4 - Evite trocar bilhetes durante a aula

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Assim que eu acordei na terça-feira, um pensamento perigoso pairou sobre a minha mente.

"E se as meninas tivessem contado alguma coisa? Pera. Eu nem tinha falado com elas sobre isso. Então... Será que eu deixei transparecer? Oh, díos mio."

Eu nem conversei com Paulinha direito, tamanha era minha curiosidade mergulhada no medo, apenas saí de casa e me inspirei na velocidade do Flash para chegar até a escola. Isso estava soando estranho demais para o meu gosto.

Mesmo que eu tenha andado um pouquinho depressa, quando cheguei lá, os três já estavam sentados na mesma mesa de sempre rindo de alguma coisa que Lívia mostrava no celular. Eu parei por um segundo para encarar aquela cena.

Gabriel estava lindo como em todos os outros dias do ano. Os raios de sol da manhã iluminavam seu rosto e davam brilho aos seus cabelos. Saquei meu celular do bolso e mandei uma mensagem para ele:

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Consigo ver o exato momento em que o celular treme, ele o pega, lê a mensagem e um sorriso toma conta de seus lábios. Leia de novo: um SORRISO toma conta de seus lábios. Então, ele digita uma resposta.

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Reviro os olhos e ando em direção a eles. Enquanto ando, com as meninas de costas para mim, consigo perceber que o cabelo das duas já está enorme, inclusive o da Lívia que cortou uma vez há três anos atrás e agora vive cortando. Para ela, cortar o cabelo significava sinal de libertação. Na minha opinião, preferia ficar presa às sete chaves do que cortar os meus fios.

Involuntariamente coloco as mãos no meu cabelo para me certificar de que ele ainda está ali. Uma vez sonhei, ou melhor, tive um pesadelo traumatizante, de que eu estava andando no meio do pátio do colégio e todos estavam olhando para mim como se eu estivesse com uma espinha-vulcão ou tivesse mestruado na calça. Só que, na verdade, não havia um fio sequer de cabelo na minha cabeça. Eu estava carequinha. Tem coisa pior do que sonhar com sua calvície prematura?

- Bom dia, piores amigos do mundo – coloco minhas mãos sobre os ombros das minhas amigas.

- Não gostei da parte dos "piores" – Coralina resmunga.

- Ah, vocês são os piores sim – eu digo sorrindo e olho diretamente para o meu secreto crush – O que foi que você aprontou? - Coralina deu um gritinho animado ao meu lado e Lívia começou a pular e ambas pedindo ao Gabriel para que ele contasse a tal proeza. Ele não disse nada, apenas se levantou.

- Contar o quê? – ele enfiou suas mãos nos bolsos da calça e fez uma carinha de santinho, inocente, gatinho do Shrek, anjo da paz.

- Como assim "contar o quê", meu filho? – cruzo os braços já ficando irritadiça com aquela enrolação toda. Se era segredo que não me contasse que tinha um segredo, ué.

- É. Não sei pra quê esse drama todo – Coralina tomou meu lado na história.

- Aqui, ó – Gabriel gesticulou um 'pare' com as mãos – Fui eu que "aprontei" não foi? – fez as aspas no ar – Então, eu faço o drama que quiser. Agora, - ele se abaixou, pegou a mochila e coloco-a nas costas – Me deem licença que eu tenho uma aula para assistir.

Eu poderia ter gritado que estava de saco cheio daquela palhaçada? Poderia. Eu poderia ter corrido atrás dele, o torturado e obrigado ele a falar? Poderia. Mas permaneci com minha cara de taxo enquanto Lívia e Coralina reclamavam de sua falta de educação.

Decidi ignorar Gabriel por todas as aulas, mas, já na última aula do dia, um bilhetinho aterrissa na minha mesa e eu não tenho dúvidas de quem o enviou.

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