Capítulo 57

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Maddy P.O.V

  Cheguei no hotel e fui direto para o quarto sem saber o que me esperava quando entrasse nele. Assim que abri a porta dei de cara com o Henry sentado na cama, com uma carta nas suas mãos.

— Onde estava? — perguntou ainda sem me olhar.

— Em outro hotel. — disse colocando as malas dentro do quarto.

  Ele não ia me bater num lugar que todos pudessem ouvir.

— Vou tomar um banho. — disse indo até o banheiro.

— Rápido. — falou.

— Por quê?

— Porque comprei uma casa e é para lá que nós vamos. — disse e colocou a carta que tinha em suas mãos no seu bolso

— Hm.

  Entrei no banheiro e tirei as roupas as pressas, entrei debaixo do chuveiro e logo já havia tomado meu banho.

  Fui até minha mala peguei uma calça jeans qualquer, uma blusa regata preta e calçei uma bota sem salto. Fiz um rabo de cavalo.

  Fechei minha mala e o Henry já me esperava impaciente na porta do quarto. Ele pagou os quatro dias do hotel na recepção e fomos para o estacionamento. Henry colocou as malas no carro e logo entrei no mesmo.

[...]

  Já passava um pouco das 20:00 quando chegamos lá. Era uma casa um tanto bonita. Ela tinha um jardim com uma caixa de areia na lateral da casa. Mas o que chamava mais atenção era o grande chafariz que tinha no meio do jardim. A casa tinha um acabamento de tijolos lindos e o interior da casa me parecia medieval, com as grandes portas de madeira escura e a cozinha rústica.

  Essa casa me é familiar...

  Tinha uma escada bem no meio da sala que dava para o segundo andar, em nenhum comôdo da casa tinha carpete. A grande varanda me chamava atenção pelo conforto que ela tinha. Sentei em uma cadeira de madeira num canto e vi um pequeno risquinho na laderal da mesma.

  Careta...

— Essa casa... essa casa foi dos meus avós. — disse. — Você não comprou ela. — o encarei.

— A leitura do testamento do seu avô foi hoje. Ele deixou a fazenda para sua avó, a empresa de Chigago para Lydia, essa e a casa de Miami para você. E, essa carta também. — disse tirando a mesma coisa que o vi mexer assim que cheguei no hotel.

— E minha mãe? — perguntei.

— Ele deixou as ações da empresa do Brasil para ela.

— Você abriu? — perguntei pegando a carta.

— Não. — disse. — Meus pêsames, Maddy.

  Ele tentou me beijar, mas por impulso virei meu rosto. Ele puxou meu queixo com força e me beijou, em nenhum momento movi meus lábios.

— Vou deixar você sozinha. — disse e saiu de lá.

  Fiquei um bom tempo passando a carta por entre meus dedos antes de abri-lá. Precisava ter certeza que o Henry não estava ali de verdade. Meu avô poderia ter escrito qualquer coisa ali, poderia ter escrito algo que realmente fosse interessante, ou só mais um de seus sermões. Vi que no papel havia escrito, careta. Era assim que ele me chamava. Então abri.

Nunca fui de escrever, você sabe disso e vou fazer o máximo e a melhor letra para que você entenda, e sem nada de palavras em português dessa vez. Entendo se você estiver confusa assim como todos os outros, não era minha intenção ir embora sem dar-lhe algo que realmente lembrasse de mim. Algo que só você saberia usar, algo que lembrasse de quem seu avô era. Careta, antes de tudo quero que você saiba que tinha saída para essa doença, mas queria viver tudo como antes, viver como se essa doença nunca existisse. Então vou lhe contar como conheci sua avó.

  Meu avô não só foi assassinado, mas também estava doente...

No dia em que a conheci, ela era tão chata, carrancuda e fria, isso você herdou dela perfeitamente, que as vezes ela me fazia desistir, mas eu a amava tanto que quanto mais ela quissesse que eu fosse embora, mais eu me apegava a ela. Então com o passar dos dias e dos anos, pude conhecer o lado carinhoso e doce que ela tinha. Me apaixonei vagarosamente e ela me fazia tão feliz... Ela tinha a mania de me acordar assim que o sol passava das serras, fazia o café e as vezes brigava comigo por não tomá-lo até o final. Assim que eu chegava do trabalho, a observava fazer o jantar por trás da porta enquanto ela cantarolava a mesma música todos os dias. Eu não parava de pensar como seria minha vida sem ela, mas nunca parei para pensar como seria a vida dela sem mim, como seria a sua... Nos momentos difíceis ela estava lá constantemente me ajudando. Quando casamos ela me fez prometer que não a deixaria nunca, mas temia que esse dia chegasse, e ele chegou. Tive a noite mais bonita e intensa da minha vida com ela, o desejo e prazer que tínhamos um pelo outro era tão puro que as vezes me pegava rindo como um bobo. Essas noites ainda me causam um certo arrepio só de lembrar, e então sua mãe nasceu trazendo tudo que eu mais queria, alegria. Anos se passaram e vi minha filha se casar e ter as meninas mais lindas da minha vida, a Lydia e você. Cada vez que levantava e via você dormir como uma criança inocente nos dias de verão, não sabia que um dia você seria um mulher tão segura de si mesma ao ponto de ser tão egoísta. Não me leve a mal minha querida, não falo isso por mal, sempre imaginei que você fosse viver cada dia intensamente como de costume. Você se tornou pedra do seu próprio ser. Amoleça esse coração, deixe alguém entrar. Sei muito bem que esse alguém não é o idiota do Henry.

  Ri ao saber que era isso que meu avô pensava do Henry. As lágrimas eram tão intensas quanto as palavras daquela carta.

Sei que casamento é comprometimento e responsabilidade, mas você nunca foi feita para viver eternamente com uma pessoa só. Você quer voar igual a um pássaro, conhecer pessoas novas, novos amores e sei perfeitamente que você vai encontrar alguém que a faça se sentir amada todos os dias da sua vida. Ele vai te dar tanto amor quanto seu velho avô. Se sentir saudades do seu velho aqui, toque La valse d'Amélie e feche os olhos, sabe que adoro quando toca ela para mim.

"Viva como nunca viveu antes
Ame como nunca amou antes
Se entregue como nunca se entregou
Mas, saiba que sempre tera que levantar e tirar a lama da vossa calça."

Com amor, vovô.

  Olhei no fundo do envelope e tinha outra pequena carta.

Deve se perguntar porque não deixei nenhuma ação para você, compre um lanche com esse dinheiro.

  Peguei o pequeno papel e arregalei os olhos ao ver quantidade de zeros depois de um número cinco.

Quando precisar vá até Portugal e fale com meu advogado.

  Pressionei aquela carta no meu peito e deixei que as lágrimas caíssem, fechei os olhos e abracei meus próprios braços. Isso foi tão bom, essa sensação de alívio, de saber que ele escreveu essa carta para mim, explicando tudo que sentia e tudo que mais queria dizer. Eu o amo tanto. Eu quero que ele saiba disso mais que nunca. Fui até o porão e tirei o lençol do velho piano. Limpei a poeira do banquinho e sentei nele. Toquei as primeiras teclas e senti a música pegar forma, então fechei os olhos e deixei que as lágrimas os lavassem mais uma vez.

Bad Reputation || S. MWhere stories live. Discover now