito bonita e atraente, ele nunca foi dado a esses tipos de devaneios. Era um homem muito sério, e embora rabugento, sabia respeitar uma mulher.

Aquilo estava sendo uma experiência diferente para os dois. Não mais podendo se controlar, ambos se entregaram a todo o desejo que explodia entre eles. A sala da cabana com o tapete bastante macio na cor marrom foi o cenário daquela loucura que os consumia como fogo em brasa. Sara e Alberto se amaram tantas vezes naquela noite que, exaustos, adormeceram ali mesmo.

Assim que despontaram os primeiros raios de sol, Sara se levantou com a cabeça bastante pesada, rezando para que o desconhecido que lhe abrigara não acordasse. Vestiu-se rapidamente e olhando o homem que havia lhe amado a noite toda, como nenhum outro, soltou um pequeno sorriso.

— Até nunca mais... — despediu-se mentalmente.

"Amor a Ferro e Fogo" #Completo e #Revisado #Degustação Disponível Na AmazonOnde histórias criam vida. Descubra agora