Capítulo 26

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Não contei nada sobre o que aconteceu para meu irmão e minha cunhada.
Primeiro, que se eu contasse, iria chorar e segundo, que não quero ninguém com peninha de mim. Apenas lhe pedi abrigo por um tempo, falei que meu contrato acabou e que meus olhos vermelhos eram por causa disso.

Quando meu irmão me contou que aquela cobertura era minha e que foi Nikolas Jason, quem a comprou. Eu sorri com tristeza ao me dar conta que eu seria o segredinho sujo dele. No estilo, posso te foder, mas tenho que te esconder porque você é negra e a sociedade não veria com bons olhos um homem do meu patamar com alguém feito você. Escroto!

Isso dói tanto meu Deus! E pensar que a menos de vinte quatro horas, eu me achava a mulher mais feliz deste mundo.

Vou tratar de esquecer essa merda. Apenas eu sou responsável pela minha felicidade e mais ninguém. Quem perdeu foi ele, vida que segue.

Avisei a Isaque que não quero o apartamento, ele sabe que tem mais coisa ai. No entanto, respeitou minha privacidade.

Ficarei temporariamente com meu irmão, à casa dele é pequena e minha cunhada está grávida e já estão decorando o quarto do bebê. Então insisti em ficar com o sofá da sala.
[...]
Dois dias depois que parti. Dennis me ligou oferecendo emprego. Durante nossa conversa, descobri que teria que ver Nicolas algumas vezes e mesmo estando na merda, preferi rejeitar o emprego. Dennis até insistiu, mas realmente não tenho interesse.
[...]
É muito ruim você saber que está incomodando. Hoje mais uma vez fui procurar emprego e nada. É tanta coisa que preciso resolver, que nem tempo para lamentar eu tenho. Procuro ficar o máximo de tempo fora da casa deles para não incomodar mais.
[...]
Enfim algo bom, Miguel me ligou e me ofereceu um emprego. Perguntei logo se seria necessário eu ter contato com o traste e ele me garantiu que não. Mesmo hoje sendo sábado, marcamos de conversar, então vou almoçar com ele em um restaurante em Botafogo.

Me arrumo correndo e saio. Ele me ofereceu emprego como ajudante platô. Uma espécie de faz tudo no mundo do cinema, só aceitei porque ele me garantiu mais uma vez que Nikolas não  tem absolutamente nada com minha a contratação. Miguel é um dos melhores diretores do Brasil, então acho que vou ficar bem.

Trabalhamos com diária. Essa área não assina carteira, somente contrato, mas a grana é ótima. Ele disse que eu tenho espirito de liderança e não travo frente a um problema. Tomara que eu não o decepcione.
Vou ganhar quase cinco vezes o que eu ganhava como enfermeira, se eu trabalhar 26 dias por mês, e olha que nesse meio meu salário nem e tão bom assim, porque ainda estou começando. Entretanto, apenas ganho se trabalhar e o pagamento é quinzenal. Então é hora de arregaçar as mangas e trabalhar.

Ainda estava radiante quando voltava pra casa. Porém, fico super sem graça ao encontrar meu irmão e minha cunhada trasando no sofá, ela corre para o banheiro, sem cor de tanta vergonha, enquanto meu irmão sorri mais sem graça ainda. Talvez, apenas não mais que eu.

Merda! Estou tirando totalmente a privacidade deles. Vou para o portão e minutos depois meu irmão para ao meu lado e me entrega um envelope e dois chaveiros com cinco chaves cada um.

— O que é isso Isaque?

— Essa estava comigo e essa o cara que trouxe o envelope mandou te entregar. — explica.

— Essas chaves são da cobertura?

— São sim Isa. Mas não precisa ir ver se não quiser.

Se fosse há dez minutos, eu juro que jogava tudo no lixo. Mas devido as circunstâncias, resolvi ler. Me sento no portão e abro o envelope lacrado. Dentro tem a escritura da cobertura em meu nome, dois anos de condomínio pago e um envelope menor. Abro e começo a ler...

Isabella Costa da Silva

Receba esse apartamento como um pequeno pagamento pela sua participação no script do filme, como indenização por racismo e principalmente por ter salvo minha vida. Não posso permitir te dever algo. Não pense que é orgulho, é apenas justiça. Sei que um apartamento não vale uma vida e que agora você deve estar imensamente arrependida de ter salvo a minha.
Nem sempre as coisas acontecem como queremos ou planejamos. Seja muito feliz.

Nicolas Jason.

Choro com as chaves na mão e nem sei porquê. Talvez eu só esteja precisando fazê-lo para virar de vez essa pagina. Quando meu pranto cessa, reflito se realmente tenho direito, não pelo script ou pelo assalto, mas porque racismo é um crime que infelizmente em meu país não dá cadeia de verdade.

Entro na casa do meu irmão e minha cunhada está trancada no quarto. Com certeza ainda deve estar envergonhada, então decido aceitar minha "indenização".

Meu irmão me ajuda com minhas malas. Mesmo me deixando à vontade para permanecer em sua casa, sei que no fundo não seria justo com eles, já  que aparentemente, tenho para onde ir. O prédio tem cinco andares e fica na mesma rua onde meu irmão mora, localizado no início da rua, em frente a  uma pracinha bem movimentada.

Entro no apartamento e tem exatamente as coisas que escolhi. Na cozinha tem frutas frescas e a geladeira e armários estão abastecidos. Olho para meu irmão e ele diz que não foi ele. No mesmo instante o celular dele toca, ele tenta disfarçar mas sei que é Nikolas.

Levo minhas malas para o quarto principal que já está arrumado com roupa de cama. No guarda roupa tem roupa de cama, mesa e banho, no armário do banheiro sabonetes, pasta de dente, shampoo, creme pra pentear, sais de banho e até papel higiênico. Tudo das marcas que uso ou aprendi a gostar.

Deus! Ele pensou em tudo.

O mesmo aconteceu na área de serviço.
Entro na sala e meu irmão conta que Nikolas mandou uma equipe deixar a casa abastecida e pronta para me receber. Me entrega um envelope com dez mil reais, que segundo ele, Nikolas  mandou deixar na mesa de jantar e que era para eu comprar o que estivesse  faltando.

Como é possível você estar tão machucada e mesmo assim querer agradecer quem te machucou, porque   de alguma forma ele cuidou de você? —Cuidou porra nenhuma isso é culpa. — Me corrijo.

Meu irmão vai embora e eu volto ao quarto para arrumar minhas coisas. Quando termino tomo um banho de banheira. — Nossa! Eu tenho uma banheira.

Me deito na cama e sem resistir pego meu celular. Abro a galeria e depois de admirar as duas fotos de Nikolas apenas de cueca box. —Tão gostoso esse infeliz! — As apago, do mesmo jeito que pretendo fazer em minha cabeça, no meu corpo e em meu coração.

Depois de lanchar, me deito para dormir.

— Vida que segue.

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💋Beijos da Aline💋💋.

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