Onze

3.9K 641 223
                                    

N/A: A história "O garoto e a sombra" é de minha total autoria, inventei ela especialmente para esse livro.  

O garoto e a sombra

A raiva que Augustus me dirigia era quase palpável.

Ele se levantou, jogou o maço de cigarros no chão e caminhou na minha direção em passos lentos. Eu havia recuado um passo, mas me repreendi e me obriguei a ficar parada mantendo meus olhos nos dele.

De todas as coisas que meu pai havia me ensinado, manter olhos nos olhos era a única que eu guardava. Talvez por que tenha sido seu único conselho para mim.

—Ninguém, —ele começou parando a poucos centímetros de mim— me humilha de tal forma e sai rindo.— ele disse, segurando meu braço.

Estreitei meus olhos sobre ele e puxei meu braço com força:

—Você vai precisar se acostumar com as mudanças, pois elas são constantes.— disse com os dentes cerrados.

—Solta ela, Clark.— a voz de Ian soou autoritária atrás de mim.

Eu quase podia sentir seu peito roçando em minhas costas.

—Sabe o que eu acho? — Augustus perguntou, soltando meu braço devagar. —Que essa trégua já durou muito tempo. Ela não vai acabar hoje, mas muito em breve.— disse ameaçador. —E quando ela acabar, não vão haver regras para salva-los.

—Para de ser menininha, droga! Você quer foder com a vida de todo mundo e sair rindo? — perguntei já pronta para pular em seu pescoço.

Eu nunca conseguia controlar a minha raiva, então ela agia por mim.

—Alice, calma!— Noah disse se colocando entre mim e Augustus.

—Relaxa Collin, ela não morde.— disse Sarah se aproximando com um sorriso debochado.

Aquela era a deixa. Toda a raiva que eu havia guardado naquela semana começou a transbordar e a se misturar com a raiva que eu tinha guardado de Sarah anos atrás.

Empurrei Noah e fiquei a frente dela, encarando seu sorriso cínico e desafiador.

—Você tem razão, eu não mordo mesmo. —disse fechando a mão em punho. —Faço melhor.

Eu não sabia se era força ou raiva o que tinha feito meu punho acertar o nariz de Sarah com tanta força, mas era bom. Muito bom.

Chacoalhei minha mão sentindo ela doer, mas ignorei quando olhei para o nariz de Sarah que jorrava sangue sabendo que provavelmente, ele estaria doendo muito mais que a minha mão.

Olhei em volta, vendo as pessos e conversando normalmente, como se nada daquilo estivesse acontecendo e então me virei pronta para sair daquele lugar.

—Essa é a segunda vez que você se coloca em meu caminha Alice O'Connor, o que você não sabe é que dessa vez não vai ter aquele amiguinho para te proteger. — a voz de Sarah soou abafada atrás de mim.

Virei-me para ela e sorri ao ver sua mão sobre seu nariz:

—Nós duas sabemos que ele nunca me protegeu. —falei e ela sorriu.

—Ele nunca precisou não é mesmo? Mas agora o cenário mudou e eu tenho quase certeza que seu papai não vai te ter de volta inteira.

Dei de ombros e voltei a caminhar para longe daquela sala.

Eu não queria ir para o meu quarto, mas lembrei que hoje era sábado e sábados eram dias difíceis para Bryan, e isso me fez correr. Corri como nunca e cheguei a tempo de ver meu celular parar de tocar e então começar novamente.

Aly!— ele disse animado.

Como vai campeão? —

—Eu tive que jogar sozinho hoje.

—Ganhou dos garotos?— perguntei jogando-me na cama, enquanto reprimia um longo suspiro.

—Claro, eu sou um O'Connor, e tive a melhor treinadora de todos os tempos! — ele gritou animado.

—O'Connor, —eu ri — vai acordá-los.

—Eles não estão aqui Aly...— disse e eu senti que toda sua animação havia desaparecido.

Por um segundo eu tive esperança de que meus pais não destruíriam Bryan também, mas tão rápida quanto surgiu, ela desapareceu.

—O garoto e a sombra.— ele cantarolou mudando de assunto.

—Tudo bem, tudo bem. — eu ri. —Está preparado campeão?

—Eu nasci preparado.— ele disse me fazendo rir.

—Dentes escovados? — perguntei.

Dez vezes de cada lado. Agora começa Aly! —

—Havia um garoto que odiava a escuridão, dizia que nela ele estava realmente sozinho. Ele acreditava cegamente que a escuridão tirava sua única paz: a de ter uma amiga.
As pessoas costumavam dizer que ele era maluco, pois vivia á conversar com a sua própria sombra, às vezes parecia até mesmo dar a mão à ela.
A teoria da loucura era sustentada principalmente por ele ter crescido sozinho e praticamente se criado, para eles, não seria difícil um garotinho enlouquecer por culpa da solidão. Mas tudo o que importava para o pequeno garoto era ter sua sombra. A noite, em seu quarto na velha pensão, ele deixava uma luz acesa, para poder conversar com sua sombra e não se sentir sozinho. As pessoas que moravam na velha pensão costumavam dizer que haviam noites em que ele ficava acordado a noite inteira conversando com sua sombra e rindo.
Ele acreditava que aquela era sua a alma, mas não percebia que estava se apaixonando por algo que partiria seu coração assim que todas as luzes se apagassem e a realidade  o atingisse.
E um dia aconteceu. Um dia todas as luzes realmente se apagaram e a realidade veio como um tapa.
Em um dia escuro ele sentiu um soco chamado realidade e nesse dia ele caminhou até uma ponte distante ainda conversando com sua sombra e já no parapeito ele olhou para o céu do meio dia, segurou a "mão" de sua sombra e pulou.

Qual a moral Aly?Bryan perguntou sonolento.

Amanhã eu te conto, vai dormir.— respondi depois de um tempo calada.

—Você não vai me contar, vai?ele perguntou.

Você vai ter que esperar para descobrir.

Sempre que Bryan me perguntava a moral eu ficava um tempo calada e dizia para ele tirar suas próprias conclusões, mas a moral era clara para mim:

A solidão te enlouquece,
A tristeza te rasga e o amor só nasce por pessoas que vão te quebrar em milhões de cacos diferentes.

A parte que eu nunca contei ao meu irmão é que "O garoto e a sombra", na verdade era uma história real, inspirada em uma garota triste, perdida e principalmente sozinha.

OOOII MEUS AMÔ💙

Como vocês estão?

Espero que estejam gostando💙

Desculpa a falta de revisão e o capítulo curto.

Amo vocês💙

Vermelho é a cor da confusão! Where stories live. Discover now