7 - Se recupere

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Quando eu era mais nova, mamãe sempre foi muito presente na minha vida. Ainda que meu pai já trabalhasse em alto mar naquela época, quando ele estava em casa era pura diversão. Nós saíamos juntos, só nós três, como se nada mais existisse e tivesse importância no mundo.

Porém, conforme os anos foram se passando, as coisas começaram a mudar totalmente de cenário. Papai ficava mais tempo fora e mamãe foi ficando aos poucos ausente até que ela só aparecia em casa para jantar e dormir.

Eu nunca tentei conversar com ela sobre isso. Na minha mentalidade infantil e esperançosa as coisas voltariam ao normal, era só ter paciência para esperar.

A ingenuidade na infância é como uma lagarta no casulo. Ela está viva, porém sem realmente saber as dificuldades que terá que enfrentar quando se tornar uma borboleta, quando se tornar uma adulta.

Não que eu me considere uma adulta, porque eu não sou. Mas, quase sempre tive que agir como uma para resolver as coisas sozinha ou com a ajuda da Paula. Isso não me tornou independente de fato, só me fez sentir cada vez mais falta de quando a vida era apenas brincar de boneca.

Eu sabia que o episódio do hospital me faria escutar bastante do meu pai e, mais cedo ou mais tarde, eu teria que vestir meu lado pré-adulto para lidar com a situação da forma mais sensata, outra vez. Ou eu agiria como a adolescente dramática que sou e partiria para o lado sentimental da coisa.

Porque Deus é muito bom, o Senhor Medina não puxou esse assunto logo de cara. Na verdade, ele evitou ao máximo. Estava ocupado demais reparando em cada detalhe do meu rosto e repetiu diversas vezes que eu estava mais bonita do que nunca.

- Eu senti tanto a sua falta – abracei-o relembrando seu cheiro característico.

O cabelo dele já não era mais castanho, por incrível que pareça. Invés do tom escuro habitual, seus fios estavam claros, quase brancos. Ele tinha ganhado um pouco de peso também, o que deu um toque mais sadio para o físico dele. Fora isso, tudo estava perfeitamente do jeitinho que eu me lembrava.

- Sabe o que vamos fazer hoje? – ele sorriu me puxando para sentar ao lado dele no sofá – Vamos ao boliche, tomar um sorvete, comer um hambúrguer, pegar um cineminha.

Eu e Paula rimos das coisas que ele listava com os dedos. Estava com saudade dos planos dele também.

- Não acha que o senhor devia descansar primeiro? – perguntei cruzando os braços.

- Você acha isso, Paula? Porque eu não acho – foi sua resposta seguida de um sorriso sincero e brincalhão.

- É sério, pai – apelei para o tom de filha preocupada – A viagem foi longa, pode descansar. A gente faz tudo isso amanhã. Ainda tenho um dia de atestado.

De repente, seu tom ficou sério e preocupado. Ele puxou meu rosto para perto e analisou meu nariz.

- Falando nisso, que confusão você se meteu, hein? – ele me deu um tapinha na perna – Quem consegue acertar o rosto em uma pedra? Era a pedra do jardim do Pé Grande, é?

- Não foi por querer. E a pedra era grande mesmo. Pelo visto, os pais do Gabriel acham uma incrível decoração ao ar livre – ri dando de ombros.

Meu pai olhou para a Paula, que lia uma revista no sofá fingindo não escutar a conversa, e depois para mim de novo.

- Gabriel, é? Quem é esse rapaz que eu não conheço?

Sabe o pimentão? Aqueles bem vermelhinhos que sua mãe, vó, tia, compram na feira aos sábados? Devo ter feito o melhor cosplay dele de tão corada que imagino ter ficado.

- É um amigo do colégio – Paula veio ao meu socorro, mas sabia que internamente estava dando altas gargalhadas da minha cara – Só um amigo – ela frisou muito bem a última palavra.

