Quero substituí-lo

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 Era a segunda vez que alguém era expulso da clareira. Mas eu não aguentava mais. Minha vontade era de pular no pescoço de Alby e gritar que aquela regra era ridícula, que Ben era nosso amigo e que não podíamos fazer isso com ele. Era desumano. Eu também tinha a confiança que podia curar ele. Não sei bem como, já que pelo estado em que ele estava, não havia como curá-lo, mas eu devia tentar pelo menos.

Porem a imagem de Ben avançando para cima de mim não saia da minha cabeça. Se fosse ele mesmo, ele nunca iria fazer isso comigo. Senti uma dor no peito só de pensar em assistir ele sendo expulso.

Eu não podia deixar que isso acontecesse. E acho que os clareanos sabiam muito bem que eu iria impedir. Por isso, me seguraram forte. Newt segurava meus braços com força e, mesmo sendo em vão, eu me debatia muito em seus braços. Mas acho que meus gritos não foram bons para ele, já que Thomas o substituiu.

-Eu não fiz nada! – Bem gritava desesperado assim que percebeu o que estava acontecendo – Eu vou melhorar! Eu prometo! Me ajuda!

Senti umas lagrimas rolarem por meu rosto. Ben era um garoto tão bom. Me arrependi de não ter dado mais atenção do que ele merecia. Me arrependi de não ter tratado ele da mesma forma que ele me tratava, me olhava.

-Emily! – ele continuou a gritar – Me ajuda!

Nossos olhares se cruzaram, mas aquele olhar não era do Ben que eu conhecia.

-Tira ela daqui – Newt pediu para Thomas.

Com isso eu fui arrastada para dentro da Sede. Não assisti, nem ouvi nada. Permaneci em silencio, só tentando imaginar o que estava acontecendo do lado de fora, o que iria acontecer com ele dentro do labirinto e em como era cruel fazer isso. Admirava muito os clareanos por terem um equilíbrio psicológico para isso.

Senti uma mão no meu ombro. Era Thomas. Com aquele simples movimento, ele me trouxe uma sensação de porto seguro e, quando eu vi, estávamos abraçados.

Um tempo depois Chuck apareceu.

-Não quero ver também – ele disse e se juntou a nós.

Com isso ficamos os três em silencio, abraçados e esperando.

Alby e Newt apareceram um tempo depois. Ambos com um olhar de culpa, dó e tristeza. Então eu soube que já estava feito. Ben estava morto.


Ouvi batidas na porta do meu quarto. Não tinha ido jantar naquele dia. Newt entrou com uma bandeja não mão.

-Não estou com fome – eu disse me deitando na cama.

-Sinto muito pelo o que aconteceu hoje – ele disse de uma vez.

Sorri em resposta.

-Sabe que amanhã vamos voltar à rotina normalmente, né? – ele continuou.

Fechei os olhos com um pouco de raiva. A ideia de voltar tudo ao normal como se nada tivesse acontecido me deixava brava. Acordar sem os elogios de Ben, não treinar mais com ele. Se tinha alguém que confiava em mim, era Ben. E eu precisava falar sobre isso com outra pessoa agora.

-Quero substituir ele – disse de uma vez.

Newt me olhou com um olhar que foi difícil compreender. Primeiro ele tentou entender o que eu realmente tinha dito, depois ficou processando a informação e por fim ficou com raiva no olhar.

-O que disse? – ele disse se endireitando ao meu lado.

-Quero ser corredora, posso fazer isso – eu disse de uma vez me endireitando com ele.

-Você está louca? – ele elevou o tom de voz – Você viu o que aquele lugar fez com o Ben! É perigoso!

-Mas é a nossa única saída – eu disse.

-Você não vai entrar lá!

-Eu posso fazer isso! Você sabe! Pensei que confiava mais em mim!

-Não! Você não pode! Não sabe como as coisas funcionam lá dentro. Sei que você está de luto e quer honrar Ben, mas precisa pensar direito.

-Newt – eu disse segurando suas mãos – Algo me puxa para lá dentro. Parece que eu vim para cá com esse objetivo! Eu sei que posso fazer isso! Minho sabe que posso, Ben sabia, eu só preciso que você saiba também! – respirei fundo – Eu sei mais do que você pensa, Ben me ensinou algumas coisas e...

-Você andou treinando? – ele respondeu bravo soltando as minhas mãos.

Newt levantou na cama claramente bravo. Fiquei em silencio em resposta. Sabia que ele não estava gostando nada daquilo.

-Posso fazer isso – disse mais uma vez.

Newt fechou os olhos tentando se acalmar. Nunca tinha o visto daquele jeito.

-Eu pedi para você não pensar em entrar naquele lugar. É traiçoeiro! Não é feito para você! Já temos pessoas para essa função! Só pedi isso para você... Mas agora você vai saber o que te espera.

Newt agachou e levantou um pouco da calça dele.

-Ta vendo isso? – ele gritou apontando para seu tornozelo – Como acha que eu fiquei manco? Quando eu era corredor, fiquei tão maluco com tudo que estava acontecendo que pensei em desistir.

Fechei os olhos tentando segurar as lagrimas. Eu não queria que ele contasse essa história. Sempre quis saber o porquê dele ser manco, mas não estava ajudando em nada. Cortava meu coração ouvir aquilo.

-Me joguei de um muro sem dó – ele continuou – E acabei ganhando isso. Por isso eu sei como aquele lugar é. Você precisa manter sua sanidade, sua humanidade. E aquele lugar tira tudo isso de você.

Ficamos em silencio por um tempo. Sequei as poucas lagrimas que se enchiam em meus olhos com a mão. Um clima muito tenso estava naquele quarto.

-Espero que tire essa ideia maluca da cabeça – ele disse indo em direção a porta, claramente abalado.

-Você não pode decidir por mim – eu disse.

-Na verdade – ele disse – Eu posso sim. Sou vice-líder daqui. E você não será corredora.

Um pouco de raiva cresceu em meu peito, mas achei que aquele não era o momento para gritar com ele mais uma vez.

-Me desculpa pela sua perna – eu disse calma – Parte meu coração ouvir isso. Mas já disse que não preciso que você me proteja.

Newt olhou mais uma vez para mim. Em seus olhos eu via agora algo que partiu muito mais o meu coração: decepção comigo.

E em um movimento rápido ele saiu do meu quarto, fechando a porta com tudo.

A garota da clareira (Maze Runner)Onde histórias criam vida. Descubra agora