III

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Emma morava sozinha há um ano e alguns meses. Antes dividia sua casa com Pedro, o mesmo da ligação. Em sua memória só ficara as boas lembranças, milhares risadas gostosas que deram ao assistirem filmes de terror, riam da forma como os atores se comportavam iguais a de outros filmes, as burrices que cometiam ao caírem nas emboscadas dos vilões. Lembrara das vezes que transavam, a conexão que existia, o contato entre os corpos, como se conheciam, enfim, agora só restava imagens.

Ela é escritora, mas não é muito conhecida, apenas alguns leitores estrangeiros, já que escreve romances regionais, porém em inglês. Como a profissão não lhe rendia uma boa condição ou a permitia se sustentar com o pouco dinheiro, dividia os gastos com o companheiro.

Ele era sócio de um bar underground, junto com seu ex colega da universidade, o lugar não era muito visitado, a maioria dos clientes eram amigos que não aguentavam a correria do cotidiano e procuravam o local por ser acessível e confortável, era o único estabelecimento, na verdade, que podiam ir nas horas livres. O nome do bar era Deniel's.

A união acabou por enjoo, segundo ela. É complicado de entender, num momento de suas vidas, eram o casal ideal, perfeito, mas com tudo no mundo tem um fim, ou quase tudo, não tiveram outro caminho.

Ela continuou morando no mesmo lugar, ele passou a morar e trabalhar no bar, havia um quartinho nos fundos, antes era usado para estoque de bebidas, agora guarda também um coração desolado.

Emma teve que se virar para poder bancar sua moradia, conseguiu um emprego numa revista, contatou algumas pessoas, velhos amigos da universidade, que lhe ajudaram com isso. Passou, então, a escrever artigos para a revista Natureza, uma revista que retratava as relações humanas, era um tema de seu interesse, pois tinha muita curiosidade para compreender como funcionava, tendo em vista que ela até já tinha lido alguns livros de filósofos, como Nietzsche e Bauman. Tudo a encantava, o mundo e, consequentemente, a natureza. Estava em casa trabalhando para a revista.

Paulo sempre ligava, às vezes só queria saber como ela estava, mas nunca perdia a chance de tentar mudar a ideia de Emma, ela não se conformava com o fim, ou apenas queria um recomeço.

Algumas vezes, ela se excedia no vinho e acabava ligando para ele:

— Passa aqui em casa, mas só hoje, SÓ HO-JE!

Ao acordarem, nas manhãs seguintes, a dureza dela voltava, fazendo-a se arrepender do que tivera feito. Mandava-o ir embora e nunca -NUNCA- mais voltar.

Viúva negraWhere stories live. Discover now