Estava na cara que o Senhor Medina estava um pouco desconfiado, mas não comentou mais nada durante o resto do dia. Eu que não ousaria introduzir uma conversa sobre esse assunto. Já pensou? Seu pai acaba de voltar de viagem e você já começa a atualizá-lo sobre o crush do momento? Se for pra falar de garotos com o meu pai, vamos falar do Zac Efron, que aí ele pensa que sou uma adolescente iludida e apaixonada por um cara que eu nunca verei na vida.

- Então, você está em reforma? – ele entrou no meu quarto, depois de algumas horas, me achando jogada na cama com um livro em mãos.

- Comecei – guardei o livro na cabeceira e me sentei em posição de índio – Mas não estou muito animada para continuar agora.

- Que tal pedir ajuda a sua mãe? Ela é a melhor design da região, né? – percebi que ele falou sem pensar e nem notou o que tinha de fato falado, continuou a analisar meus objetos de decoração e a folhear o guia de cores que Lívia tinha me dado – Tá na moda agora decoração de flamingos, né? Por que não usa de referência?

- A mamãe tem falado com você? – mudei drasticamente de assunto sem olhá-lo nos olhos.

- Como, querida? – ele largou o folheto e caminho a passos lentos até a cama.

- A mamãe...

- Ela não te contou, né? – ele interrompeu passando as mãos pelo cabelo.

Com aquelas palavras eu percebi que meu casulo estava quase se rompendo. Algo dentro de mim se remexia prevendo que a notícia me deixaria devastada. Mesmo assim, uni forças para encarar seja lá o que eu tivesse que encarar.

- Não contou o quê? – engoli em seco.

- Sua mãe pediu divórcio faz uns dois meses – ele jogou a bomba sem nenhum aviso prévio de explosão – Eu não sei o que fazer, querida.

Em menos de um segundo, meu pai começou a chorar descontroladamente na minha frente. Minha reação foi apenas olhá-lo tentando entender o que de fato aquilo significava, embora eu já soubesse o quê.

O divórcio tinha se tornado comum no século XXI, os pais da Júlia tinham quase assinado um papel, mas, no fim, o amor sempre vence, não é mesmo?

Eu até entendia a questão dos pais dela. Caramba, a mãe foi traída e entrou em uma profunda depressão. Agora, qual o motivo que havia levado minha mãe a pedir a separação?

Eu não sabia como consolar o meu pai. Minha visão estava presa no nada, enquanto minha mente repassava flashbacks de situações que indicavam que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, mas eu estava imersa demais na esperança para enxergar.

Quando meu pai viu que eu fiquei em uma espécie de estado de choque, ele me levou no colo até a cozinha e Paula me deu água com açúcar para beber. Depois disso, as lágrimas começaram a cair. Primeiro, silenciosas e, então, descontroladas.

Acho que ninguém está pronto para isso. A verdade é que muitas pessoas pensam que o casamento é sólido demais para se derreter. Eu sou uma dessas pessoas. Apesar de que todos, sim, devem ser firmados no amor, alguns acabam se esfriando. Mas, eu ainda continuava em negação. O casamento dos meus pais, Senhor e Senhora Medina, não podiam acabar de uma hora pra outra.

- Isso não pode acabar sim – apertei a mão do meu pai pela enésima vez.

- Querida...

- Não, papai, não vai acabar assim.

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{Nota da Autora}

Que medo que eu tô de perder vocês. 

Já vou começar minha nota assim, porque é o que ando pensando ultimamente.

Amores, minha vida anda tão corrida e descontrolada que eu tô ficando louca, de verdade. É muitaaa coisa pra fazer todos os dias que eu quase não tô tendo tempo pra mim mais. E peço desculpas por isso, por ter deixado vocês na mão. Espero que esse capítulo, por mais que tenha sido de desmoronar a Lelê e todos nós, possa compensar vocês. 

Não tenho capítulo pronto, mas prometo não ficar demorando muito pra postar e, mais uma vez, NÃO DESISTAM DE MIM!

AMO VOCÊS

- maria

PS: vai ter especial de 10k no primeiro livro, chama os amigos pra leeeeerrr 

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⏰ Last updated: Mar 03, 2018 ⏰

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